Crianças e jovens têm alto índice de colesterol, diz pesquisa



Estudo analisou amostras de sangue de 2 mil pessoas

Estudo realizado por pesquisadores do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) encontrou altos índices de colesterol e triglicérides em crianças e adolescentes. O resultado surpreendeu até mesmo os especialistas que, durante oito anos, analisaram amostras de sangue de aproximadamente 2 mil crianças e adolescentes entre 2 e 19 anos. Os exames foram realizados em pacientes atendidos no Ambulatório de Dislipidemias e em ambulatórios especializados do HC, principalmente na área de pediatria.

De acordo com a literatura especializada, o colesterol em crianças e adolescentes deve ser inferior a 170 miligramas por decilitro (mg/dL) e os triglicérides menores que 100 mg/dL. Os resultados encontrados pelos pesquisadores do HC nas medidas analisadas de lipoproteínas do LDL-colesterol (considerado “ruim”), do HDL-colesterol (tido como “bom”) e dos triglicérides foram muito alterados, tanto em meninas como em meninos.

Das crianças entre 2 e 9 anos, 44% apresentaram valores alterados para o colesterol total, 36% para o LDL-colesterol e 56% para os triglicérides. Entre os adolescentes de 10 e 19 anos, 44% mostraram alterações para o colesterol total, 36% para o LDL-colesterol e 50% para os triglicérides. A pesquisa indicou também que houve redução de HDL-colesterol em 44% das crianças e em 49% dos adolescentes.

“Os resultados obtidos direcionam a ação para uma abordagem também preventiva. Devemos programar medidas de intervenção nessas faixas etárias para o diagnóstico precoce e correto das suas causas e seu respectivo tratamento. Assim, podemos retardar a progressão da aterosclerose e de suas complicações, principalmente cardiovasculares, além de evitarmos a pancreatite aguda, causada pelo aumento de triglicérides”, explica a professora Eliana Cotta de Faria, do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O estudo retrospectivo de análise clínico-laboratorial foi conduzido pela professora Eliana, com a colaboração do patologista clínico Fábio Bernardi Dalpino e da pediatra Raquel Takata.

Fatores de risco – Nas crianças, existem várias causas de dislipidemias (aumento anormal da taxa de lipídios no sangue). Entre as moléstias que podem causar a alteração, as principais são as doenças renais, as doenças de fígado, as endócrinas (como a obesidade), o diabete mellitus e o hipotireoidismo, além de várias de origem genética.

Do ponto de vista do estilo de vida contemporâneo, o estresse emocional, o sedentarismo e a alimentação inadequada são fatores que contribuem para o aumento da prevalência da obesidade e sobrepeso, que ocasionam doenças relacionadas às dislipidemias.

De acordo com a professora Eliana, a aterosclerose começa na vida intra-uterina e se manifesta, clinicamente, por meio de angina, infarto agudo do miocárdio, derrames cerebrais e aneurismas na vida adulta, por volta dos 45 anos nos homens e 55 anos nas mulheres.

“Os fatores de risco para a aterosclerose são inúmeros. As dislipidemias são fatores de importância primordial e, quanto mais cedo corrigir esta alteração, menor é a progressão da doença”, alerta Eliana.

HC da Unicamp elabora dieta e cardápios

As crianças e adolescentes atendidos no Ambulatório de Dislipidemias do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas chegam, em geral, encaminhados dos postos de saúde do município, de centros de saúde de cidades vizinhas e do próprio HC, já com suspeita ou o diagnóstico de dislipidemias. Após a realização de vários exames, a equipe do ambulatório começa o tratamento.

O serviço de nutrição do HC prescreve dieta individualizada e elabora cardápios para as crianças e adolescentes. Essa dieta é baseada em frutas, legumes e alimentos ricos em fibras. Há restrições a gordura de origem animal, gordura saturada de carne vermelha e leite ‘gordo’. As crianças, em geral, devem beber leite de soja. As mães aprendem, por exemplo, a preparar bolos e biscoitos à base de soja. Em alguns casos de maior restrição, a suplementação vitamínica é oferecida.

É recomendado, no mínimo, 30 minutos de atividade física diária ou pelo menos três vezes por semana. Se o paciente for tabagista, é solicitada a interrupção do fumo. Não são preconizadas drogas redutoras dos lipídeos (hipolipemiantes) para as crianças, exceto em casos muito graves. Mesmo em adolescentes, somente são utilizadas medicações numa situação em que não há nenhuma resposta ao tratamento pelas mudanças de estilo de vida.

Edimilson Montalti, do Jornal da Unicamp

(M.C.)



10/31/2008


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