Cultura: Projeto Terças Musicais do São Pedro firma-se como point cultural da cidade



Montagens inéditas têm atraído platéias de todos os tipos, inclusive apreciadores mais exigentes

Todas as terças-feiras, um grupo de mecânicos sai para almoçar. Em vez de parar para comer em algum bar da redondeza, eles aproveitam o horário livre e vão ao Theatro São Pedro assistir a mais um espetáculo de ópera que faz parte da programação das Terças Musicais. No hall do teatro, Carlos e os colegas, aposentados, profissionais liberais e estudantes entram em contato com um gênero considerado pela maioria da população de difícil entendimento.

“Quando o projeto começou em agosto do ano passado, abrimos as portas do São Pedro e descobrimos que muitas pessoas, inclusive vizinhas do teatro não o conheciam. Colocamos alguns funcionários distribuindo folhetos, para que todos soubessem da programação. No começo, eles chegavam timidamente, mas, logo o programa tornou-se um sucesso”, disse entusiasmado o maestro Paulo Maron, diretor do Núcleo Universitário de Ópera.

“O sucesso dos espetáculos foi tão grande, que retomamos o projeto este ano, e desde o dia 5 de abril, o hall do São Pedro tornou-se palco de várias apresentações de pocket óperas (versão simplificada de algumas óperas).

A fidelidade do público tornou o espaço pequeno e a partir do segundo semestre, as apresentações das Terças Musicais serão no próprio teatro”, informou Vicente Amato Filho, diretor da Associação Paulista dos Amigos da Arte (Apaa), entidade à qual o São Pedro está subordinado.

Público diferenciado

Aposentados, adolescentes, crianças, profissionais que trabalham próximo ao São Pedro tornaram-se clientes fiéis da programação.“É a primeira vez que venho ao Theatro São Pedro. Fiquei encantada com a apresentação de As Bodas de Fígaro, de Mozart, gostei do figurino e dos cantores. A mídia deveria divulgar mais ações como esta”, disse Juventina Freire de Lima, funcionária pública aposentada e moradora da zona norte de São Paulo. Ariane Cristina Cuco, estudante de ensino médio, concorda e acrescenta: “O projeto dá oportunidade para as pessoas que não têm condições de pagar por um espetáculo desse tipo”.

Para o tenor Ossiandro Brito “é uma oportunidade única para cantores jovens como nós, que conseguimos apresentar nosso trabalho a uma platéia interessada em conhecer um pouco mais do mundo operístico”.

Neste segundo semestre, serão apresentadas algumas árias das óperas mais conhecidas do público em geral. Para o mês de agosto estão programadas as aventuras amorosas da cigana Carmen (dia 15), de Bizet; no dia 26 de agosto, os ouvintes conhecerão a história da jovem japonesa Cio-Cio-San abandonada pelo marido norte-americano B.F. Pinkerton em MadameButterfly, de Giacomo Puccini. No dia 10 de outubro, será a vez do bufão Rigoletto, de Verdi, e finalizando a temporada, no dia 14 de novembro, o público conhecerá o drama da cortesã Violeta Valéry, em La Traviata, de Verdi.

Aprovação

“O Theatro São Pedro tem se firmado como point dos amantes de ópera. Quando iniciamos as montagens, a maioria do público era formada de pessoas não acostumadas com esse gênero musical, por isso, resolvemos montar peças mais ligeiras e de gosto mais popular. Hoje, verificamos que muitos espectadores assíduos do Teatro Municipal e acostumados com montagens mais elaboradas, têm vindo assistir os nossos espetáculos e aprovado o resultado”, disse entusiasmado Amato Filho.

Nesta segunda temporada o público poderá ver versões inéditas de óperas que raramente ou nunca foram montadas no Brasil. É o caso de O homem que confundiu sua mulher com o chapéu, do compositor contemporâneo londrino, Michael Niyman, nascido em 1944. A montagem será em outubro.

Em julho, os apreciadores de Gaetano Donizetti (1797-1848) poderão apreciar a ópera bufa em dois atos O Elixir do Amor, que narra a história de Andina, uma jovem bela e rica que apaixona-se por Nemorino, um jovem camponês, ao beber o elixir produzido pelo doutor Dulcamara, um médico ambulante, que entre vários medicamentos, oferece um elixir que resolve tudo milagrosamente.

O Empresário, de Mozart (dias 25,26 e 27 de agosto), A Tempestade, de Ronaldo Miranda (dias 22, 23 e 24 de setembro) e H.M.S. Pinafore, de Gilbert e Sullivan (27, 28 e 29 de outubro), terão suas montagens apresentadas pela primeira vez no Brasil.

Em dezembro, o Theatro apresentará Recital em homenagem a Richard Tauber, no dia 2. Nos dias 15, 17, 19 e 21 será a vez de Albert Herring, de B. Britten.

Ópera para todos

Sandra Lima, vizinha do Theatro São Pedro, não perdeu um ensaio geral das óperas que foram apresentadas este ano. “Consegui aprender muita coisa sobre este universo, e de graça”. Os ensaios, segundo Amato, são uma forma de atrair o público. Eles ocorrem dois dias antes das apresentações, a partir das 19 horas. Para assistir aos ensaios, basta comparecer com 15 minutos de antecedência na entrada do teatro. Outra forma interessante de atrair platéia são os preços que variam de R$ 10 (lugares superiores) a R$ 40 (platéia).

“Por causa do nome A Ópera dos Três Vinténs, no dia da estréia, dia 9 de junho, os preços dos ingressos caíram para R$ 3. É evidente que na primeira semana, os ingressos já estavam esgotados”, disse Maron.



07/05/2006


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