Ação de baixo custo evita poluição na construção civil
Engenheiro da Poli-USP mostra o impacto dos materiais particulados na poluição
Durante a construção de edifícios, o impacto no meio ambiente é considerável em vários aspectos. Porém, uma questão ainda não havia sido abordada em profundidade no Brasil: a emissão de material particulado no canteiro de obras. O engenheiro Fernando Resende, em sua dissertação de mestrado apresentada na Escola Politécnica da USP, deu um passo importante para preencher esta lacuna – e já foi premiado por isso.
“Poluição atmosférica por emissão de material particulado: avaliação e controle nos canteiros de obras de edifícios” é o título do trabalho realizado por Resende, que teve orientação do professor Francisco Ferreira Cardoso, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli. Neste mês de outubro, o trabalho recebeu Menção Honrosa no Prêmio Holcim-Antac de Excelência em Construção Sustentável, referente ao biênio 2006/2008. A pesquisa de Resende, inédita no País, aponta as principais fontes de emissão de partículas na atmosfera e sugere ações e ferramentas para seu controle.
“Meu objetivo foi estudar e propor práticas viáveis no dia-a-dia das construtoras, que precisam lidar com uma série de atividades complexas em sua rotina. Além disso, sei que o custo é fator determinante. Por isso, procurei apresentar soluções simples e baratas, para facilitar sua implantação nos canteiros”, explica Resende.
Demolição, movimentação de terra, serviços de corte, raspagem, lixamento, perfuração, quebra, são as principais atividades que geram partículas. Além disso, movimentação e armazenamento de materiais pulverulentos (agregados, aglomerantes, argamassas, resíduos), também são fontes emissoras de partículas.
Dependendo dos níveis de emissão, o material particulado pode causar impactos no meio ambiente e transtornos para a população: irritação nos olhos e na pele e problemas respiratórios e cardíacos; e incômodos como poeira e resíduos que se acumulam em imóveis, automóveis, monumentos e paisagens. Na vegetação, a poeira depositada nas folhas interfere na fotossíntese, altera o pH e os níveis de pigmentação das plantas, reduz seu crescimento e as deixa suscetíveis a doenças.
Prevenção e controle – Entre as ações preventivas e de controle, Resende aponta a diminuição do volume de escavação nas obras. “Em vez de construir subsolos para garagem, pode-se projetar edifícios com estacionamento localizado acima do nível do solo, por exemplo. Isso evita a necessidade de movimentação de terra e a dispersão de poeira no ar”, esclarece.
Entre as atividades de controle, ele cita a lavagem dos pneus dos caminhões na saída da obra, evitando que lama e terra espalhadas pela rua, ao secar, circulem na atmosfera. Outra medida é proteger os locais de armazenamento de materiais e resíduos em pó, evitando que sejam carregados pelas chuvas ou espalhados pelo vento. Executar serviços de demolição com barreiras físicas, tais como as redes de proteção, isolando o local, ou aspergindo água de reuso também são providências que evitam a dispersão de poeira na atmosfera.
Para o monitoramento das emissões e seu controle, Resende informa que há uma série de metodologias disponíveis. “A mais comum é o uso do amostrador de grande volume ou Hi-Vol, que mede a concentração de partículas na atmosfera”, informa o pesquisador. “Essa metodologia é utilizada por várias agências ambientais do mundo todo, com padrões de qualidade do ar já estabelecidos”.
Poucas empresas brasileiras fazem controle rigoroso sobre a emissão de material particulado, ressalta Resende. Ele acredita, contudo, que a preocupação com as questões ambientais tende a crescer, seja por demanda da população, do poder público, dos órgãos financiadores, ou pela própria conscientização das empresas. “A importância do controle de emissões de partículas nos canteiros é tal que, em países como EUA, Inglaterra, China e Austrália, já existem leis específicas sobre o tema.
Em alguns Estados americanos, conforme o tipo de obra, o controle é obrigatório, e passa pela elaboração de um plano de gestão de emissão, que deve ser aprovado por órgãos ambientais, antes do início das obras”, destaca.
O trabalho de Fernando Resende foi realizado no âmbito do grupo de pesquisa voltado ao tema dos ‘canteiros de obras sustentáveis’, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP. Coordenado pelo professor Francisco Cardoso, o grupo já realizou trabalhos enfocando diversos assuntos, como o estabelecimento de critérios para avaliação de canteiros de obras sustentáveis, as práticas de responsabilidade social empresarial no relacionamento com fornecedores, e a capacitação e a certificação profissional dos trabalhadores dos canteiros de obras.
Da Escola Politécnica da USP
10/29/2008
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