Capital gaúcha sediará o próximo encontro









Capital gaúcha sediará o próximo encontro
O conselho internacional do Fórum Social Mundial -integrado por 58 entidades pôs fim a uma disputa política interna do comitê organizador brasileiro -formado por oito grupos- e decidiu que Porto Alegre sediará a terceira edição do evento em 2003.

O comitê brasileiro havia aprovado que o fórum de 2003 seria "multipolar", sem cidade-sede, com encontros simultâneos em diversas partes do mundo. Oficialmente, a decisão fora tomada para ampliar o caráter mundial do fórum, mas escondia o temor de "partidarização" do FSM.

O fórum tem o apoio institucional do governo do Estado do Rio Grande do Sul e da Prefeitura de Porto Alegre, ambos controlados pelo PT. As ONGs do comitê organizador queriam afastar o fórum de Porto Alegre para evitar uma vinculação com o PT. Avaliam que isso ofusca a apresentação de propostas alternativas ao chamado "modelo neoliberal".

No comitê brasileiro, o maior defensor da manutenção do fórum em Porto Alegre era Carlos Tibúrcio, assessor do petista Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato a presidente, e representante no Brasil da ONG Atack, criada em defesa da taxação das transações financeiras.


Vereador questiona gastos com eventos
A Prefeitura de Porto Alegre será ré em ação popular que é elaborada para cobrar os gastos realizados com o Fórum Social Mundial e o Fórum de Autoridades Locais, que ocorrem paralelamente.
O vereador Sebastião Melo (PMDB), autor da ação popular, disse que vai apresentá-la após o exame de documentos nos quais constam os gastos da prefeitura. Melo conseguiu, na 5ª Vara da Fazenda Pública, uma liminar segundo a qual a prefeitura tinha prazo de cinco dias para entregar as informações com respeito aos gastos. Os documentos foram entregues anteontem.

Outro lado
A Prefeitura de Porto Alegre, consultada sobre a ação popular, disse ontem que fez sua obrigação cumprindo a decisão judicial de entregar os documentos e não irá além disso. Segundo o líder do governo na Câmara, Estilac Xavier (PT), os gastos foram feitos de acordo com o que está previsto na rubrica "despesas correntes".
A prefeitura investiu R$ 818,4 mil, o dobro do que foi investido em 2001, para o primeiro fórum. O governo gaúcho investe na organização do evento R$ 2,3 milhões -no ano passado, o gasto foi de R$ 1,5 milhão.


Ativistas protestarão contra os dois fóruns
Grupos antiglobalização farão ato contra o encontro econômico nos EUA e contra o evento social no Brasil

Ativistas antiglobalização, que fazem protestos simultâneos pelo mundo em encontros de entidades como o FMI e o Banco Mundial, pretendem realizar uma série de manifestações em Porto Alegre durante o FSM (Fórum Social Mundial), que começa amanhã.

A idéia é protestar contra o Fórum Econômico Mundial, que este ano se reúne em Nova York, e também se contrapor ao FSM, considerado "reformista" pelos manifestantes anticapitalistas.

"O FSM é reformista no econômico, tradicionalista no político e conformista no social. Essa esquerda oficial que organiza o encontro tenta capitalizar os movimentos antiglobalização que enfrentaram espetacularmente os poderosos do mundo em Seattle, Praga, Quebec e Gênova", diz Moésio Rebouças, um dos pioneiros do movimento antiglobalização no país, referindo-se ao apoio dos governos petistas do Rio Grande do Sul e da Prefeitura de Porto Alegre ao fórum.

Amanhã, antes da marcha oficial do FSM, programada para começar as 16h30, os ativistas pretendem fazer uma manifestação pacífica, com direito a panelaço, bolas de futebol e bicicletas, ao som de um tango argentino.

"A idéia é fazer um evento criativo e pacífico. Se a polícia for sensata, não vai ocorrer nenhum problema. Por via das dúvidas, estamos levando escudos de borracha", diz Pablo Ortellado, da AGP (Ação Global dos Povos), que organiza o protesto.

