Daniel e outros 36 prefeitos do PT sofreram ameaças
Daniel e outros 36 prefeitos do PT sofreram ameaças
No cortejo, o corpo de Celso Daniel foi seguido pela liderança petista, que, de mãos dadas, prometeu não se amedrontar. Lula acredita que “tem gente grossa atrás disso”
O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, chorou muito durante o velório do prefeito de Santo André, Celso Daniel. "Celso, não sabemos quem te matou. Estou convencido, não tenho provas, mas sua morte foi planejada. Tem gente grossa atrás disso", afirmou Lula.
O deputado federal José Genoíno, candidato do PT ao governo paulista, confirmou que o senador José Eduardo Dutra também recebeu uma carta com ameaças na semana passada. Há dois meses, os 37 prefeitos petistas de São Paulo receberam a mesma carta. "Ele (Dutra) enviou a carta para a Polícia, assim como os prefeitos petistas, eu e o Dirceu (o presidente do PT, José Dirceu), há dois meses. Mas até agora nada foi feito”, afirmou.
Prefeito seria ministro de Lula
C elso Daniel não perdia uma reunião do PT. A não ser que a equipe de veteranos do basquete de Santo André tivesse algum jogo ou treino. "Isso é sagrado para mim", dizia. Com 1,88m de altura, o prefeito tinha três paixões na vida: o basquete, os filmes de Ingmar Bergman e o PT.
O prestígio de Celso Daniel no partido era tanto, que seu nome encabeçava a lista dos cotados para assumir o Ministério do Planejamento em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência. Em julho do ano passado, ele foi convidado para coordenar o programa de governo petista.
Filho de uma família tradicional da cidade, o prefeito estava entusiasmado com a nova tarefa. Engenheiro e economista, passava horas redigindo propostas e debatendo suas idéias com dirigentes do partido. "Trata-se (... ) de propor um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. Será preciso ousar, rompendo com o conformismo fatalista pretensamente pragmático, que sonega direitos básicos da população, e resgatando os valores éticos que inspiraram e inspiram as lutas históricas pela justiça social e pela liberdade", escreveu ele.
Daniel não ligava para sua segurança. Em outubro e novembro, recebeu duas cartas da Frente de Ação Revolucionária Brasileira (Farb), com ameaças. Quando abriu a primeira correspondência, disse aos presentes que se tratava de uma "bobagem".
FHC apoiará Estados na guerra contra o crime
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, entregou ao presidente propostas de medidas que limitariam a violência
O presidente Fernando o Henrique Cardoso afirmou ontem que o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, mostra que o país precisa entrar numa "guerra" contra o crime organizado, a impunidade e a bandidagem. Para isso, disse que dará apoio aos governadores que quiserem entrar na luta.
Fernando Henrique acredita que o crime contra o prefeito deveria ser combatido com "uma resposta coordenada e eficaz". “A arrogância do crime está passando de todos os limites. Não é só vandalismo, mas a sensação do criminoso de que ele pode fazer o que quiser", afirmou.
Na tarde de ontem, FHC reuniu-se com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, para discutir sobre segurança pública. Hoje, ele tem um encontro com o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do partido, deputado federal José Dirceu. Eles levarão a Brasília as propostas que deverão ser especificadas na reunião extraordinária da executiva nacional do PT, que acontece pela manhã.
A primeira reação do governo ao assassinato de Celso Daniel veio ontem mesmo. O ministro da Justiça quer que agentes federais comecem a acompanhar os políticos o mais rápido possível, muito antes do início da campanha eleitoral, como de costume. “A morte do prefeito foi a gota d´ água”, disse Ferreira.
Blecaute complica a vida dos brasileiros
Apagão ocorreu em 11 estados do país e, em alguns, durou quatro horas. No Rio Grande do Sul, foram 40 minutos sem luz
U m apagão inesperado atormentou a vida dos habitantes de 11 estados brasileiros ontem. Toda a Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), Sudeste (São Paulo, Rio de janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais) e Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal) ficararn sem energia elétrica a partir das 13h13min. Foi o maior blecaute desde 1999.
A ONS (Operadora Nacional do Sistema) informou que o blecaute aconteceu devido à queda em uma linha de transmissão entre a usina hidrelétrica de ilha Solteira (658 kni a oeste de São Paulo) e Araraquara (273 Km a oeste de São Paulo).
Argentina : bancos estrangeiros levarão vantagem
Bolsa disparou no país nesta segunda-feira. O índice Merval da Bolsa de Buenos Aires fechou em alta de 13,42%. Ao longo do dia, houve picos de elevação de até 20%.
O governo da Argentina estuda promover a fusão de todos os bancos estatais, permitindo o avanço das instituições estrangeiras no mercado. Pelo projeto, os bancos estatais se uniriam no Banco Federal e deixariam de fazer empréstimos e administrar recursos dos clientes, ficando apenas responsáveis pelo pagamento de contas.
Os bancos federais Nación, Provincia, Ciudad de Buenos Aires, Banco de Intervesión y Comercio Exterior, Hipotecario e as instituições estaduais controlam 34% da poupança do país e 30% dos empréstimos.
Deixando este filão para bancos estrangeiros, o governo espera sanear o sistema financeiro e atrair novos investimentos privados. Além disso, ainda atende a pressões de país europeus e do FMI (Fundo Monetário Internacional), ficando mais próximo de obter um empréstimo de US$ 20 bilhões do Fundo.
Ontem, o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires fechou em alta de 13,42%, mas houve picos de elevação de 20% ao longo do dia.
Editorial
O CAOS DA SEGURANÇA
A execução do prefeito de Santo André, Celso Daniel, do PT, expôs a fragilidade do país diante do crime organizado e a falta de uma política nacional de segurança pública.
A nota oficial divulgada pelo partido do prefeito assassinado põe o dedo na ferida: "O problema fundamental, hoje, é o da impunidade com que agem as quadrilhas". Crime comum ou político, o fato é chocante demais, pois demonstra que a falta de ação do poder público foi além do habitual. A execução foi o terceiro ato de violência contra um prefeito do PT paulista, nos últimos meses, precedido pelo assassinato, em setembro, do prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Toninho, e pela explosão na casa do prefeito de Einbu, Geraldo Cruz, em dezembro. Insatisfeitos com a lentidão nas investigações da morte de Toninho, em dezembro os petistas levaram um dossiê ao Ministério da justiça e acionaram a Polícia Federal. Não se conhece o resultado das investigações.
As ações criminosas demonstram como todos os governos do país - federal, estaduais e municipais são amadores no combate à violência. O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, numa entrevista indignada, que a violência no país ultrapassou o limite e decretou guerra ao crime organizado.
Ninguém sabe quem organiza a tal Farb (Frente de Ação Revolucionária Brasileira), que tem enviado ameaças não só a prefeitos petistas, mas a senadores como Heloísa Helena, José Eduardo Dutra, Geraldo Althoff e Pedro Simon. Também não se sabe se a morte de Celso Daniel pode ser atribuída a criminosos comuns - e se foi assim, mostra o quanto o aparato policial não impõe mais qualquer respeito. O que se sabe é que toda a sociedade, e não apenas o PT, clama por urgente apuração dos fatos, punição dos culpados e, princip almente, pela implantação de uma política de segurança que dê combate real à violência.
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01/22/2002
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