Brasil exporta marqueteiros
Brasil exporta marqueteiros
Empresas de marketing e publicitários brasileiros estão atuando em Portugal, com os candidatos às eleições legislativas antecipadas para março
LISBOA – Os dois maiores partidos políticos portugueses, o Socialista (PS) e o Social Democrata (PSD), estão preparando as eleições legislativas antecipadas do próximo dia 17 de março e, na linha de frente desse combate eleitoral, estão empresas de marketing e publicitários brasileiros.
No caso do PS, que já escolheu o sucessor do primeiro-ministro António Guterres na liderança – o ministro Eduardo Ferro Rodrigues –, o publicitário brasileiro Edson Athayde foi novamente chamado para trabalhar.
Considerado pelo Wall Street Journal como “um peixe grande no pequeno lago da publicidade portuguesa”, Athayde, 35 anos, preside a Edson/FCB, empresa pertencente à Interpublic Group of Cos. e que tem colecionado prêmios nos festivais internacionais de publicidade.
Depois de, em 1995, ter “emprestado” os seus conhecimentos no campo do marketing político a António Guterres, ao criar o slogan Razão e Coração, que ajudou a levar os socialistas ao poder, derrotando o PSD após 10 anos de Governo sob a direção de Aníbal Cavaco Silva, Edson Athayde se afastou da publicidade e foi assessor de Guterres por seis meses.
Athayde diz que a frustração com a burocracia governamental o levou de volta para o mundo da publicidade, criando a sua própria agência, a Edson Athayde Communications.
Agora, com as eleições antecipadas em vista, os socialistas voltaram a contratá-lo, e os primeiros outdoors já estão na rua com a frase Chega de bota-abaixo, em uma reação às críticas dos sociais-democratas ao Governo de António Guterres.
Do lado do PSD está o marqueteiro Einhart Jácome Paz, conhecido produtor de televisão (é dono da New Trade, empresa paulista de marketing institucional). Einhart atua também na campanha do ex-ministro Ciro Gomes, candidato do PPS às eleições presidenciais brasileiras de outubro, e do seu currículo consta ainda a campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1994.
Há pouco mais de sete meses em Portugal, Einhart Paz obteve já uma significativa vitória: o candidato do PSD à Prefeitura de Lisboa, Pedro Santana Lopes, venceu a eleição contra o candidato apoiado pelos socialistas e comunistas, João Soares, filho do ex-presidente socialista Mário Soares.
Einhart Paz vai contar com a colaboração do Instituto Voz Populli, com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais. Uma delegação deste instituto, dirigida pelo seu presidente, João Francisco Meira, esteve recentemente em Lisboa.
“Vamos fazer um trabalho de avaliação do cenário político, como sempre fazemos no Brasil”, informou Francisco Meira à Agência Lusa.
As eleições legislativas de Portugal foram antecipadas para 17 de março, devido à derrota eleitoral dos socialistas nas eleições municipais de dezembro, o que levou António Guterres a demitir-se da liderança do Governo e do partido.
“Candidatura ao Senado é um desejo do meu partido”
ENTREVISTA/Luciano Bivar
Após afirmar que não abre mão de concorrer a uma vaga no Senado, o presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar, se transformou no mais novo complicador do já confuso processo de construção dos palanques da oposição a aliança governista (PMDB/PSDB/PFL/PPB). Apoiado pelo Diretório Nacional do PL, Bivar coloca o tempo de TV do bloco PL/PSL (cerca de quatro minutos) como moeda de troca para garantir sua entrada na disputa majoritária. Em entrevista a Luciene Soares, Bivar confirma que foi procurado pelo potencial candidato do PSB ao Governo do Estado, deputado federal Eduardo Campos (PSB), mas ressalta que sua candidatura ao Senado será “viabilizada”, independentemente de coligações com forças políticas de maior peso no Estado.
JORNAL DO COMMERCIO – Onde o senhor encontrou respaldo para querer entrar na disputa pelo Senado?