Os ativistas, que também pretendem levar capacetes e máscaras de gás para as ruas, acreditam que uma ação repressiva muito forte da polícia iria repercutir negativamente na mídia internacional -essa é a sua segurança.
Devem participar da manifestação ativistas de movimentos autônomos da Espanha, Itália, Argentina e, dos Estados Unidos, devem vir integrantes do Black Bloc, grupo anarquista radical.

Cogita-se a invasão de algum prédio abandonado para realização de debates sobre o movimento antiglobalização no mundo.

Além disso, a FAG (Federação Anarquista Gaúcha) vai realizar, do dia 1º ao dia 5, uma série de palestras, as Jornadas Anarquistas.

"Pretendemos mostrar um projeto alternativo de socialismo libertário, em contraposição ao socialismo autoritário do PT", diz Luciana Souza, da FAG.

Segundo o coronel Wilson Pinto, comandante do policiamento de Porto Alegre, os ativistas estão sendo observados pelos órgãos de inteligência da polícia para "não sermos pegos de surpresa".

"Temos informações de que algumas coisas podem acontecer, mas torço para que não haja problemas. Como é um evento internacional, temos a preocupação de não cometer erros. A polícia não é violenta por natureza, mas estamos preparados para reprimir qualquer anarquia que se tentar fazer", diz.

Crítica das ONGs
Os métodos violentos dos grupos que se intitulam anarquistas são condenados por líderes das principais ONGs que participam do Fórum Social. Para Susan George (Attac-França), organizações como o Black Bloc são antidemocráticas.

"Queremos um mundo democrático e nosso movimento é democrático. Na Itália, o encontro foi preparado durante meses por mais de 700 organizações, que trabalharam muito para chegar a um consenso. Isso foi desprezado pelo Black Bloc, que chegou no último momento com sua agenda individualista, desprezando os demais", disse George.

Ela observou que a "violência estrutural" -fome, desemprego, miséria- ou a repressão do Estado são "muito mais graves" do que qualquer manifestação de rua, mas afirmou que protestos violentos são uma "estratégia ingênua" porque permitem a infiltração de agentes policiais e desviam o foco da mídia das propostas do movimento social.


Garotinho cresce 7 pontos e está em 3º lugar com 15%, diz pesquisa CNT
O pré-candidato do PSB à Presidência e governador do Rio, Anthony Garotinho, apresentou o maior crescimento na pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem, chegando ao terceiro lugar com 15,1% das intenções de voto. No mês passado, tinha 7,9%.

A CNT (Confederação Nacional dos Transportes), cujo presidente, Clésio Andrade, é filiado ao PFL, considera que o crescimento de Garotinho se deve à sua participação nas inserções do PSB no rádio e na televisão e à campanha de divulgação da queda dos índices de violência no Rio de Janeiro. De 5 a 11 de janeiro, o governador foi a estrela das 40 inserções de 30 segundos do PSB na TV.

Nas simulações em que o ministro José Serra, pré-candidato do PSDB, não é incluído, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) chega a ficar em primeiro lugar, empatada tecnicamente com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesse caso, a pefelista atinge 28,3% das intenções de voto, e Lula, 26,4%. Em um segundo turno, Roseana ganha de Lula com quase oito pontos percentuais de diferença.

Quando Serra é o único candidato governista, Lula e Garotinho lideram com 32,4% e 19,3%, respectivamente. Serra, em terceiro, atinge 13,6%. Lula ganharia um segundo turno com Serra com 12,8 pontos de diferença.

Serra oscilou 1,5 ponto percentual em um mês, passando de 5,5% para 7%. A maior queda foi do governador Itamar Franco (PMDB-MG), que ficou com 3,8% das intenções de voto. Nesse período, Lula e Roseana perderam cerca de um ponto. Ciro Gomes, pré-candidato do PPS, tem 7,4%.

A pesquisa, qu e tem margem de erro de três pontos percentuais, ouviu 2.000 pessoas entre 17 e 24 de janeiro, em 24 Estados.


