97% dos adolescentes fazem dieta inadequada
É o que mostra pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP
Pesquisa da USP realizada com 1.584 adolescentes de ambos os sexos demonstrou que 97,1% deles fazem uma dieta inadequada. O estudo, premiado no III Encontro de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foi realizado para a dissertação de mestrado Índice de qualidade da dieta e seus fatores associados em adolescentes do Estado de São Paulo, de autoria da nutricionista Samantha Caesar de Andrade, da Faculdade de Saúde Pública.
Segundo ela, o comportamento alimentar adotado na adolescência é de extrema importância, por ser essa uma fase da vida de aprendizagem e formação. “Os costumes adquiridos nesse estágio constituirão a base da prática no futuro”, afirma. A pesquisadora chegou à conclusão de que a qualidade da dieta está associada a melhores condições socioeconômicas e idade. “Conhecendo esses fatores é possível adaptar políticas e programas de nutrição para atingir as necessidades dessa população, prevenindo, principalmente, as doenças crônicas não-transmissíveis na idade adulta”, informa.
Parte de uma população total de 286.423 indivíduos, os 1.584 jovens ouvidos, com idade entre 12 anos e 19 anos e de classes sociais diferentes, fizeram parte do Inquérito de Saúde de São Paulo (ISA-SP), realizado em 2001/2002. Ele abrangeu quatro áreas do Estado: distrito do Butantã, região sudoeste da Grande São Paulo, municípios de Campinas e Botucatu. A maioria é natural do Estado de São Paulo (83,3%), reside em casa (86,4%), com condições de habitação e entorno adequadas (72,9% e 65,2%, respectivamente).
O Índice de Qualidade da Dieta (IQD) é uma medida resumo de características da alimentação, na qual o consumo de alimentos é considerado em relação aos seus nutrientes, em função das recomendações de um Guia Alimentar, elaborado em 1999. Nele, os seis primeiros componentes são representados pelos grupos de alimentos, três componentes são representados pelos nutrientes (gordura total, colesterol e sódio) e o último pela variedade da dieta.
O valor máximo que o índice pode atingir é 100 pontos. Até 50, classifica a dieta como inadequada, de 51 a 80, com necessidade de modificação e, a partir de 81, como saudável. A média de IQD alcançada foi de 59,7 pontos. Apresentaram-se mais baixos os valores médios dos componentes do índice para frutas, leite e derivados, verduras e legumes.
Os adolescentes do sexo masculino, praticantes de exercício físico e que residem em casa ou apartamento, foram responsáveis pelos maiores IQDs.
Outra constatação foi que os adolescentes residentes em casa ou apartamento têm um índice maior que os residentes em barraco ou cortiço, independente da idade e ingestão de energia. Somente em 2,9% dos jovens foi constatada a adoção de dieta considerada saudável.
Esse valor é inferior ao observado na população adolescente americana (10% de classificação saudável) e cerca de duas vezes superior ao resultado encontrado na chilena (1,5%). A população adulta brasileira também está à frente em ocorrência de dieta saudável, com 5%.
Trata-se do primeiro estudo brasileiro de base populacional que procurou mensurar a dieta de adolescentes de forma qualitativa, com elementos e fatores associados. A utilização do IQD como uma medida resumo permitiu a avaliação em padrões internacionais.
Incentivo à pesquisa
O Encontro de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, no qual o estudo foi premiado, é a terceira edição de uma realização das Comissões de Pesquisa e de Pós-graduação da FSP/USP. Aconteceu no dia 7 de dezembro, com a participação de 27 pesquisas inéditas de alunos de graduação, mestrado e doutorado.
O evento foi criado em 2005, por iniciativa conjunta das duas comissões, com a finalidade de divulgar os trabalhos de pesquisas realizados pelos alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da faculdade. Uma comissão analisa os méritos dos trabalhos, de acordo com vários critérios, entre eles a amplitude dos benefícios gerados pelo trabalho.
A pesquisadora considera a premiação muito importante para a vida acadêmica, por valorizar o esforço e a dedicação de todos os profissionais envolvidos, desde professores titulares até os alunos de iniciação científica. Ela ressalta que dará continuidade ao trabalho no doutorado e novos dados sobre o consumo alimentar dos adolescentes estão sendo apurados.
Época de grandes mudanças
No Brasil, os adolescentes representam 21% da população, totalizando mais de 35 milhões de habitantes segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano 2000. É o estágio da vida caracterizado pelas intensas mudanças corporais da puberdade e pelos impulsos do desenvolvimento emocional, mental e social.
De acordo com o estudo da nutricionista, além das mudanças fisiológicas, nesse período ocorrem também grandes alterações no comportamento alimentar. Embora seja comum o aumento da ingestão de nutrientes, são adotados comportamentos e hábitos inadequados, entre eles a omissão de refeições, especialmente o café da manhã, e maior consumo de alimentos entre as principais refeições, que acarretam elevação na ingestão de açúcares e gorduras saturadas e diminuição na de micronutrientes.
Também é corriqueira, entre as adolescentes do sexo feminino, a insatisfação com a imagem corporal, o que as leva a seguir dietas com restrição energética. “Esses hábitos, adquiridos na adolescência, podem levar a risco nutricional, inclusive na idade adulta”, diz a nutricionista Samantha Caesar de Andrade, da Faculdade de Saúde Pública.
Estudos evidenciam que a qualidade da dieta é importante no que se refere à ocorrência ou não de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na idade adulta. É na adolescência que padrões alimentares são estabelecidos, constituindo a base do hábito na idade adulta.
O conhecimento do consumo alimentar do adolescente permite avaliar quais segmentos podem estar em risco nutricional pelo baixo ou excessivo consumo. A identificação das principais mudanças nos padrões alimentares e de suas relações com fatores econômicos, sociais, demográficos e de saúde pode auxiliar o entendimento das causas e conseqüências das mudanças que vêm ocorrendo na dieta, informa a nutricionista.
Simone de Marco
Da Agência Imprensa Oficial
(I.P.)
01/14/2008
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