Duas exposições no MCB comemoram centenário da imigração japonesa no Brasil
“Um novo cardume” traz luminárias-esculturas e “Viagem à Liberdade” mostra fotografias de bairro paulistano
Duas exposições serão abertas no próximo dia 27 de maio no Museu da Casa Brasileira (MCB), da Secretaria Estadual da Cultura: ‘Um Novo Cardume’ e ‘Viagem à Liberdade: em busca da alma japonesa de um bairro’, que também contará com lançamento de um livro com o mesmo nome. As mostras fazem parte das cerca de 100 ações do Estado para a comemoração do centenário da imigração japonesa ao Brasil.
Carpas nadando no céu
Com a curadoria de Marcelo Suzuki, a exposição “Um Novo Cardume” traz luminárias-esculturas de Lucas Isawa. O artista transita com fluência pelas diversas manifestações das artes visuais.
Criadas a partir da tradição koinobori (quando uma carpa colorida de tecido ou papel tremula contra o céu e parece nadar contra a correnteza), a mostra oferece a rara oportunidade de admirá-las agrupadas, o que gera uma percepção de conjunto incomum e surpreendente.
“São objetos mutáveis, seja através da brisa que os faz mudar de posição, seja através da luz, realçando a estrutura, leveza e transparência de peixes e animais marinhos em três dimensões. As luminárias de Lucas Isawa partiram das carpas presentes nas festas e tradição de jogos de crianças, trazidas para o Brasil pelos imigrantes japoneses”, explica Marcelo Suzuki.
O diretor técnico do MCB, Giancarlo Latorraca, constata que Lucas Isawa repassa a tradição técnica de execução de lanternas japonesas, com liberdade e experimentação formal de expressiva criatividade. “A nova relação volume-estrutura leva também ao distanciamento do objeto resultante de sua referência inicial, sejam peixes ou animais marinhos, nos levando à leitura da escultura-luminária por si só. Esta mostra apresenta um artista verdadeiramente multidisciplinar, acostumado com a cizânia da arte moderna e o mundo, com o objeto e sua utilidade”, afirma Latorraca.
Tradição Koinobori
No Japão, famílias com filhos homens hasteiam, no dia 5 de maio, sobre um mastro de bambu, o Koinobori, que é uma carpa colorida de tecido ou papel. Quando o Koinobori é visto tremular junto ao céu azul a impressão é de estar vendo uma carpa nadando contra a correnteza.
O Koinobori representa o Dia dos Meninos e a carpa é um símbolo de força, persistência, bravura e sucesso. Esse peixe consegue nadar e subir correntezas e cataratas sem a ajuda de ninguém. Numa fábula chinesa, a valente carpa se transforma num dragão no final da escalada. Os atributos que a carpa simboliza parecem virtudes militares (persistência, coragem, sucesso) e, de fato, ela está em algumas lendas que falam de guerras ocorridas num período remoto. Tanto é que nos santuários do deus da guerra, Hachiman são distribuídos amuletos em forma de carpa.
A prática de hastear o Koinobori surgiu no século XVII entre os plebeus urbanos, que resolveram apresentar uma alternativa ao costume dos samurais de exibirem suas armas e armaduras no Dia dos Meninos. Além de ser mais simples, a carpa de tecido simbolizaria os mesmos valores pretendidos pelos guerreiros sem ser tão ostensivo.
As duas formas de celebrar a data foram mantidas por muito tempo. Mesmo atualmente, além do Koinobori no lado externo da casa, os meninos devem expor dentro de suas casas, miniaturas de bonecos de guerreiros, com armadura, arma e capacete.
Liberdade: um bairro de alma japonesa
Já a mostra “Viagem à Liberdade: em busca da alma japonesa de um bairro”, que também contará com o lançamento do livro homônimo, traz imagens do cotidiano do bairro paulistano em ensaio fotográfico de Marcio Scavone. O projeto foi realizado com o patrocínio da Mitsubishi Motors.