LUCIANO BIVAR – Tive várias conversas com a Executiva Nacional do PL. Nós chegamos à conclusão que devemos ter um candidato ao Senado em Pernambuco. Como fazemos parte do mesmo bloco no Congresso (Bivar é do PSL), estamos procurando estar juntos nas próximas eleições em todo o Brasil. Posteriormente, o próprio Eduardo Campos (deputado federal e potencial candidato do PSB ao Governo do Estado) me procurou e mostrou interesse em fazer uma coligação conosco.
JC – O senhor aceitaria estar no mesmo palanque do senador Roberto Freire (PPS), depois da restrição que ele fez ao seu nome?
BIVAR – Essas definições de esquerda e direita são retóricas que não se encaixam mais. Hoje, o que vale é a bandeira administrativa, não a ideológica. Alguns políticos procuram, populisticamente, se manter no poder em cima de ideologia, e o que o povo quer é um Estado objetivo, não discursos vazios. Não sou governista, nem oposicionista, estou do lado do bom senso. Temos que nos adaptar às mudanças, e eu faço política sem me preocupar com o que eu disse ontem.
JC – E como foi a abordagem de Eduardo Campos?
BIVAR – Há um interesse do PSB em alargar sua frente de apoio em Pernambuco. Ele me procurou no Congresso e acenou com a possibilidade de fecharmos um acordo, me oferecendo uma das candidaturas para o Senado na chapa que será comandada por ele.
JC – Então, o bloco PL/PSL já incorporou o projeto do socialista?
BIVAR – Eduardo é um rapaz jovem, com toda a gana e ninguém pode duvidar que ele faz parte de uma importante tradição política, feita pelo seu avô (o ex-governador Miguel Arraes). Ele é uma proposta que deve ser levada em consideração e um dos nomes mais bem preparados para disputar o Governo.
JC – E o apoio ao PT (que apresenta o secretário municipal de Saúde, Humberto Costa, como candidato ao Palácio das Princesas) estaria descartado?
BIVAR – Acho que o PT levanta uma bandeira de retidão que me sensibiliza. Mas o partido tem algumas metas, como programas de reestatização, e características, como o nacionalismo exagerado, que me levam a fazer algumas ressalvas. Acho que por não ser nem nacionalista, nem estatizante, não fui procurado por eles.
JC – Caso o senhor não encontre espaço para disputar um mandato majoritário, tentará um segundo mandato como deputado federal?
BIVAR – A candidatura ao Senado é um desejo do meu partido, que apesar de ser pequeno tem o reforço de um bloco (PL/PSL) de 29 deputados no Congresso. Então, como a senatoria é uma disputa majoritária, que não depende de sobras eleitorais, certamente nós sairemos com essa candidatura, com ou sem coligação de maior peso.
JC – Isso quer dizer que o bloco PL/PSL não fechou as portas para os governistas?
BIVAR – Vivemos um período de formação de coligações para alcançar o poder, sem que, obviamente, cada partido perca sua identidade. Fiz essa observação, inclusive, a Eduardo Campos e nós (PSL/PL e PSB) estamos conscientes de que temos interesses comuns, mas que nossas identidades deverão ser preservadas.
JC – Quem o senhor considera o mais difícil adversário na disputa pelo Senado?
BIVAR – Com certeza, Sérgio Guerra (secretário estadual de Projetos Especiais/ PSDB). Ele tem um ótimo discurso e, além de tudo, é um perfeito articulador. Além dele, acho que o senador Carlos Wilson (PTB) é outro páreo duro. Ao contrário da maioria dos candidatos majoritários, ele se destaca pela sua humildade.
Sucessão abala aliança
PSDB e PFL travam uma briga cada vez mais ferrenha na sucessão presidencial, ameaçando a unidade governista. PMDB fica como a “noiva cobiçada”
A movimentação política dos partidos governistas, nos últimos dias, acende um sinal verde na aliança: a composição de forças que comanda o País, há oito anos, pode está perdendo de vista o adversário real da disputa e acirrando um clima austero na base que pode comprometer a manutenção do bloco PFL/PMDB/PSDB/PPB.
O PFL exibe o troféu Roseana Sarney e se insufla contra todos, soprado pelos 20% de eleitores que preferem a “número 1”. Precisa, porém, prová-la resistente eleitoralmente, quando essa estiver ‘desplugada’ da imaginação do publicitário Nizan Guanaes.
