BRASÍLIA COMPLETA 40 ANOS
Os três eram, e permaneceram durante toda a vida, entusiastas da cidade e da decisão de transferir a capital administrativa do Rio de Janeiro para Brasília. Somente Niemeyer ainda vive e continua planejando prédios para a cidade. Aos servidores públicos que, obrigados a virem para a cidade, lamentavam a falta do mar, Lúcio Costa explicava: "O céu é o mar de Brasília".
Em termos históricos, Brasília representa um marco na evolução do desenvolvimento brasileiro. Depois de 460 anos de um sistema econômico implantado no litoral e voltado para a Europa e os Estados Unidos, a construção de Brasília inverteu o vetor levando o brasileiro a descobrir o interior do país. Goiás, Mato-Grosso, Mato-Grosso do Sul, Rondônia e Acre foram, aos poucos, se integrando ao resto do país.
Nos anos 50, o Brasil era agrário, cultivando os chamados "produtos de sobremesa", como café, açúcar e cacau. Com a expansão da fronteira agrícola em direção a essas novas áreas e incorporando novos produtos como a soja e a pecuária de corte, a pauta de exportação brasileira pôde se diversificar.
SÍMBOLO
Além de idealizador da mudança da capital, Juscelino lançou, ainda, as bases para a industrialização rápida do país. Com seu plano de metas, ele sacudiu o Brasil. Em apenas cinco anos ele recriou o país, mas foi Brasília que ficou como símbolo dessa interiorização. Ele não esqueceu as vias de acesso, rasgando estradas onde antes era o nada. "Não se conquista uma terra se não se tem acesso a ela. E a estrada é um elemento civilizador por excelência", dizia.
Foi assim que surgiu a Belém-Brasília, que Jânio Quadros gostava de chamar a "estrada das onças", para unir o Norte ao Sul. Aos poucos, foram aparecendo as ramificações a Leste e a Oeste, as cidades pequenas e grandes, as propriedades rurais modernas, enfim a ocupação do interior num movimento comparável à marcha para o Oeste dos norte-americanos, empreendida mais de um século antes.
Tão surpreendente quanto a construção de Brasília em menos de quatro anos foi a façanha de Juscelino de persuadir tantos integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário a se mudarem para a nova capital deixando as praias do Rio de Janeiro. E tudo isso num ambiente de total democracia com imprensa livre e Congresso atuante.
O enorme fluxo migratório para o interior, em busca do sonho de se fixar em Brasília e arredores não fez do Brasil um país mais justo. Ao contrário, as desigualdades sociais se agravaram. Hoje, nenhuma cidade brasileira espelha tão bem esse drama. Em seu centro, o Plano Piloto, com 300 mil habitantes e a maior renda per capita do país. À sua volta, 15 cidades satélites, com 1,7 milhão, e mais de 20% da população economicamente ativa fora do mercado de trabalho.
Lúcio Costa planejou a cidade sem congestionamentos de trânsito, com justa distribuição da população, sem discriminação social, com emprego e habitação para todos os seus 500 mil habitantes no ano 2000. Houve uma explosão populacional, empurrada pelo êxodo rural e a realidade é bem diferente. Na cidade tombada pela Unesco como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, as carroças puxadas a cavalo dos catadores de papel cruzam com os luzidios carros oficiais nas avenidas do poder.
25/04/2000
Agência Senado
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