Com curadoria de Roseli Nakagawa, a exposição nos remete a uma antropologia urbana pelo olhar poético e delicado sobre os espaços tradicionais do bairro da Liberdade, através da presença marcante de seus habitantes.
“Transformo o bairro oriental de São Paulo numa metáfora da busca pela familiaridade numa terra estranha. Até mesmo os personagens do bairro que povoam a exposição e o livro assumem uma atitude atemporal, como se fizessem parte de um álbum de retratos congelado no tempo e no espaço”, afirma Scavone.
O ensaio fotográfico assinala a passagem do tempo em quarteirões, vielas, corredores, galerias, balcões de bar cheirando saquê e cerveja, templos silenciosos, e lojinhas de estranhos objetos eletrônicos. Uma curiosidade de seu trabalho, realizado ao longo de 100 dias, é que boa parte das fotos foram feitas antes da Lei Cidade Limpa. Assim, Scavone conseguiu registrar grande parte dos cartazes, placas e textos que fizeram parte da paisagem tradicional da Liberdade e que foram retirados. As fotografias presentes na exposição e no livro trazem o passado e o presente de um bairro significativo na construção da identidade paulistana.
Uma mirada imaterial em busca do espírito japonês, encontrado no já “envelhecido” bairro, revelando memórias, afetos e lembranças de um passado substituído pelo novo território, o da própria Liberdade. É um encontro ou procura de razão universal, em um novo país, dentro da cultura do cotidiano e que consegue ir além do tempo e do espaço, definindo um lugar no mundo da memória de uma civilização em trânsito.
O talento do fotógrafo Márcio Scavone transforma a mostra numa viagem ao bairro da Liberdade, como sugere o título sugere.
Livro sobre o bairro da Liberdade
O livro “Viagem à liberdade – em busca da alma japonesa de um bairro”, da Alice Publishing Editora, com versão em português e japonês, conta com a contribuição do ensaísta e professor de história de arte da Unicamp Jorge Coli. Sua formatação é uma homenagem à maneira japonesa de fazer livros. Tem duas capas, uma ocidental e outra oriental. Ao folhear da direita para a esquerda ou na direção oposta, o leitor poderá apreciar ao todo 116 imagens coloridas clicadas por Scavone.
Título: “Viagem à Liberdade - em busca da alma japonesa de um bairro”
Autor: Marcio Scavone
Editora: Alice Publishing Editora Tel. (11) 5573-3907
Nº de páginas: 192
Formato: 26x26cm
Preço: R$ 125,00
Serviço:
Exposição: “Um novo cardume”
Abertura: 27 de maio, às 19h30
Workshop: 14 e 28 de junho, das 14hs às 18hs, 30 vagas em cada dia, gratuito. Inscrições pelo tel. 3032-2499
Visitação: de 28 de maio a 6 de julho, de terça a domingo, das 10h às 18h
Exposição: “Viagem à Liberdade: em busca da alma japonesa de um bairro”
Abertura e lançamento de livro: 27 de maio, às 19h30
Visitação: de 28 de maio a 6 de julho, de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu da Casa Brasileira - Av. Faria Lima, 2705 - Jardim Paulistano - São Paulo/SP - fone: (11) 3032-3727
Ingresso: R$ 4,00 - Estudantes: R$ 2,00 Domingo gratuito
Acesso a pessoas com deficiência física.
Site: www.mcb.sp.gov.br
Visitas monitoradas: 3032-2564 [email protected]
Estacionamento: R$ 10,00 no dia da abertura; de terça a sábado até 2 horas R$ 6,00; 3ª hora R$ 2,00; demais horas R$ 1,00 Domingo: preço único R$ 10,00
Do Museu da Casa Brasileira
(C.C.)
05/01/2008
Artigos Relacionados
Exposição marca centenário da imigração japonesa no Brasil
CASA homenageia Centenário da Imigração Japonesa
Exposição homenageia centenário da imigração japonesa
Senadores homenageiam centenário da imigração japonesa
Metrô abre exposições sobre 100 anos da imigração japonesa
USP faz mostra de filmes sobre o Centenário da Imigração Japonesa