Destaque do D.O.: Programa de Apoio às Bandas beneficiou mais de 13 mil músicos no Estado



Edição deste ano do Pró Bandas começa em agosto e a previsão dos organizadores é visitar uma dezena de cidades paulistas

“A minha gente sofrida / despediu-se da dor / pra ver a banda passar / cantando coisas de amor”, diz um dos versos da música A Banda, um dos grandes sucessos de Chico Buarque. O compositor quis dizer, entre outras coisas, que esse tipo de grupo musical é dos mais conhecidos, admirados e próximos das populações carentes.

Até hoje, muitas cidades do interior têm coreto na praça central para abrigar suas bandas, em determinadas festividades. Por isso, com a intenção de levar a música aonde o povo estiver, a Secretaria da Cultura lançou em 1997 o Programa de Apoio às Bandas (Pró-Bandas), que já beneficiou mais de 13 mil pessoas (instrumentistas e regentes) em centenas de municípios paulistas.

A administração do programa é feita pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, com o objetivo de incentivar o surgimento de novas bandas e aprimorar as que existem. Desde 1997, foram realizadas seis edições, compostas por oficinas técnicas itinerantes.A próxima está em fase final de elaboração, com a escolha das cidades que servirão de sede para os eventos.

O diretor do Conservatório de Tatuí e coordenador do programa, maestro Antônio Carlos Neves Campos, prevê que o final deste mês estarão definidos os municípios estarão definidos e as datas de realização. “Pretendemos iniciar a edição 2006 em agosto. Neste ano queremos visitar uma dezena de cidades-sedes”, prevê Neves Campos.

A Secretaria da Cultura organiza, em geral, dois eventos por mês, um em cada cidade-sede escolhida. Para este local, se dirigem instrumentistas de todas as idades, vindos de vários municípios da região e previamente inscritos. As aulas são sempre realizadas num final de semana (sábado e domingo) em escolas ou ginásios selecionados pela prefeitura local.

Neves Campos ressalta a importância da parceria entre Estado e municípios para a organização dos dois dias de evento. A prefeitura fica com a responsabilidade de arrumar o espaço, infra-estrutura, estadia e alimentação dos professores enviados pelo conservatório. O material pedagógico (apostilas e partituras) vai de Tatuí.

Para a cidade-anfitriã, o conservatório encaminha professores, de seu próprio quadro ou convidados,para ensinar flauta, clarinete, percussão, saxofone, trompete, trombone, tuba e regência de bandas. Cada um deles ocupa uma sala de aula e ensina as técnicas do seu instrumento.Essa iniciativa da Cultura leva também cursos de improvisação e arranjo e informática aplicada à música. Os grupos recebem partituras com arranjos especiais gravados em CD-ROM.

Como participar

Os organizadores escolhem municípios que têm tradição musical e bandas formadas para hospedar o evento. Mas qualquer cidade pode solicitar a realização do Pró-Bandas, desde que ofereça as condições estabelecidas para a parceria.O município interessado deve entrar em contato, por intermédio de sua secretaria da cultura, com o Conservatório de Tatuí, por telefone ou e-mail.

Dependendo da repercussão e procura, algumas cidades  viram sede dos cursos mais de uma vez. São José do Rio Pardo, Queluz e Itararé já receberam o Pró-Bandas duas vezes.

Para participar das aulas, o instrumentista se inscreve em sua entidade municipal de cultura ou pelo site do conservatório. O material de divulgação é enviado, por Tatuí, à cidade sede e também às suas vizinhas, mais ou menos um mês antes da data do curso. Cada órgão local de cultura se encarrega de divulgar o evento em escolas e outros pontos de destaque, para que músicos e regentes de banda tomem conhecimento do local e da data do programa em sua região.

Em dezembro, os organizadores realizaram encontro de encerramento, solenidade para qual são convidadas bandas de destaque na ação. No ano passado, a festa foi no Memorial da América Latina, na capital, com a participação de várias bandas (800 músicos) tocando juntas. Neste ano, prevê o maestro Neves Campos, talvez seja escolhida uma cidade do interior para a festa.

Edições anteriores

Em 2005, o Pró-Bandas teve edições quase o ano todo. Entre maio e junho, foram 12 cidades-sedes, com participação de 1,4 mil músicos. Os municípios visitados foram Itanhaém, São Vicente, Presidente Epitácio, Ibitinga, Santa Rosa do Viterbo, Monte Mor, Ilha Solteira, Sertãozinho, São Carlos, Caraguatatuba, Mogi Guaçu e Santa Rita do Passa Quatro.Presidente Epitácio, com 220 inscrições, seguida de Mogi Guaçu (160) e Santa Rosa do Viterbo (134), foram os que tiveram maior número de participantes.

No segundo semestre, as cidades-sedes foram Andradina, Espírito Santo do Pinhal, Fernandópolis, São Simão, Bastos, Itararé, Peruíbe, Presidente Prudente, Bragança Paulista, Assis, Jacareí, Barretos e Lorena.Na edição de 2004, o programa percorreu nove cidades paulistas (São Carlos, Matão, Guararapes, São José dos Campos, Itapira, Lençóis Paulista, São José do Rio Pardo, Caraguatatuba e Presidente Epitácio). Foram beneficiados 1,3 mil músicos de 65 municípios de São Paulo e mais dois de outros Estados:Poços de Caldas (MG) e Bataguassu (MS).Desde sua origem, o Pró-Bandas recebeu mais de 10 mil inscrições.