O PSDB se proclama dono absoluto da patente da cabeça-de-chapa da aliança, só porque o presidente Fernando Henrique Cardoso é tucano. Só tem para oferecer um candidato com 7% da preferência dos eleitores e com duas derrotas majoritárias no maior colégio eleitoral do País. Mas se arvora e antecipa a última etapa do processo, a escolha do vice, convidando o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), avalista maior da aliança em Pernambuco. Resultado: provoca o PFL, o que não é bom. Ainda que os pefelista estejam só blefando, quando ameaçam espalhar candidaturas próprias nos Estados em que a aliança deveria se reproduzir.
O(s) PMDB(s), esses, não têm nomes majoritários. O governador mineiro Itamar Franco – o único lembrado nas intenções de voto – talvez não sobreviva nem até as prévias do partido, prevista para março, quanto mais até as eleições. Mas o PMDB tem tempo de televisão e estrutura partidária. Recursos mais do que suficientes para subir ao altar de ‘noiva cobiçada’ na união que pretende parir o próximo morador do Palácio do Planalto.
Pois é. Pesando bem o que cada um dos partidos do Governo tem para dar, há um equilíbrio de forças nesse primeiro tempo do jogo. Os “movimentos táticos” (definição de um pefelista), adotados nesse momento, são naturais e legítimos. O risco é de os partidos governistas se perderem da hora certa de lançar a estratégia adequada para se garantirem (unidos) no Poder.
Quando o pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estancou no teto de 30% das intenções de voto, e, em contrapartida, a governadora maranhense Roseana Sarney (PFL) pipocou nas pesquisas, ocorreu uma mudança na correlação de força dos partidos aliancistas. Baseando-se em avaliações, que até ferem a realidade, PFL e PSDB deflagraram uma disputa pelo comando do condomínio de partidos. Se resistir ao embate, a aliança nunca mais será a mesma.
Jarbas prega unidade, mas de um jeito que irrita o PFL
“Todas as coisas são duas: a coisa mesmo e a sua imagem”. A lição do mestre Carlos Drummond de Andrade cai como uma luva para expressar o que ficou dos movimentos que o governador Jarbas Vasconcelos deu, semana passada, no tabuleiro da sucessão presidencial.
Ficando na ‘coisa mesmo’, não há razões para duvidar da visão aliancista do governador, quando ele chamou para si a responsabilidade de buscar a unidade dos partidos. Mas quando se parte para a ‘imagem da coisa’, difícil fica acreditar que só movido pela boa intenção acima, Jarbas se mexeu no jogo. Os fins justificam os meios?
Não é fácil entender que, como avalista em Pernambuco, da aliança que sustenta o projeto nacional, o governador tenha se arvorado em declarar a sua preferência pelo tucano Serra – cotado em 7% nas pesquisas – anunciando a disposição de levar o PMDB para o palanque do ministro, como se praticamente sugerisse o disparate de a pefelista Roseana Sarney – cotada em 20% – retirar a sua pré-candidatura.
É prematuro dizer que vai vigorar uma aliança entre tucanos e peemedebistas. Mas só em já existir um esforço (assumido publicamente) – e Jarbas marcha na ala de frente do movimento – de buscar isso, já inflou a candidatura de José Serra e balançou as estruturas do PFL. Para segmentos peemedebistas, parece pesar a compreensão de que um candidato, avalizado pelo Governo, tem muito mais chance de se firmar.
A desenvoltura de Jarbas, no entanto, revela a ‘alta cotação’ do peemedebista no cenário nacional. Cortejado como o ‘vice ideal’ da chapa tucana, o governador ainda está cada vez mais perto de regozijar-se com o regresso do seu partido à aliança. E a sua posição foi firme nessa defesa.
