Centro cultural ganha prêmio por contar história da relação Brasil-África



Centro cultural criado a partir de um cemitério, em 2006, e que hoje recebe alunos e professores da rede de ensino, será premiado, na próxima semana, pelo Ministério da Cultura, pelo mérito de preservar as relações de memória entre o Brasil e África. Em 2010, o centro atendeu cerca de 400 alunos.

Localizado na zona portuária da capital fluminense, o local abriga uma casa colonial que guarda um acervo arqueológico com registros da história do Brasil Colônia: são restos mortais de africanos escravizados no século 18, que não resistiram ao tráfico e foram ali enterrados.

A descoberta do Cemitério dos Pretos Novos, como é conhecido o lugar, foi feita por Merced Guimarães e seu marido, há 14 anos, quando eles reformavam a casa em que moravam e que hoje é o centro cultural.

O fato surpreendeu aos donos do imóvel e a historiadores, deu origem a inúmeras pesquisas e fez com que Merced e o marido transformassem o local num símbolo "do holocausto dos negros". Merced define assim o centro cultural numa referência à escravização de africanos que, no Brasil, resultou na morte de milhares deles.

"Encontramos o cemitério, que era tido como uma lenda. Representa um história rica, de relação com a África, marcada por um holocausto, um crime contra a humanidade", destacou Merced, que é diretora-presidente da instituição.

Agora, ela pretende investir o dinheiro do prêmio na melhoria da infraestrutura do  centro cultural, que passa por dificuldades financeiras. 

Segundo Merced, os recursos serão aplicados na organização da parte administrativa, na montagem de uma biblioteca e para o pagamento de parte das despesas. "Incentivamos a educação. O conhecimento do passado para o presente, mas temos que pagar contas", disse. A instituição cultural funciona como Ponto de Cultura, iniciativa cultural da sociedade civil que conta com recursos federais e estaduais.

O Cemitério dos Pretos Novos está localizado entre os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, correspondente ao entreposto conhecido como Valongo, por onde os historiadores estimam a passagem de cerca de 1 milhão de africanos escravizados. No local, os estudos indicam que os escravos eram enterrados em covas coletivas e muitos até mesmo vivos, por estarem doentes.

Até os dias atuais, a zona portuária é marcada pela história da escravidão. A região é chamada de Pequena África e abriga o monumento A Pedra do Sal, núcleo simbólico do trabalho dos estivadores, negros recém-libertos, e que também faz referência à origem do samba. No bairro, está ainda o Centro Cultural José Bonifácio, de referência à cultura afro-brasileira.


Fonte:
Agência Brasil



18/10/2010 12:15


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