Dólar atinge R$ 3,57 e bate novo recorde








Dólar atinge R$ 3,57 e bate novo recorde
Risco Brasil sobe a 2.186 pontos. A divulgação de novas pesquisas eleitorais e o desempenho ruim das bolsas de valores fizeram o preço do dólar comercial atingir novo recorde de alta. A moeda norte-americana chegou a R$ 3,575, alta de 4,99%, ontem. No ano, a valorização é de 35%.

"Claramente, há um processo de ´overshooting´ (alta exagerada) do dólar e o Banco Central (BC) não tem o que fazer para reverter a situação. O mercado terá de se ajustar sozinho", disse o diretor de tesouraria do Banco Santos, Clive Botelho. O BC vendeu cerca de US$ 100 milhões aos investidores, segundo operadores, e mais US$ 48,8 milhões em um leilão destinado a linhas de comércio exterior.

O risco Brasil, medido pelo índice Embi do JP Morgan, disparou 9,95% e ficou em 2.186 pontos básicos. O C-Bond, título brasileiro mais negociado, recuou 7,08% e foi negociado a US$ 0,508. O Global 05 - que vence no início do próximo governo - caiu 7,38%, a US$ 0,66. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o juro subiu e o cupom cambial de janeiro ficou em 31,95%.


"Não copiem a Argentina"
Às vésperas de encontro com FHC, Duhalde dá conselho ao Brasil. O Brasil recebe hoje ajuda de organismos internacionais parecidas às que a Argentina obteve há dois anos. Mas deve ter muito cuidado para não cometer os mesmos erros que levaram o vizinho à quebra econômica. A advertência foi feita ontem pelo próprio presidente argentino Eduardo Duhalde, que viaja amanhã a Brasília para dois dias de encontros com seu colega Fernando Henrique Cardoso.

"Acho que o caso da Argentina deve abrir os olhos do Brasil para que não ocorra lá o que estamos vivendo aqui", disse Duhalde a jornalistas brasileiros na Casa Rosada. Afirmou também que a necessidade de que seu país aceite determinadas condições do FMI e do governo dos Estados Unidos, na busca de ajuda financeira, não resultará em concessões aos interesses comerciais norte-americanos, como, a aceleração da Alca, em detrimento dos compromissos com o Brasil no Mercosul.

"Já deixei isso claro até para o secretário norte-americano de Comércio (Don Evans). Temos uma posição bem definida neste sentido. O mercado do Sul é nossa prioridade e nossa realidade. A partir disso podemos partir para a Alca ou para a União Européia, mas sempre desde uma personalidade unificada do bloco", disse.

Em várias ocasiões, homens fortes da economia norte-americana, como o secretário do Tesouro, Paul O´Neill, associaram o apoio financeiro à Argentina ao alinhamento comercial. "O governo Bush está disposto a ajudar nações amigas e interessadas em abrir seus mercados", disse O´Neill em sua recente visita a Buenos Aires.

"Não acredito que possa haver esse tipo de troca. Os governos do Brasil e da Argentina têm posições muito firmes de só negociar a Alca em conjunto e de priorizar o Mercosul", disse o embaixador em Buenos Aires, José Botafogo Gonçalves, que também viaja para o encontro de amanhã à noite e quinta-feira entre os presidentes.

"Para ajudar-nos, o melhor que o Brasil pode fazer é trabalhar para que sua economia ande bem", afirmou Duhalde.


Schröder tem novo desafio: recomposição com Bush
As relações entre o Brasil e a Alemanha são excelentes e a reeleição do chanceler Gerhard Schröder facilitará os entendimentos com qualquer presidente eleito, seja Lula, José Serra, Ciro Gomes ou Garotinho, afirmam os analistas.

No entanto, a reeleição do chanceler afeta a influência econômica e diplomática da Alemanha, e isso pode ter repercussões, inclusive sobre os interesses do Brasil e do Mercosul.

