Casa das Rosas abre para o público a biblioteca de Haroldo de Campos
Eclético, o acervo de 20 mil exemplares inclui raridades e obras de literatura, poesia e crítica literária
Passou a vida lendo, escrevendo e traduzindo. Dizer isso do poeta, tradutor e um dos lançadores da poesia concreta no Brasil, Haroldo de Campos (1929-2003), não é exagero. Ao longo de sua vida, reuniu livros (especialmente de literatura, poesia, arte, crítica literária e teoria da linguagem), catálogos, dicionários, periódicos, teses e cartas que somam 21 mil volumes. Em muitos deles, deixou marcas de sua leitura com comentários e anotações feitos nas margens das páginas e no final do livro.
A quase totalidade do acervo (20 mil obras) está na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. O restante permanece com a família.
Essa biblioteca está aberta ao público desde o dia 8 de dezembro do ano passado. Embora estivesse no local desde 2003, quando foi doado pela família, o acervo não havia sido aberto aos interessados por falta de catalogação. A tarefa ainda não está finalizada.
Quem quiser tomar contato com a biblioteca particular do poeta, basta ir até a Casa das Rosas e fazer a solicitação. O público não tem acesso ao local onde estão guardadas as obras (subsolo do prédio), mas pode consultar o catálogo no endereço eletrônico (veja boxe) ou pedir pessoalmente ao atendente da biblioteca.
Na Casa das Rosas, uma sala destina-se à leitura das obras do poeta (no primeiro andar). Há, ainda, espaço reservado para exposições temporárias (três meses de duração) do acervo, localizado no térreo. Nesse local, estão os dez mais importantes títulos de Haroldo, de acordo com a seleção feita pelo crítico Trajano Vieira, especialista em literatura. Entre eles, estão Macunaína; Tempo Espanhol, de Murilo Mendes; Anne, Editora Klamplen; Ilíada, de Homero. Além do acervo de Haroldo, há uma biblioteca especializada em poesia da qual o interessado pode levar os livros para casa.
Acervo eclético
Gênese de Andrade, pós-doutoranda da Universidade de Campinas (Unicamp), conhece bem a coleção e acredita que o poeta tenha lido boa parte do acervo. Essa afirmação se baseia nas traduções feitas, nas críticas literárias publicadas e nas marcações deixadas nas páginas de muitos exemplares. Por exemplo, as páginas de Formação da Literatura Brasileira (Momentos Decisivos), de Antônio Cândido, estão repletas de grifos e comentários. Gênese diz que o poeta escrevia (com caneta) nas margens dos livros, sem se incomodar se eram raridades ou não. “Ele não tinha pudor, marcava mesmo e fazia suas observações”.
Recebiam mais marcas aqueles usados em suas críticas literárias ou que lhe serviam de estudo, conta Gênese. Ao final desses livros, é comum encontrar uma lista dos comentários com indicação das páginas em que foram feitos. Entre as raridades, está um exemplar da primeira edição de Macunaíma e de Aspectos da Literatura Brasileira, de Mário de Andrade, a primeira edição de Marco Zero I (1943) e Marco Zero II (1945), de Oswald de Andrade, e 15 volumes do padre Antônio Vieira, edição portuguesa de 1945. O livro de Mário de Andrade foi objeto de sua tese de mestrado e o poeta e crítico francês, Stéphane Mallarmé, de seu doutorado. Autores consagrados – Das obras preferidas, guardava muitos exemplares e em várias línguas. É o caso de Ilíada e Odisséia de Homero; Fausto, de Goethe; A Interpretação dos Sonhos, de Freud; e obras de Walter Benjamin, Nietzsche, Ezra Pound, James Joyce e Shakespeare. Dos escritores hispano-americanos, destacam-se obras de Octavio Paz (com quem trocou correspondência), Severo Sarduy e Júlio Cortázar. Foi o poeta quem intermediou a publicação desses autores no Brasil e prefaciou os primeiros exemplares editados no País. Há exemplares de Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, Jorge Luis Borges e Pablo Neruda.
Reconhecido como um dos mais importantes poetas do século 20, traduziu autores consagrados – Homero, Dante Alighieri, Mallarmé, Goethe, Maiakovski, textos bíblicos do Gênesis e Eclesiastes. Por conta desse trabalho de tradutor, há muitos dicionários dos dez idiomas que o poeta dominava (português, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, grego, latim, russo, japonês e hebraico) e também de húngaro, theco, tupi, aramaico, chinês, coreano, asteca, xavante. Chama a atenção o Grande Dicionário Alemão, dos Irmãos Grimm, famosos pelas narrativas de fábulas infantis. Serviço
A Casa das Rosas
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37 – Bela Vista
De terça-feira a sábado, das 10 às 18 horas
Outras informações, pelos telefones
(11) 3285-6986 e 3288-9447
Catálogo da biblioteca Haroldo de Campos:
Para fazer empréstimos na livraria especializada em poesia,
interessado precisa levar RG e comprovante de residência
(originais e cópias) e uma foto 3x4. Taxa: R$ 10
Da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
02/20/2008
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