PFL compara Roseana a Bill Clinton em gravação de TV
Programa partidário será veiculado amanhã e ainda pode mudar

Em uma das gravações do PFL para o programa partidário de TV, a presidenciável Roseana Sarney é equiparada a Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, que deixou o cargo com 68% de aprovação. A passagem em que é feita a comparação já está pronta, mas até ontem não estava definido se seria aproveitada no horário partidário veiculado amanhã.

O PFL avalia que, longe do início oficial da campanha, em 6 de julho, é o momento de quebrar tabus e de fixar seu nome como pré-candidata. Para isso, a produtora contratada pelo PFL, sob a coordenação de Nizan Guanaes, preparou dois pequenos comerciais.

No primeiro, um homem que joga cartas com a mulher pergunta se Roseana, como governadora de um "Estado pequeno" (o Maranhão), teria competência para comandar um país. A mulher cita Bill Clinton, que também foi governador de um "Estado pequeno" (o Arkansas).

Apesar de ser considerado o presidente do maior período de prosperidade consecutiva dos EUA, Clinton se viu envolvido em acusações e, 1998, foi alvo de um processo de impeachment.

Na segunda passagem, há vários homens jogando sinuca. Um deles pergunta se Roseana seria "mandada pelo marido". "Você é mandado por sua mulher?", rebate um dos atores. Esses comerciais não foram bem avaliados na pesquisa qualitativa feita pelo PFL. A preferência foi por diálogos diretos, com índices do Maranhão e ações de combate ao crime.

Em uma entrevista, Roseana discorre sobre a segurança em seu Estado. "A questão da segurança é uma questão de comando. O ônus é meu, é do governo", diz a pefelista, em um ataque implícito ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que, após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), pediu auxílio ao governo federal.

Deverá ser apresentado ainda um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que mostra uma queda de 13% no índice de pobreza no Maranhão, enquanto que no país a redução foi de 5%. Por R$ 17,35 milhões e sem licitação, Roseana contratou a FGV do Rio para dar assessoria ao Estado. Quatro meses antes, o "Mapa do Fim da Fome" colocou o Maranhão como o Estado com o maior percentual de indigentes do país.


Para Lula, governistas irão se unir
Pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem duvidar que os partidos da base governista -PSDB, PMDB e PFL- tenham candidaturas separadas na eleição. "Eu não acredito nisso. Acho que todos, no fim, vão se unir."

Lula participou da cerimônia de posse do diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Luiz Pinguelli Rosa, no Rio. Ele não quis comentar as pesquisas desta semana do Ibope e CNT/Sensus, que registraram seu recuo na intenção de votos e a ascensão de Anthony Garotinho.

"A única coisa que eu sei é que toda a direita desse país e todos os governadores estão frequentando tudo quanto é lugar sagrado, terreiro de umbanda, para encontrar um jeito de o PT não ganhar essas eleições", disse Lula.

Para ele, só em abril será possível falar em candidaturas consolidadas. "Vai chegar o momento em que os times vão entrar em campo. Aí, quem tiver time ganha, e quem não tiver, perde."

Lula não poupou críticas à candidatura de Roseana Sarney (PFL), que chamou de "pirotecnia", e à propaganda do PFL que tenta relacionar o PT à situação argentina. "Roseana insinuou que, se o PT ganhasse, o Brasil poderia virar a Argentina. Argentina era quando o pai dela [o ex-presidente José Sarney" governava e a inflação chegou a 80% ao mês."

O petista também desqualificou a administração da governadora. "Eu acho que o Maranhão tem coisas bonitas, mas as coisas bonitas que o Maranhão tem foram feitas pela natureza. Não foram feitas pela Roseana", disse.

Segundo Lula, quem conhece o Maranhão sabe que 80% da população vive o avesso daquilo que é mostrado no programa. "É um Estado muito pobre, não tem política social. Isso não é nem culpa só dela, é culpa de uma oligarquia que governa aquilo há anos."

