Cultura: Theatro São Pedro completa 90 anos e torna-se centro de referência de óperas
Masterclass e montagens exclusivas farão parte do calendário da casa em 2007
Um jovem senhor faz aniversário neste mês. É o Theatro São Pedro, que, às vésperas de completar 90 anos, firma-se como centro operístico. Para comemorar a data e em homenagem aos 453 anos da cidade de São Paulo, a casa de espetáculos irá apresentar uma exposição retrospectiva dos 90 anos de sua existência que mostrará fotografias, documentos, textos, figurinos de montagens de óperas e possibilitará a consulta por meio de terminais de computador de textos e áudios sobre a história do espaço. No mesmo dia, às 19 horas, haverá o concerto, aberto gratuitamente para o público, da Banda Sinfônica do Estado, com direção artística do Maestro Abel Rocha, regida por Rocha e por Érika Hindrikson. Os cantores líricos Adriana Clis, Magda Painno, Mônica Martinez e Rubens Medina serão os solistas.
Rumo ao futuro – Inaugurado em 16 de janeiro de 1917, o Theatro São Pedro foi erguido num bairro que poucas décadas antes fazia parte de um sítio, a Barra Funda. À exceção do Teatro Municipal, edificado em 1911, todos os 69 teatros e casas de espetáculo construídos na cidade de 1860 até 1917 foram desativados e, em sua maioria, demolidos. Com eles, desapareceram não só os espaços de entretenimento e cultura, mas também o testemunho e a memória material desses mundos. Uma memória que, no caso do Theatro São Pedro, sobreviveu e cujo fio está sendo retomado.
Hoje, a casa de espetáculos é o centro de óperas do Estado de São Paulo. O longo trabalho para essa trajetória de sucesso começou quando a Associação Paulista dos Amigos da Arte (Apaa) assumiu a responsabilidade pelas atividades do teatro em 2004. No começo, foram realizadas algumas montagens que chamaram a atenção de pessoas que jamais tinham pisado naquele local.
Outras novidades fizeram com que o local firmasse sua marca, como o projeto Terças Musicais, que apresenta concertos e, uma vez por mês, uma pocket opera (resumo de ópera) no hall de entrada da casa de espetáculos. Mauro Wrona, que responde pelo projeto, faz um balanço das atividades do Terças Musicais em 2006. “Foi um sucesso, muitas pessoas, inclusive da vizinhança, que jamais tinham vindo aqui neste teatro, passaram a freqüentá-lo com assiduidade”. Neste ano, realizaremos o projeto nos mesmos moldes e apresentaremos óperas que sempre caem no gosto popular”.
O resultado de tanto esforço pôde ser comprovado em dezembro. Durante a cerimônia do Prêmio Carlos Gomes, o Theatro São Pedro conseguiu o primeiro lugar na categoria Universo da Ópera, equiparando-se ao tradicional Theatro da Paz (Belém). Além do Carlos Gomes, a ópera Um homem que confundiu sua mulher com um chapéu (de Michael Niyman) foi citada pela revista Veja como o melhor espetáculo do ano e A Tempestade ganhou o prêmio revelação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
Para Vicente Amato, diretor da Apaa, “as premiações não foram nenhuma surpresa. Basta ver os números. O teatro apresentou 50 espetáculos somente dedicados a óperas (recitais e montagens) em 2006. No total, aproximadamente 25 mil pessoas passaram pelo São Pedro, ou seja, uma ocupação média de 450 pessoas por espetáculo. Foram montadas 11 óperas, algumas raramente ou nunca montadas no Brasil.” É o caso da ópera cômica Albert Herring, de Benjamin Britten, que nunca ocorreu no Brasil. “É com orgulho e satisfação que dirigi esta ópera, pois, participei da mesma quando ainda era aluno do Ópera Estúdio do Theatre de la Monnaie, na Bélgica”, disse Mauro Wrona, responsável pela direção cênica.
“Mais que uma montagem inédita,a ópera foi um grande desafio para os 70 músicos bolsistas que compõem a Orquestra Jovem. Ficávamos horas ensaiando até acertar”, explicou o maestro João Maurício Galindo.
Montagens 2007 – O maestro Paulo Marun, diretor da Orquestra Filarmonia e do Núcleo Universitário da Ópera, que realizou várias montagens de óperas de Gilbert e Sullivan no São Pedro, disse que “desde que pisei no São Pedro pela primeira vez, em 2002, descobri que esta casa tinha vocação para ser um local para óperas. O seu espaço aconchegante, a acústica e a arquitetura colaboram para que esse sucesso fosse alcançado”.
De acordo com Vicente Amato, a partir de março, as récitas e as montagens de óperas já poderão ser vistas pelo público. Os cantores líricos e estudantes também poderão ter masterclass com profissionais consagrados. Grandes vozes como a soprano espanhola Mariola Cantarero estarão se apresentando no dia 23 de março. A série Ópera do Meio Dia terá início em 24 de abril. Óperas como Lucia di Lammermoor (Gaetano Donizetti); La Cambiale di Matrimonio e Il Signor Bruschino (Gioacchino Rossini); O Anjo Negro (J.G. Ripper, baseado em texto de Nelson Rodrigues); A Moreninha (Ernest Mahle); Pedro Malazarte (Camargo Guarnieri); Il Matrimonio Segreto (Domenico Cimarosa); A Voz Humana, de F. Poulenc e O Telefone (G. Menotti); Patience (Gilbert e Sullivan); A Dama de Espadas (Tchaikowsky) e uma surpresa mais do que agradável fechará a temporada de 2007”,
01/24/2007
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