Crivella defende CPI para coibir quem incentiva entrada ilegal de brasileiros em outros países



Em relato à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), o senador Marcelo Crivella (PL-RJ) descreveu a situação de cerca de mil brasileiros que tentaram imigrar ilegalmente e que estão presos nos Estados Unidos. Ele pediu que o Congresso instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para identificar os responsáveis por incentivar brasileiros em diversos locais do país a entrar de forma irregular e perigosa nos Estados Unidos.

- É preciso coibir esse movimento, descobrir a origem dessa desumanidade e acabar com esse crime que se comete contra o nosso país - disse Crivella, que é vice-presidente da CRE e passou semanas em viagem oficial, buscando uma resolução para o problema dos brasileiros nos EUA.

Para o senador, o imaginário das pessoas entende que há possibilidade de resolução de suas dificuldades individuais e financeiras nos Estados Unidos. Esse fenômeno, disse Crivella, acontece principalmente na região leste de Minas Gerais, de onde brasileiros partem para Belo Horizonte, depois para São Paulo, investindo suas economias em uma passagem aérea para o México.

Assim que pisam em solo mexicano, os brasileiros são assediados para entrar em caravanas de coiotes, mexicanos especializados em "traficar" pessoas para os EUA, narrou o senador. A partir de então, os brasileiros atravessam o rio que faz a divisa entre os dois países, presos em câmaras de pneus e chegam a solo americano molhados, com frio e assustados. Então, continuou Crivella, começam a caminhar pelo deserto, à procura de uma grande cidade para se misturarem à população local.

Com grande tecnologia para vigiar suas fronteiras, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, as autoridades norte-americanas permitem que os brasileiros caminhem pelo deserto por dias, segundo o senador, para que passem por agruras que os desanimem a tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos novamente.

Crivella visitou brasileiros em presídios do Texas, do Arizona e do Novo México e relatou que eles são tratados como traficantes de drogas, assassinos ou estupradores.

- Apelo ao governo americano para que brasileiros não sofram punição tão pesada como têm sofrido. Eles são misturados com esse tipo de gente, já que a imigração ilegal é reprimida severamente, com leis rígidas. Esse tratamento é próprio dos americanos, que não conseguem ter flexibilidade de raciocínio para adaptar as regras ao momento - afirmou o senador, narrando o caso de uma moça que, depois de 70 dias sem saber qual seria o seu destino, entrou em desespero e foi tratada como louca.

O senador, que voltou ao Brasil no vôo fretado para trazer cerca de 300 brasileiros de volta ao país - 180 dos quais do leste mineiro -, afirmou que irá entregar um relato dos esforços que empreendeu diariamente nos Estados Unidos, em companhia do senador Hélio Costa (PMDB-MG) e do deputado federal João Magno (PT-MG). Crivella elogiou o apoio oferecido pela diplomacia brasileira naquele país.

- O momento mais triste da viagem foi ter que deixar quase 700 brasileiros para trás, naquela situação - lamentou.

Também presente à reunião da CRE, o cônsul Geral Adjunto do Brasil em Los Angeles, Michael Gepp, registrou que os brasileiros presos são unânimes em pedir para voltar ao Brasil. Ele alertou para essa situação, que coloca os brasileiros em grande risco. No ano passado, informou, pelo menos cinco brasileiros morreram ao tentar cruzar a fronteira do México com os EUA, por se terem recusado a pagar milhares de dólares cobrados pelos traficantes de pessoas.

O presidente da CRE, senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ponderou que as discussões para criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) devem incluir como meta o livre trânsito de pessoas. Para ele, é uma incongruência dar liberdade para as empresas movimentarem seus bens, serviços e capitais, sem que os seres humanos possam ter esse direito.

O senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA) sugeriu que seja promovida uma campanha de esclarecimento em áreas específicas do país, como o leste de Minas Gerais, sobre os sérios riscos da entrada ilegal nos Estados Unidos. Mas a solução final desse problema, avaliou o senador, passa pela criação de empregos e oportunidades no Brasil.



29/01/2004

Agência Senado


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