Denúncia marca comemoração dos 102 anos do ensino profissionalizante




A cobrança de valores diferentes dos alunos que pagam mensalidades à vista e dos que recorrem ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), em faculdades particulares brasileiras, foi denunciada pelo frei David Raimundo dos Santos, presidente da rede de cursinhos populares Educafro, durante sessão especial do Senado em homenagem aos 102 anos do ensino técnico profissionalizante, nesta segunda-feira.

Frei Davi disse que há faculdade que cobra R$ 400 por um curso de quem paga à vista e R$ 1.000 de quem quita a mensalidade pelo Fies - estudantes carentes que, após a conclusão do curso, têm de devolver o dinheiro emprestado pela Caixa Econômica Federal, a operadora do programa.

- O governo está permitindo que a faculdade particular roube, sem botar polícia em cima delas - disse.

Importância

O religioso franciscano foi um dos oradores da sessão especial em comemoração aos 102 anos do ensino, solicitada pelo senador Paulo Paim (PT-RS). O parlamentar gaúcho lembrou que o ensino técnico começou no governo do presidente Nilo Peçanha (1909-1910), com 19 escolas e hoje tem 402 unidades funcionando em todo o país.

Ao destacar a importância do ensino técnico, o senador recorreu a seu exemplo pessoal, que trabalhava como vendedor de frutas em feira livre e se tornou ferramenteiro em um curso do Senai. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que expandiu o ensino técnico profissionalizante, segundo Paim, se tornou metalúrgico em um curso do Senai.

Mobilização

Na presidência da sessão, o senador Wilson Santiago (PMDB-PB) disse que a mobilização em defesa do ensino profissionalizante demonstra a concordância de todos quanto a sua importância, "que perdura por sucessivas gerações de mulheres e de homens deste país".

Santiago afirmou que o Censo Escolar de 2010 revelou que, no ano passado, o ensino profissionalizante contava com 1.140.388 matrículas. Desse total, menos da metade, ou seja, 47,5%, correspondia a inscrições de jovens na rede privada de ensino. O restante das vagas está distribuído na educação pública, em âmbito federal, estadual e municipal.

Paradoxo

O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) reconheceu os avanços do ensino técnico profissionalizante, mas apontou um paradoxo desafiante para o país: a busca de empregos desesperada por parte dos jovens convive com a dificuldade das empresas para contratar trabalhador qualificado. A chave para resolver esse problema, advertiu, é a qualificação maior rápida dos jovens.

O secretário de educação profissional e tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Moreira Pacheco, observou que os investimentos maciços em educação não resolvem em curto prazo os problemas de qualificação profissional. Ele notou que o prazo de um ciclo educacional é de cerca de 20 anos.

Características

As novas características do mercado de trabalho, de acordo como secretário, dificultam essa formação. Antigamente, acrescentou, aprendia-se uma profissão com o pai, com o avô ou com uma pessoa mais velha. Agora, isso é impossível, porque as novas tecnologias requerem do trabalhador conhecimento que não se encontra disponível nas gerações anteriores.

- O senador Paim, se deixar de ser senador, vai ter alguma dificuldade no mercado de trabalho, porque agora o torno mecânico opera com um tecladinho. Não é mais aquele torno que tirou o dedo do Lula. Agora é com um teclado que o trabalhador, com o avental branco, longe da graxa, torneia as peças, constrói as peças. Por isso, a educação profissional é fundamental nos dias de hoje - acrescentou.

Ampliação

Já a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) lembrou do recente lançamento do Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec), que prevê a ampliação da oferta de cursos técnicos profissionalizantes por meio do financiamento estudantil, da expansão da rede de ensino e da oferta de cursos gratuitos. A meta é formar 8 milhões de profissionais até 2014.

A senadora Angela Portela (PT-RR) observou que o Pronatec, que se inicia em junho, focaliza especialmente os beneficiários do Programa Bolsa Família, "que têm dificuldades de encontrar a porta de saída dos programas de assistência social mantidos pelo governo".

Requalificação

Outro público alvo, conforme a senadora, é constituído de jovens do ensino médio e de trabalhadores que fizeram uso do seguro desemprego por mais de uma vez. Segundo ela, repetidos encaminhamentos ao seguro desemprego "evidenciam a dificuldade que esses jovens encontram para inserir-se, de forma duradoura, em um mercado que exige, cada vez mais, dos trabalhadores".

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que "o governo Lula fez um esforço muito grande e deu um salto no número de escolas técnicas". Mas, de acordo com o parlamentar, é preciso ter o cuidado de reforçar também o ensino fundamental. Cristovam advertiu que uma escola técnica não vai educar bem um jovem que não tiver passado por um bom ensino fundamental.



30/05/2011

Agência Senado


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