Educadores de SP terão aula sobre o Holocausto
Aula faz parte da VII Jornada Interdisciplinar que acontece dia 16 na FAU/USP
O professor “José” se dirige até a “mesa de imigração” para a retirada de seu “Passaport Card” que vai permitir que ele possa “imigrar”. Quando ele abre o documento, não encontra a própria foto, mas sim a de uma criança que foge do nazismo em plena Segunda Guerra Mundial. A cena não se refere a um filme sobre o Holocausto, mas sim ao ambiente inicial que os professores da rede municipal de ensino irão encontrar no próximo dia 16 de agosto na abertura da VII Jornada Interdisciplinar sobre o Ensino do Holocausto, que acontece das 8 às 17h30 no Anfiteatro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. O tema deste encontro será “Por um milhão de crianças”.
“A idéia é oferecer subsídios para os educadores trabalharem em sala de aula o tema Holocausto de maneira interdisciplinar”, conta a coordenadora da iniciativa, a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. “O objetivo principal da Jornada é a educação para a cidadania: oferecer recursos ao educador para ele criar um espírito de solidariedade entre os alunos, visando combater o racismo e o anti-semitismo”, aponta.
A professora conta que a ambientação de um setor de imigração no início da Jornada é baseada em um recurso já usado no exterior em museus interativos que possibilitam ao visitante se identificar com personagens retratados nesses lugares. As “crianças” identificadas no “passaporte” que os educadores vão receber no início das atividades do dia 16 estarão presentes na Jornada. Anita Leocádia Prestes, Ruth Sprung Tarasanschy, Sabina Kustin, Jorge Legmann, Esther Cohen Ahaaroni, Maika Milner e Inge Rosental eram crianças durante a Segunda Guerra e vão participar apresentando seus depoimentos como sobreviventes do Holocausto. “Em cada um desses depoimentos, os professores e educadores identificados no "Passaport Card" como cada uma dessas “crianças” serão convidados a se levantarem da platéia.”
Maria Luiza conta que a palestrante Inge Rosenthal, por exemplo, foi uma das crianças do Kindertranport, o “trem das crianças”. “Em 1939, na Alemanha, vários pais judeus colocaram seus filhos em um trem com destino à Inglaterra como uma maneira de salvá-los da perseguição nazista. A Inge vai para Londres e depois para os Estados Unidos. Lá ela conhece um fazendeiro brasileiro, casa-se com ele e vem para o Brasil. Atualmente ela mora em Rolândia, interior de São Paulo”, explica.
Teatro
A Jornada também vai oferecer o recurso do uso do teatro em sala de aula. A peça “Uma carta, uma dor”, conta a história de uma menina que está escondida na Polônia junto com a mãe e dois irmãos. A garota escreve uma carta para um cônsul brasileiro pedindo que ele salve a família dela da perseguição nazista e conceda um visto para a família. De acordo com Maria Luiza, “O material oferecido na Jornada é multidisciplinar, pois permite ao educador trabalhar o tema levando o teatro para a sala de aula abordando outras disciplinas além de História, como Literatura, Língua Portuguesa e Geografia, por exemplo”.
Entre os outros temas que serão abordados durante a Jornada, estão: As crianças do Holocausto: medo e silêncio; As crianças de Terezin: arte e criatividade em tempos de intolerância; Anne Frank: uma vida, um registro; Literatura e História: travessia para o Brasil; e O cinema e as crianças do Holocausto: a infância perdida. Os depoimentos dos sobreviventes estão previstos para acontecerem a partir das 14 horas. Encerrando o encontro, a partir das 16h40, a diretora de teatro e pesquisadora do Laboratório de Estudos de Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da USP, Leslie Marko, apresenta aos participantes uma cena da peça “Uma carta, uma dor” e mostrará como o teatro pode ser usado em sala de aula.
Neste ano, a Jornada já aconteceu em Curitiba e no Rio de Janeiro. Para2009, estão previstas jornadas em Porto Alegre, Recife, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com Maria Luiza, a idéia é, posteriormente, disponibilizar todo material usado nesses encontros por meio do link “Ação Educativa” do portal Arquivo Virtual sobre Holocausto e Anti-Semitismo (Arqshoah) que está sendo produzido pelo LEER, e que deverá ser inaugurado em janeiro de 2009.
As inscrições, gratuitas, estão abertas até o dia 11 de agosto e podem ser feitas por meio do endereço disponível no site da Secretaria Municipal de Educação, que traz a programação completa do evento. A Jornada é promovida pelo LEER, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith.
Da USP
08/08/2008
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