Lula também comentou o documento divulgado anteontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) reivindicando mudanças na economia. "Acho saudável que a Fiesp tenha produzido uma proposta e tenho certeza de que a proposta, do ponto de vista da política tributária, se aproxima muito mais do que a esquerda pensa sobre tributação do que da direita."

Quanto às prévias do PT, Lula disse que não vai "sair pedindo voto". "Minha disposição de lutar para ganhar as eleições é 100% como candidato ou cabo eleitoral." Ele afirmou que não debaterá nas prévias com o senador e pré-candidato Eduardo Suplicy. "Duas pessoas devem debater quando elas têm divergências, e não é esse o meu caso com o Eduardo."


De olho em Serra, PMDB quer esvaziar prévia
A prioridade da cúpula do PMDB ainda é inviabilizar a prévia presidencial marcada para 17 de março, mas o "plano B" é esvaziar a disputa para, no dia seguinte, dizer que as bases deram um recado a favor de uma aliança e tentar fechar com José Serra, ministro da Saúde e pré-candidato tucano ao Planalto.

Fracassou a tentativa de convencer o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, e o senador Pedro Simon (RS) a desistir da disputa. Se for inevitável, os governistas farão o boicote, facilitado por uma regra fixada por eles mesmos que exige a presença de 50% mais um dos cerca de 16 mil votantes na prévia.

Como tiveram mais de 60% dos votos na última convenção, os governistas avaliam que conseguiriam esvaziar o encontro e adotar o discurso de que isso seria uma demonstração da inviabilidade dos pré-candidatos.

Além de Simon e Itamar, está inscrito o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), que já admitiu desistir se o governador Jarbas Vasconcelos (PE), peemedebista mais cotado para vice de Serra, fizer o pedido.

Para tentar garantir a prévia, Simon e Itamar fecharam um acordo. Itamar não quer disputar a Presidência, mas vai manter a pré-candidatura e despejar votos em Simon, que ainda tem quatro anos de mandato como senador.

"Não vamos deixar a cúpula vender o partido", diz o ex-deputado federal Paes de Andrade (CE), que tenta, a partir de hoje, colher um terço das assinaturas dos 514 convencionais para convocar um encontro extraordinário em 3 de março e garantir a prévia. Paes quer que, independentemente do quórum da prévia, a convenção oficial de junho seja obrigada a homologar o nome do vencedor como candidato.

Por isso, antes de optar pelo "plano B", a cúpula do PMDB tentará inviabilizar a prévia. Uma idéia é propor a Simon que renuncie ao mandato de senador para mostrar disposição de correr risco com o partido.

Em dezembro, numa reunião na casa do deputado Eunício Oliveira (CE), em Brasília, Simon disse que seu objetivo não era vencer, mas vender a imagem do PMDB na TV na campanha.

A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem diminuiu ainda mais a chance de Itamar concorrer ao Planalto. Itamar caiu de 9,1% para 3,8% no intervalo de um mês.

"A pesquisa mostra que o PMDB não tem candidato viável. O Itamar está empatado tecnicamente com o Enéas [Carneiro, do Prona, com 1,6%". O Enéas, aliás, tem posições mais firmes do que o Itamar, que não sabe se quer ser candidato a presidente ou a governador de Minas Gerais", diz o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Geddel é defensor de Serra.

Um estrategista de Itamar disse que o governador vai apoiar Simon e cuidar de sua vida em Minas. Mais à frente, se o PMDB se aliar a Serra, Itamar apoiará o PT .


Serra vive dublê de ministro e candidato com aval de FHC
Pelo celular, presidente pede a senador que trabalhe por tucano em Alagoas

Fernando Henrique Cardoso alcançou o senador Teotonio Vilela Filho (PSDB-AL) às 10h de ontem no café do hotel Ritz, na orla marítima de Maceió. Queria cumprimentá-lo por seu 51º aniversário. Teo, como é chamado, contou que aguardava pelo ministro José Serra (Saúde) para uma maratona de viagens pelo interior que se estenderia até o final da tarde.