Programa fez sua apoteose na capital

Catorze bandas do interior do Estado e mais a Orquestra de Sopros Brasileira realizaram a festa de encerramento do Pró-Bandas em dezembro, no Memorial da América Latina. Pela primeira vez, o programa fez sua apoteose na capital. A apresentação reuniu bandas de Assis, Espírito Santo do Pinhal, Fartura, Fernandópolis, Itapeva, Leme, Lençóis Paulista, Laranjal Paulista, Matão, Mauá, Peruíbe, Presidente Prudente, Queluz, Santa Rita do Passa Quatro, além da Banda de Música da Base Aérea de São Paulo.

Foram 800 instrumentistas que interpretaram peças como Cristo Nasceu na Bahia, Hortênsia, Hornpipe e Majestic Matilda.Aspartituras das duas últimas composições foram doadas ao Conservatório de Tatuí por instituições australianas. A Orquestra de Sopros Brasileira, regida por Dario Sotelo, com repertório especial, encerrou a festa. Ao final, os regentes dos municípios atendidos pelo Pró-Bandas receberamkits com partituras e CDs, material que será utilizado no ensaio dos grupos nas próprias cidades.

Itararé de braços abertos

Em outubro, o Pró-Bandas lotou as salas de aula da escola Juscelino Kubitschek, em Itararé. Era a segunda vez que a pequena cidade do sudoeste do Estado recebia o evento. Compareceram músicos de outras sete cidades da região (Fartura, Itaporanga, Taquarituba, Itaberá, Sarutaiá, Piraju e Tejupá) para aprender música gratuitamente com professores do Conservatório de Tatuí. Itararé foi uma das 13 localidades que recepcionaramo programano segundo semestre de 2005. Os 250 participantes aglomeraram-se nas salas em busca de mais informações sobre regência, flauta, clarineta, saxofone, percussão, improvisação, tuba, trombone e trompete. Da pequena Tejupá,vieram 15 jovens, entre 7 e 10 anos, liderados pelo regente Márcio Corona.“Música exige disciplina e dedicação. Aqui, em Itararé, as crianças ficaramtodo o diana sala de aula, ouvindo informações às quais nunca tiveram acesso de professores-referências na América Latina. O Pró-Bandas é o único auxílio que o interior recebe”, disse Corona.

Música é fundamental – O trompetista Juan Michel Domingos,de 9 anos,contou que a aula em Itararé foi sua primeira experiência com o ensino técnico-musical.“A música mudou minha vida. Hoje, faço tudo na hora certa e quero ser trompetista quando crescer”, disseo garoto. As clarinetistas Valdinéia Tristão, 21 anos, e Fabiana Gardênia, de 18, ambas de Itaberá, têm mais experiência com o instrumento, mas ainda assim ressaltaram as novidades. “Nem sempre podemos participar de uma aula como essa. Para mim, que venho pela primeira vez e aprendi música sozinha, tudo é novidade”, observa Valdinéia. “Em Itaberá, tudo é diferente. Aqui, vemos que a música é valorizada”, emenda Fabiana.

Durante as 15 horas de aula, os alunos receberam instruções técnicas e até personalizadas dos professores. “Para nós, o Pró-Bandas também é gratificante. Vemos nos olhos das pessoas a vontade de aprender. Tento passar concepções de disciplina, cuidados com o instrumento, faço questão de montar quartetos para que toquem juntos e mostrar que um deve ouvir o outro, que o maestro tem importância, falo sobre minha própria carreira. Penso que as informações os ajudam a trilhar um caminho diferente”, analisa o professor de trompete Leopoldo Artuzo.

Os problemas de cada instrumentista também são debatidos nas aulas de clarineta do professor Rafael Pelaes. A heterogeneidade dos alunos não representa barreira ao aprendizado. “É uma classe grande, que reuniu muitos alunos da região. Tento diminuir as diferenças e ensinar disciplinas que servirão para a vida no futuro. Dentro da sociedade ainda há muito preconceito com a música. Aqui, o aluno vê que pode, sim, sobreviver como instrumentista”, concluiu Pelaes.Após o aprendizado, os jovens mostraram no pátio da escola de Itararé os resultados imediatos. O grupo que participou da aula de improvisação e arranjo, ministrada pelo argentino Hector Costita, deu o tom do encerramento do evento,tocando blues.

A coordenadora de cultura de Itararé, Nancy Gorski Damasceno, sintetizou o significado do Pró-Bandas na vida dos instrumentistas da região: “Música é fundamental na vida das pessoas. A criança que aprender as notas será uma cidadã sem envolvimento com drogas, conflitos, armas. Foi um privilégio Itararé sediar esse programa.Aqui estão bandas, fanfarras, músicos de igrejas que não têm oportunidade nem recursos financeiros para ir a um grande centro receber orientação”.


07/13/2006


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