Alunos do ensino médio da rede estadual vão para a sede da ONU, em Nova York
Eles foram selecionados entre 450 participantes do Global Classrooms para participar de simulação de reunião na entidade, nos EUA
Os estudantes de ensino médio Laís, Helga, Diego e Caio têm viagem marcada para a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Apesar da pouca idade (17, 16, 17 e 15 anos, respectivamente), seguem para os Estados Unidos a fim de protagonizar uma missão diplomática: representarão uma nação na instituição internacional. O intuito é debater os problemas enfrentados por ela e encontrar possíveis soluções.
Selecionados entre 450 estudantes da rede estadual de ensino para a atividade – uma simulação de uma reunião oficial das Nações Unidas –, os jovens permanecerão por uma semana nos Estados Unidos, durante a qual participarão de visitas a escolas americanas para a realização de palestras sobre o Brasil. Também terão contato com integrantes da iniciativa oriundos de 16 países. Todos ficarão hospedados no mesmo hotel, a três quadras da sede das Nações Unidas. Fazem parte do evento estudantes de quase todos os Estados norte-americanos.
A viagem é a última etapa do Global Classrooms, programa educativo oficial da ONU, que envolve jovens do ensino fundamental e médio de instituições públicas de ensino de diversas cidades do mundo, na pesquisa de temas mundiais atuais. O objetivo é estimular o conhecimento e a liderança, ao colocar os participantes diante do desafio de achar soluções para questões cruciais relacionadas a operações de paz, direitos humanos, desenvolvimento sustentável, educação, cidadania, entre outras.
A versão paulista é uma iniciativa da Associação das Nações Unidas-Brasil (Anubra) e conta com o patrocínio da Fundação Merrill Lynch e da Fundação Deutsche Bank, além das parcerias da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Action Aid, Canon do Brasil e Agência Fala!. Voltada apenas aos jovens do ensino médio das escolas estaduais, está sendo realizada pelo terceiro ano consecutivo.
Processo educativo
Laís Moreira e Helga Cristina Gonçalves estudam na Escola Estadual José Vieira de Moraes. Diego Soares Luz é aluno da Escola Estadual Arthur Chagas Júnior e Caio Mansini, da Escola Estadual Júlia Macedo Pantoja. Cada um iniciou o processo que se encerrará com a ida aos EUA na sua escola há mais de oito meses. Foram os escolhidos porque se destacaram em características como desenvoltura nas relações interpessoais e fluência no idioma inglês. A seleção foi realizada durante o decorrer das atividades e teve como parâmetros finais redações em inglês e entrevistas nas duas línguas, feitas com 12 candidatos.
Antes disso, porém, em cada uma das instituições de ensino participantes de São Paulo, o programa influenciou o desenvolvimento de atividades específicas em horário alternativo ao letivo, baseadas num guia da Anubra e com orientação de professores voluntários. Elas abrangiam temas indicados pela ONU, pesquisas sobre diversos países, suas culturas e políticas internas e externas, debates, treinamento da língua inglesa, regras de procedimentos e a elaboração de documentos de posição sobre os países, no início, e de resolução, no final.
Os 450 participantes também tiveram de passar por uma seleção para ingressar no programa. A viagem não era o objetivo inicial, nem uma certeza. “Não divulgamos essa possibilidade porque a proposta era o exercício realizado nas escolas, de simulações do trabalho da ONU, e também porque ainda não estava definido que ela iria ocorrer”, conta a coordenadora da iniciativa no Brasil, Raquel Mozzer.
Bons motivos
Os quatro finalistas dizem que tiveram outros bons motivos para querer integrar o Global Classrooms. Diego se sentiu motivado por considerá-lo uma oportunidade inusitada. Laís, pela possibilidade de experimentar simulações do que realmente acontece nas reuniões das Nações Unidas, o que “considera um ato de cidadania”. O intuito de Helga era aprofundar conhecimentos: “Quando a gente sabe as coisas por cima, tem idéias totalmente distorcidas”, julga.
Caio também se interessou por querer conhecer melhor outras realidades. Eu me inscrevi para saber mais sobre os países”, completa o jovem, que depois de alguns meses de pesquisas desenvolveu o sonho de se tornar embaixador. Pretende tentar uma vaga no Instituto Rio Branco para estudar relações internacionais. “Antes eu pensava em fazer informática”.
Ele conta que apenas mais 15 colegas do Pantoja (como é conhecida popularmente a sua escola) participaram. Mas, no meio do caminho, quando falaram sobre a viagem, surgiram muitos interessados, que não tiveram a mesma chance que eu. “Muitos acham que é uma coisa à-toa e que o mais interessante é a viagem. Não é bem assim. É um projeto diferente, para o qual a gente tem de estudar desde o começo”, avisa.
Expectativa e empolgação
Agora, o momento é de preparação para as próximas etapas, que ocorrem em reuniões semanais com Raquel, nas quais o foco está dirigido para a missão a ser desempenhada na ONU, que já foi definida: representarão, juntos, uma única nação, a Tanzânia. Com a bagagem, levarão para os EUA a intenção de conseguir abordar tópicos importantes para esse país, com boa argumentação e embasados numa visão abrangente sobre os aspectos culturais dele.
Para Laís, o verdadeiro desafio será fazer com que fique bastante claro para os outros povos, independentemente de pertencerem a outras culturas, os pontos de vista defendidos. “É difícil definir o que me estimula mais: fazer uma viagem internacional e ter contato com outras culturas, ou ter acesso a um órgão que participa de decisões internacionais”?, questiona.
Diego também está empolgado com a nova experiência. Segundo ele, trará ainda mais amplitude de conhecimento e cidadania, ganhos que diz já ter tido no decorrer do programa. Mas ainda tem outra expectativa: “Quem sabe as nossas idéias, que ficarão arquivadas na ONU, não podem surtir algum efeito real no futuro”?
Helga informa estar mais direcionada à entrevista para a obtenção do visto de entrada nos EUA, já que não se deu conta direito do que está por vir. “Ainda não caiu a ficha”, revela. Não é o caso de Caio, que já tem bem clara a dimensão que dá ao acontecimento. “Como dizem na minha escola, antes do Global Classrooms, mais um na multidão. Depois, um cidadão preparado para o mundo”.
Simone de Marco
Agência Imprensa Oficial
(M.S.)
04/05/2008
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