BENEDITA EXIGE CIDADANIA PLENA PARA OS NEGROS



Ao lembrar hoje (dia 13) a libertação dos escravos, ocorrida em 1888, a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que, até os dias de hoje, essa emancipação está incompleta. "E, como diz a canção dos Titãs, 'a gente quer inteiro, não pela metade'. Os negros no Brasil reivindicamos uma cidadania e um espaço conquistado por inteiro, não pela metade. Essa é a cidadania que esperamos, uma cidadania sem limites", destacou.

Para Benedita, o Congresso Nacional pode funcionar como a vanguarda de um movimento anti-racista organizado, com crescente capacidade de intervenção social, plural e politicamente capaz de alterar a realidade que cerca o povo negro. "Existem projetos de minha autoria em tramitação. Um deles dispõe sobre a inclusão da presença dos negros nas produções das emissoras de televisão, filmes e peças publicitárias. Um segundo garante aos estudantes negros 20% das vagas em instituições de ensino superior", observou.

Ao defender o sistema de cotas, Benedita explicou que ele é necessário porque, como no caso de cotas para candidaturas eleitorais de mulheres, significa oportunidade igual para o exercício da capacidade intelectual do negro. "A maioria dos brasileiros é pobre e não pode freqüentar universidades. Pesquisas revelam que os afro-descendentes não chegam ao terceiro grau porque não podem pagar as mensalidades, não por falta de capacidade. Pobre e negro não pode ser a equação da ignorância", assinalou.

Benedita da Silva lembrou que o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou-se favorável à adoção do sistema de cotas para negros, citando a declaração do presidente: "À medida que você amplia a educação, a probabilidade de ascensão dos negros vai ser maior. Não quero entrar na discussão do sistema de cotas, pela resistência que vai provocar, mas não sou contrário. Havendo duas pessoas em condições iguais para nomear para determinado cargo, sendo uma negra, eu nomearia a negra", afirmou.

Segundo Benedita, o movimento negro brasileiro tem enfrentado e questionado as desigualdades raciais. "Se é bem verdade que muitas conquistas já foram obtidas, também é verdade que ainda existe um longo caminho a percorrer e muito ainda a conquistar . O resgate da cidadania dos afro-brasileiros não se fará sem a distribuição justa da terra, sem a implantação de níveis aceitáveis de renda e de emprego. Esse movimento é, em essência, o resgate da própria cidadania brasileira", ressaltou.



13/05/1998

Agência Senado


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