Cursinhos da Unesp facilitam o acesso de jovens na universidade



Um dos pré-requisitos é que o estudante seja egresso da rede pública de ensino

Os cursinhos pré-vestibulares mantidos pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) oferecem novas perspectivas de vagas e infra-estrutura. Isso é resultado da parceria firmada com o governo do Estado de São Paulo, desde julho de 2007, que propiciou o repasse de R$ 1,5 milhão para a universidade aplicar em projeto específico para essas instituições de ensino, o Projeto Cursinhos. A renovação do convênio, em 27 de julho deste ano, possibilitará novo montante, de aproximadamente R$ 2,5 milhões, que começou a ser aplicado em agosto passado e continuará até julho de 2009. Além disso, os pré-vestibulares contam com dotações da própria universidade.

Projeto Cursinhos é o nome pelo qual é conhecido o Projeto Curso Pré-Vestibular – Uma Iniciativa Democrática de Alcance Social. Existente há cerca de duas décadas na Unesp, vai beneficiar 26 cursinhos, distribuídos por 22 câmpus. A universidade dispõe ainda de outros pré-vestibulares, mantidos com recursos oriundos de parcerias com prefeituras e empresas privadas.

Loriza Lacerda de Almeida, assessora da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Unesp, explica que o Projeto Cursinhos nasceu com a perspectiva de trazer para a universidade o aluno que, de outra maneira, não teria condições de igualdade no processo vestibular. Para ingressar em um desses cursinhos, os pré-requisitos são que o estudante carente seja egresso da rede pública. Os interessados têm também de realizar prova seletiva. As inscrições e os processos seletivos desses pré-vestibulares ocorrem a partir de janeiro em todas as unidades universitárias. Nas que oferecem o curso semi-extensivo, há processo seletivo também no mês de julho.

Mais vagas – Em 2008, os cursinhos participantes do projeto ofereceram 4.156 vagas. Para o próximo ano, a perspectiva, com a renovação do convênio, é um aumento de 400 a 500 vagas. Com relação ao índice, 1.050 alunos foram aprovados nos vestibulares realizados no final de 2007, dos quais 707 em universidades públicas.

Apesar do crescente número de vagas, os pré-vestibulares não conseguem atender a toda a demanda. Coordenador do Cursinho Ideal, no câmpus de Presidente Prudente, o professor Antônio Nivaldo Hespanhol conta que mil pessoas se inscreveram no último processo seletivo, relativo a 2008, que ofereceu 210 vagas. A intenção é chegar, em 2009, a 300 vagas distribuídas em quatro turmas. O Cursinho Alternativo do Câmpus da Unesp de Ourinhos  (Cacuo) teve 240 alunos inscritos no processo seletivo passado, para um total de 70 vagas (35 de segunda a sexta-feira, à tarde, e as demais aos sábados e domingos, pela manhã).

Por meio do convênio com o governo do Estado, a Unesp adquiriu para esses cursinhos, no início deste ano, 80 computadores e 102 projetores multimídia. O repasse de recursos incluiu a aquisição de material didático (livros teóricos e de exercícios para os alunos e um kit para os docentes), acervo didático suplementar (dicionários, livros de literatura, por exemplo) e material de consumo (canetas, sulfites, entre outros). O montante foi utilizado ainda para o pagamento de 168 bolsas para alunos-professores da universidade treinados para ministrar os conteúdos dos pré-vestibulares.

Jovem espera duas décadas para continuar estudos

Até o começo deste ano, Paraibuna, localizada no Vale do Paraíba, não dispunha de cursinho. Interessados em se preparar para o vestibular precisavam estudar em outros municípios, e ter meios de arcar com as despesas. Em razão disso, Márcio André Santos, 31 anos, terminou o ensino médio, em 1998, e ficou sem investir em um curso superior desde então. Nesse período, trabalhou na área de construção civil (atualmente desempregado) e concluiu curso técnico de Eletroeletrônica no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

O estudante, que pretende cursar Engenharia Civil, afirma que sempre procurou prestar concursos públicos, mas não conseguia passar. Só obteve aprovação este ano, como fiscal de obras da prefeitura local. “E o cursinho Pre-Vest, da Unesp foi de grande ajuda”, destaca. Além de bom, segundo ele, oferece facilidade, comodidade e material gratuito.

Longo jejum – Vice-diretor da Faculdade de Odontologia da Unesp de São José dos Campos e coordenador acadêmico do Pre-Vest, Carlos Augusto Pavanelli informa que são comuns na região casos de jovens que, assim como Márcio, ficam anos sem estudar, após o segundo grau, por não terem condições financeiras e por falta de cursinhos em suas cidades. Por isso, a idéia é abrir unidades pré-vestibulares em mais localidades. Uma das dificuldades, entretanto, é a inexistência de facilidades de transporte (como ampliar o número de linhas de ônibus) para os professores chegarem a esses locais.

Exemplo também de quem voltou às salas de aula depois de longo jejum é Cícero Belarmino da Silva, 37 anos, funcionário da Fazenda de Ensino e Pesquisa da Unesp de Ilha Solteira. Desde que terminou o segundo grau até conseguir uma vaga, em março deste ano, no cursinho Uma Iniciativa Democrática de Alcance Social, da Unesp, foram 20 anos sem estudar.

A intenção de Cícero é prestar vestibular para Zootecnia. Separado e pai de um menino, afirma que ficou todo esse tempo longe da escola porque não tinha condições de pagar as altas mensalidades de um cursinho particular. Segundo o rapaz, o pré-vestibular tem sido importante porque, por meio dele, pode preparar-se melhor para o vestibular. Além disso, a iniciativa também lhe abriu a perspectiva de melhorar a sua qualidade de vida.

Consciência cidadã

Aluna do Curso Alternativo do Câmpus da Unesp de Ourinhos (Cacuo), Pâmela Stéfanie Bérgamo, de 17 anos, opina: “o pré-vestibular, além de preparar o estudante para o vestibular, permite que ele se torne um melhor cidadão. Algumas aulas nos fazem ter maior consciência-cidadã”, diz a garota, referindo-se a Geografia, Geopolítica e Atualidades. Com isso, segundo ela, os alunos passam a se preocupar mais com determinadas questões e a discutir temas como as eleições, a importância do voto e a necessidade de acompanhar o desempenho dos políticos.

No ponto de vista de Pâmela – que pretende cursar História –, o Cacuo é bem puxado. Na sua turma, muitos desistiram ou passaram a estudar no final de semana, pois arrumaram trabalho. O cursinho oferece uma turma no sábado e domingo pela manhã. Se não fosse o Cacuo, Pâmela afirma que não teria chance de fazer um pré-vestibular, “porque é muito caro”.

Residente em Álvares Machado, Fernanda Bomfim Soares, 18 anos, foi aluna do Cursinho Ideal, no câmpus de Presidente Prudente, em 2005 e 2006. Hoje, cursando graduação em Geografia na Unesp realiza estágio na coordenação do mesmo cursinho. Se não fosse o Ideal, assegura Fernanda, “eu não teria oportunidade de fazer um cursinho particular, pois os meus pais não poderiam arcar com os custos. O Ideal foi muito importante para a complementação de meus estudos”, avalia. O pré-vestibular lhe abriu outras perspectivas: “pude obter uma visão política, além de aprimorar minhas técnicas de estudo e ter mais acesso à cultura e à multidisciplinaridade exigida nos vestibulares”.

Paulo Henrique Andrade - Da Agência Imprensa Oficial



09/04/2008


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