A ‘mosca azul’ de uma Vice-Presidência picou Jarbas. Governistas confessam que ele já demonstra simpatia pela causa. Agora, daí a fazê-lo alçar esse vôo, só depois que os números somarem em favor disso. Se ocorrer, ainda assim, merecerá muita reflexão. Há o fantasma de que a opção pelo Palácio do Jaburu pode ser o “erro estratégico” para uma vida toda. E a certeza de que, abandonando o barco da reeleição, a aliança governista naufraga. Por enquanto, o governador procura não se antecipar a nada. E estabelece um prazo – até março – do tamanho do tempo desejado para se saber quem será
Em Pernambuco todos querem armar o palanque da reeleição
A nenhum dos partidos governistas, de Pernambuco, interessa que Jarbas Vasconcelos aceite disputar a Vice-Presidência da República na chapa de José Serra. Mas são os tucanos daqui – que, em tese, deveriam ficar satisfeitos com a injeção de ânimo dada ao projeto nacional do partido – os que menos gostariam que isso acontecesse. Isso porque, em uma provável chapa Serra/Jarbas, que demonstrasse força eleitoral, fatalmente o PFL, obedecendo ao seu pragmatismo inerente, retiraria Roseana Sarney do páreo.
A inversão de posições na nacional inverteria também o palanque local: e o PFL ganharia a cabeça-de-chapa na disputa pelo Governo do Estado. Com os tucanos engajados em eleger um pefelista para o Palácio das Princesas.
Mas, se não interessa aos tucanos de Pernambuco a chapa Serra/Jarbas, porque teriam contribuído para apressar a discussão sobre o assunto? O que os tucanos queriam, e conseguiram, foi “colocar explosivos na ponte que leva ao território do PFL”, como bem definiu o ministro José Jorge (PFL). Quem mais o governador Jarbas Vasconcelos atingiu, quando tornou público a preferência pela candidatura Serra, foi o PFL pernambucano.
Se agiu de comum acordo com o PSDB, ninguém sabe. Se ‘caiu na isca’ dos tucanos, também não dá para afirmar. O governador é um político teleguiado por pesquisas e não dá um passo sem ouvir o ‘guru’ Antônio Lavareda, que também apita na pré-campanha de Roseana Sarney e trabalha para o Governo de Fernando Henrique.
Há tempos que o PSDB não é mais do mesmo tamanho na aliança que governa o Estado. Na base, são os tucanos os maiores adversários do PFL. E estão sob o comando do cacique Sérgio Guerra que, mais do que o Senado Federal, gostaria mesmo era de sentar na cadeira de governador. Claro, que no momento certo.
Os pefelistas sabem que não podem mais subestimar o PSDB na correlação de forças da aliança local. Se sobrar para outro a cabeça-de-chapa governista na disputa pelo Governo do Estado – em caso de o governador descartar a reeleição – a briga entre PFL e PSDB será de igual para igual.
TSE PRONTO PARA COIBIR “ABUSOS”
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Nelson Jobim, abriu os trabalhos da Justiça Eleitoral em 2002. Para ele, o tribunal já está preparado para enfrentar qualquer tipo de abuso eleitoral. Todos os municípios brasileiros terão voto eletrônico. Para isso foram adquiridas 25 mil urnas que permitirão ao eleitor a impressão do voto. Por enquanto, apenas 151 municípios serão beneficiados com essa tecnologia. A forma convencional será utilizada quando faltar energia elétrica e quando o eleitor não conseguir votar pelas urnas eletrônicas.
Artigos
Brasil de muitas cores
Roberto Freire
No ano passado, ao participar juntamente com outros brasileiros de instigante seminário na Universidade de Berkeley, ponderei que os Estados Unidos tinham uma obrigação, a de repassar para nós no Brasil a sua experiência de políticas públicas de integração dos negros, em particular a política de cotas, adotada após a década de 60 e que se insere no contexto do combate ao racismo e à discriminação. Não como modelo a ser seguido necessariamente, mas enquanto conjunto de decisões, atitudes, obstáculos, sucessos e fracassos, enfim, como processo de informação.
O assunto surgiu com força no Brasil em 2001. E temos de reconhecer, para além da nossa retórica: veio pelas mãos do Governo Federal que tanto criticamos, após iniciativa pioneira e corajosa do ministro Raul Jungmann, da Reforma Agrária, seguida pelo Supremo Tribunal Federal – STF. Agora, um certo sistema de cotas, beneficiando além dos negros as mulheres e os portadores de deficiência, dado mais por orientação e menos por lei ou resolução, começa a ser implantado em todo o Executivo federal, aplicando-se principalmente aos concursos, aos serviços terceirizados e aos chamados cargos de confiança.
