Dentistas do Bem atenderão de graça mais de mil alunos da rede pública



Estudantes carentes, de 11 a 17 anos, devem fazer triagem domingo ao Espaço das Américas

Se depender dos Dentistas do Bem, crianças e adolescentes carentes exibirão sorrisos sadios, bonitos e perfeitos. Como trabalho voluntário, há cinco anos esses profissionais abrem seus consultórios para cuidar da boca de estudantes da rede pública. O material usado nos tratamentos é o mesmo dos pacientes particulares. Depois de adotado pelo dentista, o aluno terá atendimento integral (de limpeza, cárie à colocação de aparelho e próteses) até completar 18 anos. Interessados em receber tratamento odontológico devem comparecer ao Espaço das Américas domingo, das 10h30 às 17 horas.

A condição para ter direito a uma das mil vagas abertas pela ONG Turma do Bem, responsável pelo programa, é ser aluno carente matriculado em escolas da rede pública de ensino da Grande São Paulo. Os alunos devem ir ao local acompanhados por um responsável, levar os documentos necessários (veja abaixo). Serão atendidos prioritariamente os que tiverem problemas bucais mais graves, os mais pobres e os que estão próximo do primeiro emprego. Cirurgiões-dentistas do programa examinam os jovens e avaliam a condição odontológica. 

Vergonha de sorrir

Hevelyn Alves Rocha, 14 anos, é uma das cinco mil pacientes que recebe tratamento feito pela rede de três mil dentistas associados espalhados pelo Brasil. Só em São Paulo, há 1,3 mil profissionais cadastrados, informa o presidente da ONG, o dentista Fábio Bibancos, idealizador do programa. “Com os dentes mutilados, as pessoas deixam de sorrir, comer, beijar. Mais do que cuidar do sorriso, recuperamos a dignidade, a auto-estima e a saúde”. Especialista em odontopediatria, é conhecido por cuidar da boca de pessoas famosas. Com sua ação voluntária, os alunos carentes que adotou sentam na mesma cadeira ocupada pelas celebridades.

A garota foi selecionada pelo meio tradicional, que é a visita dos Dentistas do Bem às escolas. Aluna da Escola João Amós Comenius, na Zona Norte da capital, faz o tratamento em Santana. Os jovens são encaminhados ao dentista mais próximo da residência, para evitar gastos com locomoção. “Infelizmente, há dentistas de bairros como Paulista e Jardins, que quase não recebem jovens por falta de procura; enquanto os profissionais de bairros periféricos, como Mooca e Jabaquara, estão sobrecarregados”, constata Bibancos.

Tímida e envergonhada, Hevelyn diz que gosta do atendimento feito no consultório da coordenadora do programa, a dentista Eliana Rossini, especialista em ortodontia. Fez limpeza, tratou cáries e colocou aparelho ortodôntico na arcada inferior. Agora fará o mesmo na arcada superior. Mesmo com parte do tratamento feito, sente-se pouco confortável na hora de fazer a foto, porque expõe a boca. Eliana diz que é comum o adolescente ter vergonha de sorrir e até perder um pouco da auto-estima, se estiver com problemas odontológicos.

A mãe, Selma Alves dos Santos, que a acompanha nas visitas ao consultório, diz que o tratamento “está ótimo e veio na hora certa porque dentista está muito caro”. Questionada se não estranhou a oportunidade de a filha receber tratamento gratuito, diz que sim, mas preferiu arriscar. A estranheza em receber tratamento odontológico gratuito ainda afasta alguns pais, conta Eliana. “Eles ficam perguntando se não terão de pagar nada mesmo”. Passada a desconfiança e a resistência iniciais, ficam satisfeitos e felizes com o tratamento, relata a ortodentista.

Tratamento integral

Há quase quatro anos cuidando de pacientes do bem, como os jovens são chamados, lembra que chorou de emoção após a primeira consulta. “Há tanto dinheiro mal gasto! Esse não; é despendido com prazer. Fico até mais feliz que eles”. Todos os custos dos pacientes carentes são bancados pelo dentista. Mas isso não impede de o profissional pedir desconto para cuidar deles, orienta Eliana. “Se necessário, peço ao meu fornecedor desconto em coroas, próteses. Eles entendem e colaboram. Ninguém nunca se recusou”.

Rafael Almeida Anacleto é outro paciente atendido em seu consultório. Colega de escola de Hevelyn, o garoto diz que “estava precisando mesmo cuidar dos dentes, mas tudo é muito caro. Vai ser ótimo ficar com os dentes bons e arrumadinhos”, sorri com a boca parcialmente tomada pelos bráquetes. Ele receberá o aparelho nas duas arcadas. Os estudantes atendidos pela dentista recebem tratamento integral, já que no consultório trabalham outros profissionais que atendem em todas as especialidades.

Quando o dentista não puder resolver todos os problemas do paciente, porque não é especialista, encaminha para outros colegas parceiros. Recordista em atendimento por dois anos consecutivos, Marcelo Saran cuida de 28 crianças desde 2006. Para atendê-los, reserva meio período de um dia da semana. “No início, tinha mais trabalho, porque chegavam com a dentição em estado precário. Muitos não tinham noção que dente dá cárie e nem de escovação. Faltam informação e hábito de higiene. Agora o trabalho é de manutenção”, diz Saran. A maioria é de moradores de Paraisópolis. 

2,5 milhões sem dentistas

Saran conta que se inscreveu no programa ao ver a placa “Dentista do Bem” na porta de um consultório e porque estava descontente com o trabalho voluntário exercido numa creche pública. “Se a queixa era de dor ou o dente estava cariado, a orientação era extrair o dente. Não concordava com isso”, afirma Saran. Agora diz estar “satisfeito porque atendo no meu consultório, uso o meu material e faço trabalho de qualidade”. Os profissionais afiliados só recebem a placa após comprovação do trabalho voluntário.

O dentista só lamenta que mais crianças não sejam atendidas. Diz que o custo é baixo, embora não saiba dizer quanto, e é possível atender muitos se houver organização. Eliana diz que o programa não exige quantidade mínima de pacientes e que cada um faz de acordo com suas possibilidades. “Sou dentista há 20 anos e posso atender com tranqüilidade. Já profissionais em início de carreira não terão essa facilidade”.

Com a ação desses profissionais, esses jovens não entrarão na triste estatística brasileira que mostra que 2,5 milhões de jovens entre 15 e 19 anos nunca se sentaram em uma cadeira de dentista. Outros números do Ministério da Saúde mostram que quase metade da população adulta do país possui menos de 20 dos 32 dentes permanentes e um terço dos brasileiros sente dor de dentes. 

SERVIÇO

Documentos necessários para a triagem

• RG ou certidão de nascimento do jovem

• RG do responsável (maior de 18 anos)

• Comprovante de matrícula em escola pública no ano de 2008

• Comprovante de residência

Espaço das Américas

Rua Tagipuru, 795, na Barra Funda, próximo ao Metrô Barra Funda e ao Shopping West Plaza

Horário: das 10h30 às 17 horas

Mais informações: www.turmadobem.org.br

 

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)

 



02/22/2008


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