Como observa o professor Alfredo Valadão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a questão fundamental e inquietante é a posição de Schröder sobre o Iraque. Sua recusa de integrar a Alemanha numa coalizão militar contra Bagdá, mesmo com o sinal verde do Conselho de Segurança das Nações Unidas, colaborou para sua vitória, mas o colocou em rota de colisão com os Estados Unidos e dividiu a Europa. A Grã-Bretanha, Espanha e Itália, por exemplo, apóiam a política americana.


Remessas ao exterior pressionam o câmbio
(00:35) São Paulo, 24 de Setembro de 2002 - A concentração de remessas ao exterior contribui para manter o dólar comercial nas alturas. Hoje, por exemplo, um banco estrangeiro pretende enviar para a matriz US$ 700 milhões que estavam aplicados em notas cambiais. Uma empresa de telefonia tem a intenção de mandar, também hoje, US$ 200 milhões, como dividendos.

Com os vencimentos programados para outubro, a pressão sobre o dólar pode ter seqüência. Há US$ 3,11 bilhões em dívidas do setor privado e mais US$ 1,38 bilhão entre principal e juros de bônus do governo. "Os bancos têm muita exposição em dólar e a oferta de divisas está longe de atender a essas necessidades", afirma o ex-diretor do Banco Central (BC), Emilio Garofalo.


Têxtil barato da China preocupa a indústria
As indústrias e organizações de têxteis e vestuários de 34 países, reunidas em Genebra, manifestaram preocupação com o crescimento da China. Estimativas do Banco Mundial mostram que os chineses, que detêm hoje 20% do comércio global do setor, podem vir a abocanhar uma fatia de 50% até 2010.

As exportações chinesas podem dar um salto maior a partir de 2005, quando não estarão mais limitadas por cotas, como prevê o Acordo de Têxteis e Vestuário da Organização Mundial de Comércio (OMC).

O representante da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) na conferência, Domingos Mosca, disse que a estratégia brasileira para crescer nesse cenário será não concorrer com os produtos baratos da China.


Colunistas

Dólar a R$ 3,60 no segundo turno?
Klaus Kleber

Estudo feito pelo departamento econômico do Banco Sudameris, em fevereiro, sobre a provável evolução da economia brasileira neste ano eleitoral, previa que, ao fim do terceiro trimestre deste ano, o dólar estaria cotado a R$ 2,775 e que o risco Brasil, medido pelo índice Embi+ do JP Morgan chegaria a 1.300 pontos básico, se prevalecesse o cenário 2 (perspectiva de vitória de um candidato da oposição).

No caso de o candidato da situação ter melhores chances (cenário 1) seria melhor (dólar cotado a R$ 2,643 no terceiro trimestre e risco Brasil em 800 pontos).

Isso parecia um chute, estando o dólar em R$ 2,422 em 20 de fevereiro e não passando então o prêmio de risco de 821 pontos, como comentei na ocasião. Um mês depois, as projeções do banco pareciam ainda mais fantásticas: o dólar estava cotado a R$ 2,344 e o risco Brasil caíra para 698 pontos.

Hoje, as projeções agourentas do início do ano parecem tímidas. O dólar, na última sexta-feira, fechou em R$ 3,405, depois de outra semana de loucuras no mercado de câmbio. O risco Brasil ficou em 1.988 pontos básicos. Na pior das hipóteses feitas pelo departamento econômico do Sudameris, o dólar só alcançaria a cotação de R$ 2,877 no quarto trimestre com a vitória de um candidato de oposição. Quanto ao risco Brasil, o seu teto, ao fim deste ano, seria de 1.500 pontos básicos.

Algumas continhas a partir de fevereiro ajudam a mostrar o grau de demência do mercado financeiro brasileiro. De 20 de fevereiro para cá, a taxa do dólar subiu 40,59%, a uma taxa média mensal de 4,99%. A continuar nessa marcha, o dólar em 19 de outubro, a praticamente uma semana da realização do segundo turno, marcado para 27 de outubro (as pesquisas até não autorizam a afirmação de que não haverá segundo turno para presidente), deve atingir R$ 3,574.