Obviamente, o Governo Federal não pode reivindicar a paternidade da idéia para si. Afinal, há vários anos ela está presente nos debates travados no interior das forças democráticas e cresceu por ocasião da comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil, quando a questão negra ganhou nova dimensão. Por definição, as cotas, de alguma forma, são patrimônio do ideal de solidariedade dos democratas e das esquerdas.
Causa espécie o posicionamento manifestado por alguns democratas de vários matizes contrários às cotas. Distanciando-se da própria tradição de solidariedade, e mesmo recorrendo a argumentos com aparência robusta, tais pessoas acabam de braços dados com o conservadorismo. Em países injustos como o Brasil, com distorções sociais criadas e consolidadas ao longo de extenso período histórico, o desenvolvimento econômico apenas não basta para superar certas iniqüidades e perversidades como é o caso da discriminação racial. Exige, para isso, também, políticas públicas afirmativas – e a discriminação positiva das cotas seria uma delas.
Basta olhar para todos os lados, para as nossas universidades, Forças Armadas, instituições, entidades, empresas públicas e privadas, nossa burocracia, enfim a sociedade, para ver que as mazelas da escravidão ainda estão presentes na quase total ausência dos negros nesse nosso meio. Os negros moram nos piores lugares nas cidades, detêm os piores empregos, percebem os menores salários, sofrem mais doenças, tem piores índices de analfabetismo, menos tempo nas escolas, menor expectativa de vida. O Estado brasileiro e suas instâncias políticas, sociais e econômicas apresentam desgraçadamente uma única cor, esmagadoramente branca. Isso não corresponde absolutamente a nossa realidade. Cabe portanto, dar à República a cor da vida e aí, não tenho dúvida, se destaca o negro.
Muitos críticos das cotas querem colocar a questão do negro no bojo de políticas de combate à pobreza. Ora, a pobreza não tem cor, atinge a todos. Assim como a violência, que também não guarda necessária nem diretamente relação com a pobreza.
O horizonte da democracia racial deve ser buscado. Talvez, sejamos o país com forte presença negra, a par de outras etnias, que reúne as melhores condições para atingir este objetivo. Entretanto, não podemos correr o risco de ficar “Esperando Godot”. O Estado e a sociedade precisam agir positivamente para antecipá-la no tempo, impedindo que preconceitos se consolidem ainda mais nos decênios que virão. A adoção da política de discriminação positiva em contraposição à discriminação negativa existente em nossa sociedade e urgente. As cotas – uma das expressões daquela política – são instrumentos de intervenção pontual e passageiros no cenário de uma longa história. A sociedade brasileira deve encampá-la de forma irresoluta, em nome da democracia e da verdadeira liberdade.
Somos um país de muitas cores – na bandeira, na plumagem dos pássaros, nos estandartes das escolas de samba e clubes de frevo, nas camisas do time do coração de cada um, na composição social, na natureza, na rua e na vida.
Que elas estejam também na República!
Colunistas
PINGA-FOGO – Inaldo Sampaio
O adversário
Durante a campanha para a prefeitura do Recife o governador Jarbas Vasconcelos e os seus aliados tiveram dificuldade para precisar quem era de fato o adversário. Só na reta final do primeiro turno, com base em pesquisas qualitativas, é que ele conseguiu identificá-lo: o PT. De lá para cá colocou isso na cabeça e já está carregando as baterias para tentar detonar Humberto Costa, o seu maior e mais ferrenho crítico no Partido dos Trabalhadores.
Não é o que pensa, todavia, o prefeito de Caruaru, Tony Gel. Habituado a frequentar as feiras do interior e a conversar com gente do povo, ele disse ao próprio Jarbas, ao vice-presidente Marco Maciel e ao líder na Câmara Inocêncio Oliveira que a leitura que se está fazendo sobre 2002 está equivocada. O principal adversário da aliança, segundo ele, não é o PT e sim o deputado Eduardo Campos, que tem Miguel Arraes como seu principal cabo eleitoral e está crescendo a olhos vistos na sombra de Anthony Garotinho.
