Cristovam: Brasil precisa refletir sobre prática de transformar honestidade em heroísmo




O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) sugeriu em Plenário, nesta sexta-feira (11), uma reflexão sobre a prática de se enaltecer, como heróis, agentes públicos que recusam suborno. Logo antes, o senador Jorge Viana (PT-AC) havia mencionado o caso divulgado na mídia no dia anterior, acerca do sargento da Polícia Militar do Rio que rejeitou suposta oferta de R$ 1 milhão para liberar o traficante "Nem", detido pela equipe que comandava.

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- Hoje é um dia de homenagem a quem fez esse gesto, mas é um dia de tristeza, de muita tristeza de sermos um país onde ser honesto está virando heroísmo, onde o honesto é herói - disse Cristovam.

De acordo com o senador, isso acontece porque a sociedade se desviou do normal a ponto de considerar "herói" quem se conduz dentro do que seria o padrão esperado. Observou que esse desvirtuamento vem de muito tempo, a começar pela convivência com a escravidão por cerca de 350 anos, com seres humanos sendo comprados e vendidos para trabalhar "debaixo do chicote".

- Aquilo era uma corrupção. As pessoas não percebiam que era corrupção, na época da escravidão, haver escravos - disse, salientando que eram tidos como "heróis da ética" os fazendeiros que alforriavam alguns escravos.

Cristovam considerou que foi também uma forma de corrupção o país fazer a abolição sem garantir terras e estudo para os ex-escravos. Ele classificou do mesmo modo a atual concentração de terras, o que, em suas palavras, faz "herói" aquele que distribui um pedaço de sua propriedade. Outras formas de corrupção seriam ainda a falta de escolas de qualidade para os filhos dos pobres e um sistema de saúde degradado para a maioria da população.

- Isso é ou não é uma corrupção? Mas é uma corrupção natural, aceita, comum, até invisível.

Para o senador, a questão está ainda relacionada com o arraigado "patrimonialismo" no país, onde se tende a privatizar tudo o que deveria ser coletivo e social. Afirmou que o patrimônio coletivo da nação virou objeto da cobiça e da apropriação por grupos. Com isso, afirmou o senador, o país se encontra hoje dividido entre os "céticos" e os "cínicos", esse o grupo dos que consideram normais teses como a do "rouba, mas faz", "rouba, mas é dos nossos" ou, no extremo, "todos roubam, por que é que não vou roubar também?".

Cristovam também questionou se o combate ao tráfico no Rio de Janeiro continuará depois da Copa e das Olimpíadas ou se esse processo seria apenas para atender as contingências dos dois eventos - conforme disse, "ações para "inglês ver.



11/11/2011

Agência Senado


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