A especulação interna exportou a insegurança para o mercado de C-bond, a tal ponto que o risco Brasil ficar abaixo de 2.000 pontos, como aconteceu sexta-feira, é boa notícia. De 20 fevereiro até o fim da semana passada, o prêmio de risco do País elevou-se nada menos de 142,14%, a uma taxa média mensal de 13,47%. Mantido esse ritmo, o risco Brasil vai a 2.256 pontos básicos em 19 de outubro.

Esses cálculos, para efeito de demonstração, foram feitos com base na taxa média mensal. Não há nenhuma segurança de que, a uma semana da decisão de quem será o próximo presidente do Brasil, o dólar não vá a R$ 3,80 ou a R$ 4,00 ou de que o risco Brasil não salte para 2.500 ou 2.600. Até aqui, a taxa recorde do dólar foi de R$ 3,48 (31/7) e a pior marca do risco Brasil foi 2.390 (30/7), mas isso não significa que novos recordes não possam ser batidos de agora em diante com o aumento da ansiedade eleitoral do mercado.

O pior é que não há nada que o governo possa fazer. As intervenções do Banco Central para conter a alta do dólar têm sido um rotundo fracasso. Pouco adiantou também o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a elevação da meta do superávit primário este ano para 3,88% do PIB, manutenção da taxa de juros em 18%, sem viés, o que pode significar novo aumento daqui a pouco.

Não adianta também dizer que a inflação, apesar de alguns soluços, está sob controle e que a dívida interna não perdeu a condição de ser tecnicamente bem administrada. São também solenemente ignorados por esse mercado dados surpreendentes, como o fato de o superávit da balança comercial ter ultrapassado a meta de US$ 7 bilhões no semana passada ou de que o Brasil pode esperar uma safra de 107 milhões de toneladas de grãos em 2002/2003.

É inútil procurar discernir o que o mercado ou as pessoas que dizem falar em seu nome desejam. Eles nem mesmo têm a coragem de dizer que são de direita e chamá-los de neoliberais é ofensa. Assim, é muito mais fácil verificar o que eles não querem, em hipótese alguma. Os especuladores não podem aceitar, por exemplo, um Banco Central que não lhes seja subserviente. É por isso que falam tanto em "BC independente", ou seja, um BC que continue comandado pelo mercado e pautado pelas análises tétricas dos economistas dos grandes bancos.

Os executivos que dão as ordens nas mesas de operação não chegariam jamais a afirmar que são contra o crescimento econômico. Mas, no fundo, consideram que isso não tem significado algum se não representar altos lucros em aplicações financeiras. Como viver sem "nossos" rentistas?

Esse pessoal não tem nenhuma simpatia também por uma política voltada para a redução da dependência externa do País. Isso poderia ameaçar a tão lucrativa arbitragem de taxas, uma das glórias da globalização. Mexer seletivamente na abertura comercial, substituir importações, regular a entrada de capital especulativo, estimular a habitação popular, essa coisa toda, para esses bem-sucedidos "yuppies", os homens e mulheres que hoje orientam o mercado, é "papo dos anos 50" - a senha de tudo o que lhes é abominável.

Não sou pessimista. Mesmo com o dólar a R$ 4, poderemos votar, como, aliás, costumávamos fazer nos anos 50.


Editorial

SUPORTE ESSENCIAL AO COMÉRCIO NA AMÉRICA LATINA

A corrente de comércio entre o Brasil e a Argentina não representa apenas o esteio do Mercosul. É de grande importância para os dois países. De janeiro a agosto deste ano, por exemplo, o Brasil exportou para a Argentina apenas US$ 1,42 bilhão, 62% menos que no mesmo período de 2001 (US$ 3,74 bilhões). A continuar nessa marcha, as vendas brasileiras para o país vizinho podem ficar, no fim do ano, em torno de US$ 2,6 bilhões, ou seja, US$ 2,4 bilhões abaixo do total do ano passado.