O prefeito está de acordo com a afirmação feita há poucos dias pelo vereador Liberato Costa Júnior. Enquanto o virtual candidato do PSB tem condições políticas e eleitorais de “armar palanque” em todos os municípios, o PT chegará “no máximo” a Caruaru.
Ciumeira geral
A movimentação política de Giovane Oliveira, superintendente regional da Funasa, sobrinho de Inocêncio e candidato a deputado estadual, começou a incomodar os parlamentares da aliança. Diz-se que ele leva vantagem montado no cargo tentando construir a sua campanha para a Assembléia Legislativa, e que costuma agir feito trator. A propósito, uma de suas últimas conquistas no agreste foi um religioso de prestígio: Pe. Ivo Francisco, atual prefeito de Jupi.
Missão política
Acompanham o senador Roberto Freire (PPS), hoje, na visita que ele fará, no Rio, ao ex-governador Leonel Brizola, o ex-ministro Ciro Gomes e o deputado federal José Carlos Martinez (PR), presidente nacional do PTB. Freire pretende pedir ao ex-governador que libere o PDT-PE (José Queiroz) para se compor com o PSB (Arraes).
Ainda na dúvida
Apesar das pressões que recebe dos amigos para que defina rapidamente o seu futuro, o deputado Gilberto Marques Paulo (PSDB) permanece indeciso entre se candidatar à reeleição e pendurar as chuteiras. Enquanto a decisão não sai, ele aproveita o recesso parlamentar, na praia, para pôr a leitura em dia. Já “devorou” uma dezena de livros.
Entre Lula e Serra, o “vice-rei” fica com o PT
Diferentemente de outras lideranças, ACM já antecipou para os baianos qual seria a sua posição se porventura Serra e Lula forem os finalistas do 1º turno: “Lula é nordestino é Serra detesta o Nordeste”. Ou seja, ficará com o PT.
Ser de classe média assusta deputado do PFL
Joel de Holanda (PFL) está fazendo das tripas coração para permanecer na Câmara Federal. Mas, por ser um homem de classe média e não ter grupos econômicos por trás de si, está na dependência de Marco Maciel.
Memória 1
No seu recém lançado livro “Casos & Coisas”, Duda Mendonça conta com detalhes como foi chamado por Miguel Arraes para comandar a campanha de 98. “Depois de fazer o diagnóstico da situação fomos obrigados a sentar com ele para uma conversa difícil. Dizer (...) que a reeleição era quase impossível”.
Memória 2
“Que tal o Senado”? sugeriu ele ao ex-governador. Arraes teria ouvido em silêncio essa proposta e pediu uma semana para pensar. Decorrido o prazo, disse-lhe: “Duda, vamos à luta. Neste momento eu tenho que ser candidato, e v ou ser, aconteça o que acontecer”. Está tudo no capítulo 3, intitulado “Não faço mágica”.
Por já ter sido vítima de uma tentativa de fraude, em sua 1ª eleição para governador do Rio, Brizola faz um alerta procedente sobre a informatização do voto. Diz ele: “O processo eleitoral brasileiro, informatizado, está aberto à fraude, pois não permite a recontagem. Não se pode fiscalizar o processo de sua totalização”. Tudo a ver.
O “point” dos prefeitos pernambucanos não é mais o Palácio das Princesas nem a vice-governadoria e sim a Secretaria de Projetos Especiais. Quarta-feira da semana passada passaram pelo gabinete de Sérgio Guerra (PSDB) 50 prefeitos. Isso reforça a tese de que Jarbas Vasconcelos perdeu o apetite pelo poder.
Jarbas só se refere a Carlos Lapa (PSB) com adjetivos duros, mas foi incapaz, pelo menos até agora, de produzir um líder em Carpina para combatê-lo. O deputado, mais uma vez, dará as cartas nessas eleições: sairá para a Câmara Federal e o mano, Joaquim, atual prefeito, para a Assembléia Legislativa. A filha, Ana Carla, vice, assumirá a prefeitura.