"Estou trabalhando pela pátria", disse. "Trabalhe pela pátria e pelo Serra", respondeu FHC. "É a mesma coisa", completou Teo, antes de desligar o celular.

Assim começou mais um dia do tucano Serra, uma rotina desde que ele se lançou para a Presidência, no dia 17 passado. Com uma diferença: desapareceu a tênue linha divisória que separava os atos oficiais do ministro da Saúde dos atos do ministro em campanha.

Já no primeiro compromisso do dia, a assinatura de um protocolo de cooperação com o governo de Alagoas para a criação de um centro de oncologia, o ministro foi recebido com a faixa "PSDB-AL saúda Serra presidente em 2002".

No seu discurso, disse que gostaria de contar com o apoio do governador Ronaldo Lessa, embora soubesse que ele deveria apoiar o candidato de seu partido, o PSB (Anthony Garotinho). Lessa retribuiu: elogiou Serra pela atenção a Alagoas e o chamou inadvertidamente de "presidente". Mas logo emendou: "Se o Garotinho souber, levo uma surra".

Serra diz que ainda não está propriamente em campanha. "É só um aquecimento." O aquecimento, na semana, praticamente o tirou de seu gabinete em Brasília: anteontem esteve em Recife e Passira (PE), ontem em Maceió, Boca da Mata, Santana do Ipanema e Porto Real do Colégio, na Zona da Mata e no sertão alagoanos. Hoje estará em Sinop (MT).

Reclamou que a imprensa não deu bola à meta que ele anunciou de reduzir a mortalidade infantil. "O que perguntam é se vou jantar com a Roseana [Sarney", se o Itamar [Franco" será vice, se convidou o Jarbas [Vasconcelos"."

A propósito, a conversa com Roseana está congelada. Jarbas (PE) ainda tem dúvida se aceita compor a chapa com Serra. Sua reeleição é considerada garantida.

Serra já optou pelo PMDB, mas não larga o discurso da unidade. Diz que é sua intenção "reproduzir a aliança que governa o Brasil". Segundo o tucano, governos com minoria "acabam naufragando". "Vide o que aconteceu na Argentina e no governo [Fernando" Collor." Renan Calheiros (PMDB), que acompanhou o ministro, deve compor com Teo para montar o palanque no Estado.

Cascalho
Serra, Teo, Renan, o deputado José Thomás Nonô (PFL) e comitiva seguiram para Boca da Mata (70 km de Maceió) em três helicópteros. Um deles alugado pelo governo estadual. Na véspera, caçambas da prefeitura descarregaram cascalho na estrada de terra que leva ao povoado de Ouro Branco para deixá-la transitável.
Sob calor de quase 40C, ganhou de presente uma garrafa de cachaça "Serra Grande". Mais uma faixa: "Bem-vindo futuro presidente". Uma banda executou "Another brick in the wall", do Pink Floyd, cuja tradução quer dizer "um outro tijolo na parede".

Na saída de Ouro Branco, onde o ministério financia obras de saneamento, um escudo do Palmeiras, time do ministro, na parede de uma casa, levou Serra a interromper a viagem. Coincidência ou não, a dona da casa, Doraci dos Santos, é atendida pelo programa de assistência familiar. "Diabético precisa fazer regime", recomendou o dr. Serra, personagem usual das viagens do ministro-candidato. Serra despediu-se sem saber se ganhara um voto. Mas convencido de que botara um outro tijolo na parede.


Artigos

Muito além da ficção
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Fosse brasileiro, Gabriel García Márquez não precisaria ser ficcionista para desenvolver o seu formidável realismo mágico. Bastaria ser cronista da realidade tupiniquim, que supera, com frequência, a mais delirante ficção.

O caso do panelaço à carioca, ocorrido anteontem, é um desses momentos. Começa com o fato de que policiais são acusados de sequestro. Em qualquer lugar do mundo, já seria espantoso. No Brasil, é da rotina. Continua com o fato de que, segundo a comunidade de dois morros cariocas, o sequestrado não foi devolvido nem depois de pago o resgate.