O comércio bilateral vem apresentando superávits nos últimos anos a favor da Argentina. Essa situação, porém, não mudou com a desaceleração da corrente de comércio. Ao contrário, o saldo positivo para a Argentina aumentou 160% nos oito primeiros meses de 2002 (US$ 1,83 bilhão), em comparação com o período janeiro-agosto de 2001 (US$ 701 milhões). Isso ocorreu porque as vendas da Argentina caíram em proporção bem menor (26,8%), ficando em US$ 3,25 bilhões de janeiro a agosto, em comparação com US$ 4,44 bilhões nos mesmos meses do ano passado.
O que se pode concluir, portanto, é que o Brasil poderia manter e até elevar o superávit de US$ 7,24 bilhões obtido na balança comercial neste ano até a terceira semana de setembro se o comércio com a Argentina fosse normalizado. Convém lembrar que o descompasso que agora se verifica não é conseqüência da oscilação do câmbio, de um lado ou de outro. Com a desvalorização do peso a partir de janeiro deste ano, as exportações argentinas, de modo geral, foram beneficiadas. Contudo, o real já havia sofrido uma grande desvalorização, que se acentuou muito depois de junho deste ano. Isso deveria favorecer as vendas brasileiras para o mercado argentino, o que não vem acontecendo, porém, por falta de mecanismos adequados de financiamento.

Essa é a falha que o Brasil está procurando sanar pela retomada, em um novo formato, do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR). Não se trata apenas de recuperar a Argentina como mercado para as exportações brasileiras, o que já por si seria de grande relevância para o fortalecimento do Mercosul. Isso também é essencial para dar um melhor suporte para o comércio com os parceiros da América Latina, tendo em vista novas aberturas, como a zona de livre comércio que vem sendo negociada com a Comunidade Andina de Nações (CAN).

O problema maior para o deslanche do CCR é dar aos exportadores garantias contra uma eventual inadimplência dos importadores e outros tipos de risco que o Banco Central (BC) não se mostrava disposto a assumir. Pelo novo modelo, o BNDES, em conjunto com a Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE), passará a cobrir os riscos nas operações com prazo superior a dois anos com recursos do Fundo de Garantia a Exportações (FGE). Em operações com prazo até 360 dias e no valor de até US$ 200 mil, os riscos correrão por conta do Banco Central (BC), que também agirá como responsável pelos ajustes do CCR junto a outros bancos centrais dos países latino-americanos.

A grande vantagem do CCR é que permite contornar os problemas de falta de financiamento ao comércio exterior que vêm tendo a Argentina, o Brasil e outros países do continente. O CCR é regido por uma espécie de câmara de compensação entre os bancos centrais da região, sendo feitos acertos periódicos. A concessão das garantias pode ser no todo ou em parte, mas isso deixa de ser um obstáculo insuperável por parte de muitas empresas para voltarem a exportar para mercados onde estavam presentes, mas foram obrigadas a recuar, bem como para partir para a conquista de novos clientes no hemisfério.

O CCR pode vir a ser ampliado em breve, mas é preciso primeiro "limpar a mesa", ou seja, é preciso acabar com contenciosos criados em um período de desconfianças no comércio bilateral, bem como estabelecer uma padronização de normas e reexaminar medidas de exceção relacionadas à Tarifa Externa Comum (TEC).

Esses temas constam da agenda de conversações que os governos brasileiro e argentino vão manter nesta semana durante a visita que o presidente Eduardo Duhalde fará a Brasília. São questões fundamentais para a revitalização do Mercosul, proporcionando-lhe condições de concluir um acordo com outros blocos regionais. Sem uma convergência de políticas, harmonização de normas e procedimentos e fortalecimento do comércio inter-regional, a posição dos sul-americanos ficaria muito enfraquecida também nas negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) a partir de janeiro de 2006.


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09/24/2002


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