"CÂNTICO DO CALVÁRIO"



Artur da Távola encerrou sua homenagem prestada hoje (dia 23) a Luís Eduardo com a leitura de parte de um poema de Fagundes Varela, Cântico do Calvário - À Memória de Meu Filho Morto a 11 de Dezembro de 1868. Segundo disse, leu-o pensando em Antonio Carlos Magalhães, nos familiares de Luís Eduardo e "nos que ficaram".

"Eras na vida a pomba predileta

Que sobre um mar de angústias conduzia

O ramo da esperança. Eras a estrela

Que entre as névoas do inverno cintilava

Apontando o caminho ao pegureiro.

Eras a messe de um dourado estio.

Eras o idílio de um amor sublime.

Eras a glória, a inspiração, a pátria,

O porvir de ter pai! - Ah! no entanto,

Pomba - varou-te a flecha do destino!

Astro - engoliu-te o temporal do norte!

Teto - caíste! - Crença - já não vives!

Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,

Legado acerbo da ventura extinta,

Dúbios archotes que a tremer clareiam

A lousa fria de um sonhar que é morto!

Correi! um dia vos verei mais belas

Que os diamantes de Ofir e de Golgonda

Fulgurar na coroa de martírios

Que me circunda a fronte cismadora!

Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,

E à vossa luz caminharei nos ermos!

Estrelas do sofrer, gotas de mágoa,

Brando orvalho do céu! Sede benditas!

Oh! filho de minha'alma! Última rosa

Que neste solo ingrato vicejava!

Minha esperança amargamente doce!"



23/04/1998

Agência Senado


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