Congresso discute desafios à produção familiar de leite



O primeiro dia de trabalhos do 12º Congresso Internacional do Leite, nessa quarta-feira (6), reuniu cerca de 700 profissionais, acadêmicos, empresários, empreendedores do setor produtivo leiteiro no 12º Workshop de Políticas Públicas voltadas para o segmento.

Especialistas e estudiosos nacionais e internacionais trataram dos desafios para a agricultura familiar, com foco na produção de leite. Um dos assuntos abordados foi a sucessão no campo que, segundo especialistas, está comprometida. No entanto, também destacaram que existem ações que se apresentam favoráveis à produção de leite. O evento é realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e parceiros e está acontecendo no anfiteatro da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Porto Velho (RO).

A produção leiteira tem papel importante na estruturação da agricultura familiar, não somente por oferecer ocupação de mão-de-obra da família, mas pela oportunidade de geração e aumento real de renda em curto espaço de tempo. Mas, mesmo aparecendo nas diversas regiões do País como um elemento de produção importante, as condições de permanência na atividade leiteira são incertas. Ao retornar ao campo, após a ida para a cidade em busca de estudo, os jovens enfrentam dificuldades para se integrarem à realidade. Isto compromete a sucessão nas famílias produtoras e a mão-de-obra rural.

Essa discussão foi levada aos participantes do congresso pelo pesquisador Vilson Marcos Testa, do Centro de Pesquisa da Agricultura Familiar da Epagri (SC), durante a palestra “A agricultura familiar como estratégia para o aumento da produção de leite no Brasil”. Para o pesquisador, são grandes os desafios enfrentados pela agricultura familiar e, entre eles, destaca-se a falta de política de cotas de produção e acesso ao mercado, a isenção crescente dos encargos sociais sobre a mão-de-obra assalariada, a predominância do desenvolvimento tecnológico voltado para produção e a não vinculação do crédito rural à assistência técnica e extensão rural e a sistemas tecnológicos de produção mais adequados.

Entretanto, a agricultura familiar tem demonstrado capacidade grande de produção, acompanhando a crescente demanda por leite e derivados. Várias regiões, inclusive Rondônia, têm aumentado sua produção de forma expressiva.

A América Latina conta hoje com mais de três milhões de produtores de leite em 19 países. Destes, apenas 387 mil são produtores empresariais, o que revela a predominância dos pequenos e médios produtores na atividade leiteira.  No Brasil essa atividade está presente em 1,8 milhões de propriedades rurais e 80% são de unidades familiares que produzem leite. “Em Santa Catarina esse índice chega a 90%”, diz o pesquisador, que não acredita que o País será exportador de leite e derivados para o comércio internacional e nem que atingirá índices iguais aos dos europeus, onde o clima é mais frio, mas garante que é possível trabalhar com uma média de 160/180 litros de leite per capita comercializado.

Exemplo de Sucesso

A experiência da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios serve de inspiração para as outras regiões do país elencarem medidas práticas para o desenvolvimento da produção leiteira, com qualidade e sustentabilidade. O presidente da associação, Ernesto Krug, reforçou a importância de ser feito um diagnóstico para conhecer o perfil dos produtores de cada região e, assim, ser capaz de identificar o sistema produtivo adequado, as ações e os investimentos cabíveis.

No Rio Grande do Sul, foram organizadas viagens técnicas internacionais para técnicos e dirigentes trazerem mais conhecimento para a atividade local. Foi criado um plano de capacitação em diversos temas envolvendo quase 20 mil produtores rurais, além de reuniões periódicas. A Associação também organizou parcerias públicas e privadas e buscou crédito rural atrelado à assistência técnica.

Os membros da Associação foram divididos em grupos especializados em determinada área – mecanização, cria, recria, produção de silo –, reduzindo os custos individuais e globais. Cuidados com higiene na ordenha, vacinação, controle nutricional do rebanho, banco de sêmen, controle de mastite, pagamento por qualidade e por produtividade na entressafra são algumas outras medidas lideradas pela Associação.

“Investimos ainda em Unidades de Referência para 100 litros/dia, segundo os parâmetros dos nossos programas. Assim, os produtores podem replicar o modelo para 200, 300, 500 litros/dia”, destaca Krug, que percebe o impacto de todo o trabalho no aumento do interesse do jovem em permanecer no campo.

Numa visão mais teórica, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Fábio Homero Diniz, fala em três recomendações com vistas à sucessão na propriedade leiteira: planejamento do processo sucessório, diálogo entre pais e filhos e inclusão do jovem nas decisões gerenciais da propriedade desde cedo.

“Os pais deveriam conhecer os projetos de vida dos filhos e os filhos deveriam ouvir as expectativas dos pais. A perda de função social e da centralidade na família pesa para o produtor deixar a atividade e repassá-la a seu filho. Ao mesmo tempo, este filho se vê desestimulado a assumir um trabalho penoso, de baixa rentabilidade e baixo reconhecimento social. Portanto, é necessário alinhar os pontos de vista para encontrar o meio de manter a atividade economicamente vantajosa”.

Panorama
Considerado satisfatório pelos participantes, o primeiro painel do 12º Congresso Internacional do Leite teve como moderador o secretário de Agricultura, Pecuária e Regularização Fundiária de Rondônia, Evandro Padovani, e contou ainda com as palestras: “Fatores decisivos para o avanço da pecuária leiteira na agricultura familiar”, ministrada por Ariel Londinscky, da Federação Panamericana de Leite (Fepale) e “Sucessão da agricultura familiar – como preparar o futuro das propriedades leiteiras” com o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios, Ernesto Ênio Budke Krug e com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Fábio Homero Diniz.

O evento é realizado pela Embrapa, em parceria com o Governo de Rondônia, com patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Ministério da Educação, Instituto de Estudos e Pesquisas Agroambientais e Organizações Sustentáveis (Iepagro), Casale e Produquímica e segue até esta sexta-feira (8).

Fonte:

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária



08/11/2013 18:15


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