Aí, já é demais. Pelo menos os bandidos comuns, em geral, devolvem a sua presa quando o resgate é pago. Já os policiais...

Tem também a mobilização comunitária para pagar o resgate, que se diz ter sido de R$ 500 mil. Nem importa tanto se o sequestrado era um traficante, como acusa a polícia, ou um promotor de bailes "funk", como diz a comunidade. É dinheiro para ninguém botar defeito.

Se eu fosse sequestrado, e mesmo que tivéssemos todo esse dinheiro, não aconselharia a família a pagar tanto pela minha vida.

Mas, para o pessoal do morro, o preso era valioso a ponto de, primeiro, mobilizar-se para arrumar o dinheiro e, depois, mobilizar-se de novo para promover saques e confrontos com policiais quando se verificou que o pagamento fora inútil.

Falta agora vir o presidente da República afirmar de novo que "passou dos limites". Que distraído que o senhor anda, presidente. A violência no Brasil já havia passado dos limites antes mesmo de o senhor assumir, faz sete anos. Tanto que segurança era um dos dedos da mão espalmada que indicava suas prioridades. Dedo decepado pelos fatos.

Presidente, leia por favor o texto de Rubem Alves, publicado ontem por esta Folha. Lá diz: "Um Estado incapaz de punir os criminosos deixou de ser Estado".

É esse Estado que o senhor chefia, presidente. Acorde, pelo amor de Deus.


Colunistas

PAINEL

Esforço de união
Preocupado com a oscilação de Lula nas pesquisas e com o crescimento de Garotinho (PSB), o PT intensificou as negociações com Ciro Gomes (PPS). Os petistas acham que conseguem convencê-lo a ser o vice na chapa de Lula.

Pelotão de choque
Dois petistas são os responsáveis pela negociação com o PPS. Aloizio Mercadante tem procurado Ciro constantemente. José Dirceu fala sempre com Roberto Freire. Mas a missão, no círculo do presidenciável do PPS, é considerada quase impossível.

Chapéu alheio
Serra prometeu apoiar Michel Temer ao Senado em SP se o PMDB aderir à sua candidatura a presidente. Dificuldade: Orestes Quércia, que controla o PMDB paulista, não deverá permitir o lançamento do presidente nacional do partido.

Estoque de campanha
Cotado para vice de Serra, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tem à disposição cerca de R$ 700 mi para gastar com investimentos em Pernambuco neste ano. É o saldo da privatização da central elétrica do Estado.

Mês estratégico
Parte do dinheiro será usada por Jarbas para concluir a duplicação da rodovia Recife-Caruaru, que ele quer inaugurar em agosto, em plena campanha.

Afastar do passado
No programa de TV de amanhã do PFL, Roseana responderá a perguntas de "eleitores". Será questionada, por exemplo, sobre o relacionamento com seu pai, José Sarney. "Amo meu pai, tenho muito respeito por ele, mas na vida política eu sou eu e ele é ele", dirá Roseana.

Ser ou não ser
Nizan Guanaes encontrou-se ontem com FHC e deixou o Planalto ainda mais confuso. Por um lado, quer agradar o presidente. Por outro, prefere fazer a campanha de Roseana porque não se dá bem com Serra.

Peso demais
O camarote das autoridades na micareta de Aracaju (SE) quase desabou e teve de ser esvaziado às pressas na madrugada de domingo. O governador Albano Franco (PSDB) e o prefeito Marcelo Déda (PT), adversários, estavam no camarote.

Carta na manga
Garotinho (PSB-RJ) praticamente fechou apoio de oito partidos nanicos à sua candidatu ra a presidente, dobrando o tempo de TV no horário eleitoral (de dois para quatro minutos).

Por tabela
Garotinho poderá dispor dos programas de TV dos nanicos, ainda que indiretamente, já neste semestre. O PAN terá dois minutos no intervalo do Jornal Nacional no dia 7 de fevereiro e deverá exibir obras do governador do Rio de Janeiro. O PSL e o PST devem fazer o mesmo.

