Banco do Povo vai investir mais R$ 500 milhões em cinco anos



Acessível a 90% da população, programa de microcrédito realizou 168 mil operações desde 1998

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Atualizada às 18h21

O Banco do Povo Paulista está completando dez anos com fôlego renovado. Em uma década, o programa de microcrédito do Governo de São Paulo, acessível a praticamente 90% da população do Estado, realizou 168 mil empréstimos, que somaram R$ 498 milhões. Nos próximos cinco anos deverá investir mais R$ 500 milhões. A notícia foi dada pelo secretário licenciado do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, nesta segunda-feira, 25, em seminário no Anhembi, na capital.

“É uma iniciativa que se consolida a cada dia. A partir de agora, ele será também agente regulador de 3,5 milhões de micro-empreendedores que ainda atuam na informalidade em São Paulo. É quase um Uruguai inteiro que saíra dessa situação com auxilio do Banco do Povo”, afirmou Afif. Ele lembrou que o governo estadual mantém três frentes para garantir o desenvolvimento no Estado: programas para qualificação da mão de obra; cursos para fortalecer empreendedorismo e políticas de incentivos a desburocratização.

Para se ter uma idéia do alcance do programa do Banco do Povo, basta lembrar que os financiamentos variam de R$ 200 a R$ 5 mil para pessoas físicas e até R$ 25 mil para cooperativas, e atendem micro e pequenos empreendedores. “O Banco do Povo mostra maturidade, melhorando a condição dos paulistas e criando o empreendedorismo. É uma democratização do próprio sistema capitalista”, disse o governador em exercício Alberto Goldman, no seminário do Anhembi.

De janeiro de 2007 até este mês, foram realizados 33,4 mil empréstimos, num total de R$ 117 milhões. Os usuários do programa são os pequenos empreendedores (formais ou informais), como costureiras, pipoqueiros, sapateiros, artesãos, cabeleireiras, associações e cooperativas. No Banco do Povo, os juros são de 1% ao mês e o prazo para quitação do financiamento é de até 36 meses.

Seminário de comemoração

Para comemorar os 10 anos do programa, a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, que coordena o Banco do Povo, realizou, em parceria com a Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam, ligada à Secretaria de Economia e Planejamento, um seminário sobre microcrédito, nesta segunda-feira, 25, no Palácio das Convenções do Anhembi. O evento reuniu cerca de 1.000 pessoas, entre gestores estaduais e municipais, agentes de crédito, membros dos comitês de crédito e instituições do terceiro setor.

O seminário serviu como uma oportunidade para identificar fatores para fortalecer o relacionamento de instituições similares ao Banco do Povo e incentivar a articulação com gestores de políticas públicas, além de proporcionar a troca de experiências, fortalecer e aprimorar o programa de microcrédito do Governo do Estado de São Paulo.

Um dos destaques do seminário foi a palestra economista Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006 por criar uma instituição de concessão de microcréditos para pessoas de baixa renda. O economista foi apresentado aos presentes pelo secretário estadual de Comunicação, Bruno Caetano, que, após a palestra, mediou o debate. “O Banco do Povo está num estágio que pode decolar de forma grandiosa”, declarou Yunus.

História de sucesso

O Banco do Povo coleciona histórias de sucesso, como a de Danilo Zanon, de Campo Limpo Paulista, na Grande São Paulo. Ele já trabalhava, informalmente, há 14 anos com limpeza de piscina e conserto de bomba, quando decidiu, em 2002, que era hora de formalizar seu negócio e abrir uma loja onde pudesse vender produtos de limpeza para piscina. Com a indicação de comerciantes da região, procurou o Banco do Povo. “Eu trabalhava por conta própria, os recursos eram escassos. Conseguia me manter, mas não tinha capital para abrir uma loja”, lembra.

A orientação da Agente de Crédito que o atendeu foi essencial na hora de pedir o financiamento. Foi ela quem sugeriu que ele pegasse uma parte do dinheiro para capital de giro e outra para investimento fixo. Ele comprou produtos, um computador, mesa e cadeira e abriu a loja. “Acreditei muito no que estava fazendo. Peguei o empréstimo para comprar o material e precisaria vender para ter dinheiro para pagar as parcelas. Com o dinheiro do lucro da venda, paguei a parcela e com o do capital, reinvesti em mais produtos para dar giro na loja”, conta.

Danilo recorreu ao Banco do Povo quatro vezes. Segundo ele, apenas um dos quatro computadores que possui atualmente não foi comprado com financiamento do programa de microcrédito do Governo paulista. Até o balcão de atendimento chegou a trocar com os empréstimos.