O governador do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves (PMDB), tem simpatia pelo nome de Serra e vai defender o apoio a ele na próxima convenção do PMDB. Mas o seu tio Aluízio Alves, que foi ministro de Sarney e controla o partido naquele Estado, está tentando convencê-lo a ficar com Roseana (PFL).
Editorial
INSTITUTO ARQUEOLÓGICO
No dia 28 de janeiro, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco comemorou seus 140 anos de existência. É uma instituição que foi criada, e vem sendo mantida, com o esforço de pessoas que acreditam na necessidade de aprofundar sempre o conhecimento de nossa memória histórica, que se confunde com a do próprio Brasil.
Durante todos esses anos, os chefes do Executivo estadual só duas vezes lembraram-se, verdadeiramente, daquele importante centro de estudos e preservação da memória coletiva. A primeira delas, em 1879, quando o Governo Provincial lhe doou uma casa, na então Praça da Concórdia, e a segunda, em 1918, quando Manoel Borba fez-lhe a doação do casarão 130, na Rua do Hospício, onde vem tentando sobreviver até hoje.
Em ano recente, o Poder Legislativo, ao elaborar a Constituição do Estado de Pernambuco (promulgada em 1989), tentou fazer alguma coisa pelo velho Instituto, ao determinar, no Art. 198, como uma obrigação do Estado “a edição semestral das revistas oficiais do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e da Academia Pernambucana de Letras”. Como acontece com outras disposições constitucionais, aquele artigo não vem sendo cumprido. O último número da Revista do IAHG é de 1993. Para as comemorações do seu 140º aniversário, o Instituto recebeu um presente, não de uma das instâncias do Poder constituído, mas de um particular, o médico Bóris Berenstein, que financiou uma nova edição do que deveria ser um periódico. Puderam ser, assim, homenageados três pernambucanos ilustres, já falecidos: Francisco Augusto Pereira da Costa, José Hygino Duarte Pereira e José Antônio Gonsalves de Mello.
Em seu livro ‘Traços do Recife: Ontem e Hoje’, Orlando Parahym informa que a fundação do Instituto deveu-se “ao interesse demonstrado pelo Imperador Pedro II, quando visitou Pernambuco no ano de 1859, em conhecer alguns fatos ligados ao passado glorioso desta terra”. Mas não consta que tenha vindo algum auxílio em dinheiro para a iniciativa, afinal assumida pelos próprios intelectuais da terra. Hoje, pode-se afirmar que, depois dos Anais Pernambucanos, de Pereira da Costa, cuja primeira edição foi financiada pelo Arquivo Público Estadual, a coleção da Revista do Instituto é o mais importante repositório de informações gerais sobre o nosso Estado. Ela teve o primeiro número publicado no ano seguinte ao da fundação da entidade. A coleção é consultada por pesquisadores nacionais e estrangeiros.
Mas os estudiosos de nosso passado não dispõem, apenas, das duas publicações citadas, em suas edições originais, para fundamentar pesquisas. Os Anais, inicialmente com dez volumes, teve uma segunda edição, pela Editora Massangana, com o acréscimo de um indispensável índice analítico. E a entidade, fundada no século 19, ainda tem a oferecer aos visitantes valiosos acervos informativos, tanto em seu museu quanto na biblioteca. No entanto, esse acervo precisa ser submetido às técnicas modernas de preservação de antigüidades. Documentos em papéis antigos não podem ficar à mercê do manuseio público. É preciso investir em microfilmagem, como acontece em tantas cidades do Brasil, desde Manaus até as mais ricas do Sul do País.
A pequena contribuição mensal de cinqüenta sócios não é suficiente, sequer, para manter o efetivo de funcionários do Instituto, responsável pela manutenção de milhares de itens fundamentais para a compreensão do nosso processo histórico. É obrigação constitucional do Estado subvencionar sua preservação, a preservação de nossa memória.
Ao falar das comemorações de aniversário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, temos de relembrar o grande historiador, recentemente falecido, José Antonio Gonsalves de Mello, que por trinta anos dirigiu os destinos daquela Instituição. A sua abnegação e o seu espírito público não podem jamais ser esquecidos.
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02/03/2002
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