Educação: Grupo de 29 professores da rede estadual está com tudo pronto para viagem a Salamanca
Com o embarque deste sábado, dia 1º, chega a 89 o número de professores da rede estadual enviados à Espanha
“Estou muito ansiosa. É a minha primeira viagem internacional. Eu gosto muito de aprender, conhecer lugares novos. Tem oportunidade melhor que essa?”. A resposta em tom de interrogação mostra bem como se sente a professora Antonia Aparecida Pedro, da Escola Estadual Renato Braga , que fica na zona sul de São Paulo.
A mistura de entusiasmo e ansiedade tem explicação. Antonia está entre os vinte e nove professores da rede estadual que ganharam a bolsa de estudos para um curso de Língua e Cultura Espanholas - parceria entre o Santander Banespa e a Secretaria de Estado da Educação – em Salamanca, na Espanha. Os bolsistas embarcam para Salamanca neste sábado, dia 1º, e retornam no final do mês, dia 29.
Oportunidade
Não se trata de mestrado, e sim , de um curso de aperfeiçoamento. Uma oportunidade e tanto para o professor refletir sobre a prática pedagógica. “Teremos atividades de diferentes disciplinas, vamos poder conversar sobre as atividades que são trabalhadas em sala de aula e de que maneira essa viagem vai mudar a prática e o cotidiano pedagógico de cada um. Os professores terão aulas de artes, de cultura espanhola, enfim, uma outra cultura. Saber como eles trabalham lá, como nós trabalhamos aqui, e fazer a transposição didática do que vai ser estudado lá para o nosso sistema de ensino”, explica a professora Roseli Ventrella, da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas ( CENP).
Mesmo tendo o papel de representante da Secretaria de Estado da Educação nesta viagem, Roseli não esconde a emoção por fazer parte da turma. “ É o primeiro ano que eu vou, estou muito feliz. Sou professora de artes há 33 anos na rede pública. Imagina uma professora de Artes ir para a Espanha. Você deve respirar, tropeçar em coisas lindas porque tudo lá é arte”, comemora.
Continuidade
Como parte do Programa de Extensão Universitária, os professores farão um workshop no 2º semestre para apresentar um projeto de mudança em suas práticas de aula, juntamente com os representantes das Diretorias de Ensino. “Nós temos um diário de bordo e um fórum no site da Cenp para fazermos o acompanhamento. Eles relatam as experiências, o grupo de 2004 interage com o de 2005 e o grupo de 2006 vão interagir com os dos dois últimos anos”, explica a coordenadora da Educação à Distância da Secretaria de Estado da Educação, Aglaé Cecília Porto Alves.
Parceria
Assinada em 1º de abril de 2004, a parceria entre a Secretaria de Estado da Educação e o Santander Banespa foi decisiva para a realização do Programa de Extensão Universitária em Salamanca, que atende 89 professores de 5ª a 8ª séries, divididos em 3 grupos: em julho de 2004, 30 professores receberam capacitação em Salamanca; em 2005, outros 30. Dessa vez, 29 educadores seguem para a Espanha. Ao todo, o Santander Banespa investiu 1 milhão de reais na parceria.
O curso
As aulas vão de segunda a sexta-feira, e cada grupo de professores terá quatro semanas de curso. São ao todo 100 horas de atividades programadas, sendo cinco horas diárias: duas horas de Língua Espanhola e três com matérias optativas, como Práticas Comunicativas Globais, História da Arte Espanhola, Economia, entre outras. Os professores têm a oportunidade de visitar ainda outras cidades espanholas. Ao final do curso, recebem certificados.
Para a 3ª hora, o professor poderá escolher, entre outros, Curso de Cultura Espanhola; História da Espanha Contemporânea; Práticas Comunicativas Globais; e Espanhol nos negócios. Para a 4ª hora, o professor pode escolher entre os cursos de Literatura espanhola contemporânea; História da arte espanhola; Economia e sociedade da Espanha atual; Práticas comunicativas globais; e Práticas de destrezas orais.
Fazendo a diferença
Os educadores que vão à Salamanca têm, teoricamente, as mesmas oportunidades. Mas depende de cada um encontrar um caminho, uma meta, um diferencial. A coordenadora da Educação à Distância da Secretaria de Estado da Educação, Aglaé Cecília Porto Alves, lembra de dois casos bastante significativos.
Uma professora de Matemática, por exemplo, usou a geometria da arte espanhola para fazer um curso de geometria em matemática. Com esse programa ela ligou a arte com a matemática, e hoje, faz mestrado em Matemática na PUC, associando arte, matemática e geometria.
Outro exemplo citado por ela é de um professor de geografia. Preocupado com a questão ambiental, ele percebeu como Salamanca trata o rio que passa pela cidade. Lecionando em uma escola que fica perto de um rio e enfrenta problemas semelhantes, ele fez um trabalho comparativo de educação ambiental da cidade espanhola com a região dele, e agora, partiu para o mestrado trabalhando este mesmo tema.
Os casos citados acima, segundo Aglaé, ilustram bem o impacto causado em sala de aula. “São situações diferentes. Uma coisa é você fazer uma formação dentro do seu país. Outra é você levar esse professor para conhecer uma outra cultura, uma outra visão, uma outra problemática. Aí ele faz questão da comparação, e vem extremamente enriquecido de lá”, completa.
Entusiasmo
Mesmo tendo feito outros dois cursos na Europa, o professor Joani Corrêa Prestes, da Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes , de Itú, no interior do Estado, acha que todo conhecimento é bem vindo. “ O meu desejo é que esse projeto continue. É uma oportunidade para outros professores se reciclarem também. Basicamente nós somos a formação do País. O Brasil precisa voltar a valorizar o professor como os meus professores eram valorizados no passado”, explica Joani.
Apaixonado pelo que faz, ele garante que trará na bagagem muito mais do que lembranças de Salamanca. “Eu desejo trazer o que aprendi de volta para a escola onde trabalho. Sou aquele que ama a escola pública, sou da escola pública, e farei tudo para que a ela tenha um bom padrão, e que possa atender a necessidade do nosso povo”, completou.
Celso Bandarr
06/30/2006
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