Hoje, Danilo, que emprega mais três pessoas, já não pode mais usar o Banco do Povo porque o faturamento de sua empresa é superior ao permitido pelas regras do programa. Antes ele ganhava entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil por mês, ou seja, não mais do que 24 mil anuais. Atualmente seu faturamento está próximo a R$ 120 mil brutos ao ano.

“Com a abertura da loja, consegui entrar no ramo de construção de piscinas, que envolve muito material e mão-de-obra, com custos muito mais altos que os da limpeza e manutenção”, explica.

As facilidades oferecidas pelo Banco do Povo Paulista também estão ajudando pessoas como Mario Rosa Filho, Silvana Graciano e Walter Amadeu a manter e ampliar seus negócios. Veja como:

Melhor cachaça do Estado teve 'empurrão' do Banco do Povo  - Para complementar o salário que ganhava como professor, Mario Rosa Filho começou, na década de 70, a produzir cachaça. Quando o Banco do Povo Paulista chegou a cidade onde mora, Santa Fé do Sul, em 2002, tomou o primeiro empréstimo, de R$ 5 mil, para comprar tonéis. Deu certo. Voltou ao Banco do Povo outras três vezes para comprar mais material e ampliar a produção.

No ano passado, Mario se aposentou e passou a se dedicar exclusivamente ao seu próprio negócio. Naquele mesmo ano, a bebida produzida por ele venceu pela 1ª vez o concurso de Melhor Cachaça Envelhecida do Estado. Agora, foi bi-campeã. A procura cresceu e Mario está voltando ao Banco do Povo, desta vez, o objetivo do financiamento é a compra de um pequeno trator. “O Banco do Povo me deu um empurrão e espero que me dê muitos outros empurrões porque vou precisar aumentar o negócio”, afirma.

Faturamento multiplicado com venda de pães e biscoitos - Silvana Graciano, de Pirangi, produz biscoitos e pães em casa e revende na cidade. Em 2006 pegou o primeiro empréstimo de R$ 1.200 no Banco do Povo para comprar um forno e matéria-prima. Voltou ao programa de microcrédito paulista outras três vezes.

Quando começou nesse trabalho, há cerca de 10 anos, ganhava R$ 250 por mês. Agora, chega a tirar uma média de R$ 800 mensais. “Pude comprar material e o trabalho rende mais. Dá para fazer mais coisas”, diz. Silvana também comemora o fato de ter trocado de carro e comprado uma moto para o marido trabalhar. Ela comenta que, com os empréstimos do Banco do Povo, aumentou os ganhos e hoje consegue pagar as parcelas do carro e da moto.

Chaveiro passou a oferecer serviço diferenciado - Já o chaveiro Walter Amadeu, de São José do Rio Preto, recorreu ao Banco do Povo apenas duas vezes. Mas o primeiro empréstimo foi decisivo para os rumos do negócio de Walter. Em 2002, ele conseguiu financiamento para a aquisição de uma máquina para a produção de chaves com sistema bloqueador de injeção eletrônica. “Eu precisava de uma máquina dessas, porque todos os carros produzidos a partir do ano 2000 usam esse tipo de chave. Na época estava com dificuldade para conseguir empréstimos. Procurei alguns bancos, mas sempre saía assustado”, lembra.

Recorreu ao Banco do Povo, atraído pelos juros de 1% ao mês e prazo de 18 meses para quitação da dívida, comprou a máquina e alavancou seu negócio. “Passei a atender uma clientela que não tinha condições de atender antes. É um serviço diferenciado, com custo dife renciado. O aumento no faturamento foi considerável, chega a cerca de 60%”, afirma. Segundo Walter, além dele, existe apenas meia dúzia de chaveiros que oferecem esse tipo de serviço na cidade.

Emprego e renda

O programa de microcrédito do Governo do Estado, Banco do Povo, começou a ser implantado em 1998. Ao oferecer financiamento, com juros abaixo do praticado no mercado e prazo para pagamento, o objetivo do Estado é permitir o desenvolvimento de pequenos negócios, gerando emprego e renda.

Atualmente, o Banco do Povo Paulista conta com 393 unidades, que atendem 435 municípios, ou seja, 89% do total do Estado.  

Para ter direito ao empréstimo, é necessário estar produzindo, no município, há mais de 6 meses, formal ou informalmente; residir ou ter negócio no município há mais de 2 anos; e não possuir restrições cadastrais (SCPC /SERASA).

Os financiamentos são destinados a compra de máquinas, equipamentos, veículos e ferramentas, ou capital de giro, como compra de mercadorias e matérias-primas ou conserto de máquinas, equipamentos e veículos.

De acordo com levantamento realizado pelo Banco do Povo, 79,2% dos empréstimos concedidos entre 1998 e 2007 foram para pessoas físicas e 20,8% para cooperativas ou associações.

Cíntia Cury / Cleber Mata



08/25/2008


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