Grande ausente
O plano da Fiesp para debate com presidenciáveis diz que a sociedade anseia por trabalho, segurança e esperança. Propõe metas para saúde, emprego e educação, mas nada sugere sobre segurança pública, atual prioridade dos partidos.

Discurso unificado
A bancada federal do PT reuniu-se ontem em Brasília com os três formuladores do programa de segurança de Lula. Todos os deputados, incluindo José Genoino, foram desautorizados a defender prisão perpétua para sequestradores, medida que não faz parte do plano petista.

Visita à Folha
Cláudio Luiz Lottenberg, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado do vice-presidente, Bernardo Parnes, da assessora de imprensa Elenice Cruz e do jornalista Bernardo Lerer, da Lauda Textos.

TIROTEIO

Do senador Tião Viana (PT-AC), sobre o Congresso discutir a questão da segurança pública:
- Se não levar adiante o processo de cassação de José Aleksandro, o Congresso vai mostrar que toda essa preocupação em torno da segurança pública é um mero blablablá. O deputado é um dos grandes sustentáculos do crime organizado no Acre.

CONTRAPONTO

Apoio de ocasião
Nas eleições de 2000, a governadora Roseana Sarney (PFL) apoiou a candidatura de Jackson Lago (PDT), que se reelegeu prefeito de São Luís (MA). Lago, adversário histórico da família Sarney, que controla a política no Maranhão há mais de três décadas, colocou o passado de lado para vencer João Castelo (PSDB). No primeiro turno, os adversários do prefeito ressaltaram sua "mudança de lado".
No segunda fase, Lago também procurou o senador Epitácio Cafeteira (PPB), adversário de Roseana na eleição de 98. Queria que Cafeteira aparecesse no horário eleitoral de TV.
O senador recusou o convite fazendo piada:
- Jackson, você sabe que estão dizendo por aí que você foi comprado. Se eu aceitar seu convite, vão espalhar que Roseana aproveitou a promoção: levou dois pelo preço de um.
Os dois deram risadas.


Editorial

PROTEÇÃO ESPIRITUAL

No dia 11 de setembro de 2001, os EUA foram vítimas de uma agressão inominável. Os ataques terroristas contra Nova York e Washington não encontram justificativa moral por nenhum ângulo que se analise. Mas, infelizmente, o presidente George W. Bush está se utilizando da posição de vítima para tentar justificar o injustificável.

O tratamento que os EUA vêm dispensando aos militantes do Taleban e de Al Qaeda capturados no Afeganistão avilta o direito internacional. Embora Bush tenha dito que poderá reconsiderar o estatuto dado aos prisioneiros, ele deixou claro que em nenhuma hipótese "assassinos" ficariam na condição de prisioneiros de guerra, que são protegidos pelas Convenções de Genebra.

O máximo que os cativos poderiam obter é o reconhecimento como combatentes irregulares, que recebem uma proteção mais fraca das Convenções. Um prisioneiro de guerra pode, por exemplo, recusar-se a responder a um interrogatório. Um irregular, não. Bush disse que os EUA poderão aderir ao "espírito das Convenções de Genebra".

Os EUA já anunciaram que poderão julgar os militantes do Taleban e de Al Qaeda em tribunais militares. Há aí o reconhecimento tácito de que eles são prisioneiros de guerra, ou a corte marcial seria descabida.
A precariedade da posição americana é tamanha que vem sendo alvo de críticas até por parte de países aliados, sem mencionar as organizações de defesa dos direitos humanos.

Um país, por mais poderoso que seja, não pode escolher quais trechos dos tratados internacionais ele vai respeitar. É fundamento básico do Direito que os réus sejam julgados segundo regras preestabelecidas, e não que as regras sejam criadas conforme o tipo de criminoso que se quer julgar. Quando isso acontece, é porque a lei deu lugar à vingança.


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01/30/2002


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