André Marie Ampère
(Físico)
1775 - 1836
As entidades científicas das nações européias tinham uma preocupação constante: eleger como membros honorários ou mesmo presidentes, igualmente honorários, seus respectivos reis e imperadores. A Academia Francesa de Ciências não escapou à regra, e foi assim que Napoleão Bonaparte passou a fazer parte da grande instituição. Por uma série de motivos, entre os quais a pouca disposição do imperador em assistir a longos debates científicos, sua assiduidade às sessões da Academia não poderia ser das maiores. Na verdade, consta que ele só compareceu ali uma vez, para agradecer a honra da eleição.
Nesse dia, um dos acadêmicos expunha a seus confrades algumas conclusões a que chegara em suas experiências. Julgando inoportuna a presença de um estranho no recinto da assembléia, solicitou sua expulsão sumária. O "intruso", porém, não se sentiu ofendido diante da distração do cientista, e convidou-o para almoçar em sua companhia. O acadêmico agradeceu a Napoleão a honra inusitada e prometeu que estaria nas Tulherias no dia seguinte, à hora marcada. Ao imperador, porém, estava reservada uma segunda surpresa: o cientista, fazendo jus à sua fama de distraído, deixou-o esperando em vão, a mesa posta.
O autor da desfeita, imperdoável para o comum dos mortais, foi André Marie Ampère, que, graças a seus estudos sobre o eletromagnetismo, abriu unia nova trilha para o conhecimento da eletricidade.
Ampère nasceu em 1775, em Polemieux-Le-Mont-d'Or, uma herdade próxima a Lyon. Seu pai, abastado comerciante nessa cidade, tinha em mira proporcionar-lhe uma educação tão completa quanto possível, inclusive uma sólida formação religiosa. Como não queria que o filho adquirisse, ao lado dos ensinamentos religiosos, uma carga adicional de preconceitos, resolveu supervisionar ele próprio essa educação, confiando na ajuda de uma vasta biblioteca, que Ampère, aos onze anos, já havia lido inteiramente.
Depois da biblioteca paterna, o jovem passou a estudar matemática, começando pelas obras de Euler e Bernoulli, tarefa difícil para o principiante, pois requer um conhecimento prévio sobre ramos bastante complexos da matemática. Além disso, Bernoulli escrevera suas obras em latim, língua que Ampère desconhecia. No decurso de poucas semanas aprendeu esse idioma com o pai e, no mesmo período de tempo, adquiriu rudimentos de análise infinitesimal com o bibliotecário do colégio de Lyon. Assim, a exemplo de Pascal, aos doze anos já podia escrever um tratado sobre as seções cônicas.
Todavia, o campo de interesses de Ampère não se limitava à matemática: lia Virgílio no original e começou a estudar botânica, atividade que nunca abandonou. Aos dezoito anos de idade leu a recém-editada Mecânica Analítica, de Lagrange, refazendo, sem qualquer orientação, todos os cálculos constantes do texto.
Segundo seu filho Jean-Jacques, Ampère sofreu três importantes influências, que lhe nortearam constantemente a vida intelectual. A primeira foi o cartesianismo, que regeu sua atividade científica e pensamento filosófico. A segunda foi a religião, que sempre conseguiu conciliar com a Ciência. Finalmente, a terceira foi o advento da Revolução Francesa em 1789, quando ele tinha catorze anos.
Seu pai, guilhotinado quatro anos depois, na época do Terror, foi uma vítima da Revolução que, apesar disso, continuou alimentando os sentimentos liberais de Ampère.
Em 1799, casou-se, e em 1803 publicou sua primeira obra matemática: Ensaio sobre a Teoria Matemática do Jogo. Graças a ela, foi-lhe conferida a cátedra de matemática em Lyon. No ano seguinte, foi nomeado instrutor de análise matemática na Politécnica de Paris; em 1806 tornou-se inspetor consultivo do Liceu de Artes e Ofícios, e, em 1808, inspetor-geral da Universidade, cargo que ocupou até a morte; em 1809, passou de simples instrutor a professor de análise matemática e mecânica na Politécnica, e em 1814 foi eleito para a Academia de Ciências, na seção de matemática. O ano de 1820 veio encontrá-lo como professor de filosofia na Faculdade de Letras de Paris. O último cargo que exerceu foi o de professor de física geral e experimental do Colégio de França.
Apesar de ter lecionado por tantos anos, não se distinguiu nessa atividade, e tudo indica que sua vocação não era o magistério.
Ampère teve uma vida amorosa conturbada, pois sua primeira mulher, por quem nutria uma grande paixão e que lhe deu um filho, morreu poucos anos após o casamento. Casou-se novamente e teve uma filha, porém o segundo matrimônio o empolgou bem menos do que o primeiro, como se pode deduzir de suas próprias palavras: "É preciso escolher entre a amizade e o amor; será a amizade para sempre".
A 18 de setembro de 1820, Ampère apresentou à Academia suas primeiras observações sobre a ação magnética das correntes elétricas. O interesse pelo assunto lhe fora despertado na sessão anterior da Academia, quando Oersted divulgou seus primeiros trabalhos referentes ao magnetismo. Em poucas semanas, Ampère demonstrou que as correntes elétricas se atraem ou se repelem mutuamente, descrevendo também as leis que regem o fenômeno. Essa descoberta eliminou da Ciência a idéia dos "fluidos magnéticos", entidades obscuras e misteriosas, que eram responsabilizadas pelas propriedades magnéticas da matéria.
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