Crise mundial preocupa especialistas, que apostam em coordenação e cooperação



Em audiência pública na Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, sobre desafios e perspectivas para a América do Sul, os debatedores convidados alertaram os representantes brasileiros no Parlamento do Mercosul (Parlasul) para a natureza e a gravidade da crise econômica mundial, que atribuíram ao esgotamento do modelo neoliberal. Os especialistas, que também responderam às perguntas enviadas por telespectadores e internautas, mostraram preocupação com a crescente participação de bens primários na economia brasileira, afastaram medidas de austeridade e defenderam maior planejamento estatal dos fatores econômicos.

O ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes disse que, mais que uma união aduaneira, o Mercosul deve ser um espaço de coordenação de políticas. Ele sublinhou como fator de “êxito civilizatório” a coordenação estratégica entre governo “empoderado”, empreendedores e setor acadêmico – citou o New Deal nos Estados Unidos dos anos 1930 e a China de hoje como exemplos.

Ciro lembrou que mesmo nos Estados Unidos o papel do Estado tem sido essencial para a relevância tecnológica do país, e destacou as intervenções estatais americanas como resposta à crise de 2008. Porém, mesmo dentro dos Estados Unidos cresce a consciência de que não é possível manter o baixo nível de poupança doméstica, pois o capital externo de qualidade só entra quando é menos necessário.

- Esta é uma variável insustentável e eles têm que superar este problema, sem o que, provavelmente, a convulsão internacional será de novo a resposta para a agonia sistemática das nações - alertou.

Mudança de rota

O doutor em Economia Márcio Henrique Monteiro de Castro argumentou que o Brasil precisa “mudar a rota, e rápido”: no início dos anos 90, tempo da criação do Mercosul, o pais acreditou no “fim da História”, uma visão que teria se mostrado equivocada.

- A ideia que prevaleceu foi ‘o mercado vai resolver o Mercosul’. O Mercosul era o primeiro passo para a inserção brasileira no mercado global. Na época, a economia brasileira era muito protegida, e era preciso fazer alguma coisa – disse.

Porém, segundo Monteiro de Castro, os “ecos de otimismo” levaram a sociedade brasileira até há pouco tempo acreditar que já estava próxima do Primeiro Mundo, apesar de o mundo não ter se mostrado favorável à integração das nações.

Ele também mostrou preocupação com o destino do euro, temendo que países como Grécia, Espanha e Itália não caibam na união monetária. Monteiro de Castro criticou o sistema do “dólar flexível”, pelo qual os Estados Unidos se financiam à custa dos aliados, por enfraquecer os Estados nacionais. Lamentando que o conceito de planejamento tenha “saído de moda”, ele lamentou que o Brasil, de forma unilateral, tenha renunciado às suas defesas ao privatizar empresas estratégicas e abrir mão de ter políticas educacional e industrial - o que, conforme avaliou, tem como uma de suas consequências um comércio internacional focado na exportação de bens primários.

Cooperação

José Carlos de Assis, presidente do Instituto Intersul, não acredita no fim do capitalismo, mas salientou que o mundo se afasta inexoravelmente da “liberdade individual ilimitada” e caminha para a cooperação entre nações. Segundo Assis, o declínio da capacidade de ordenamento que os Estados Unidos exerceram no mundo por 50 anos abriu um vácuo na governança global que está sendo preenchido pelo G-20: ele acredita que a tendência deverá ser reforçada conforme os resultados das eleições nos Estados Unidos neste ano e na Alemanha em 2013.

Na opinião de Assis, a crise mundial atacou diretamente “o coração do sistema capitalista”, situação caracterizada pela quebra de grandes instituições financeiras dos Estados Unidos e seus efeitos na Europa.

- Se você considerar que o banco é a alma do sistema capitalista, esta crise é maior que a de 1929 - afirmou.

A política de austeridade fiscal no combate à crise na Europa foi alvo de duras críticas por seu potencial de reduzir o mercado interno e o emprego. A América do Sul, para o economista, deve perseguir uma estratégia de integração nos moldes do projeto original do Mercado Comum Europeu, e o Mercosul pode reagir ao dumping aumentando a Tarifa Externa Comum (TEC) e zerando as tarifas entre os membros da união sul-americana.



25/05/2012

Agência Senado


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