Especial D.O.: Primeira olimpíada da Febem reúne 500 jovens atletas no Ibirapuera
Objetivo é fortalecer o trabalho de ressocialização realizado pela instituição e reforçar valores da prática esportiva
A mistura verde-e-amarela na quadra do Ginásio do Ibirapuera dava clima de torcida de Copa do Mundo à cerimônia de abertura da 1ª Olimpíada da Febem. Durante quatro dias da primeira semana do mês, 500 jovens internos de todo o Estado disputaram 54 medalhas em 11 modalidades esportivas. Entre as surpresas para os competidores, estava não apenas a subida ao pódio, mas a oportunidade de conhecer de perto grandes nomes do esporte nacional. Montanaro, jogador da geração prata do vôlei brasileiro, foi quem deu o saque inicial no primeiro jogo disputado entre as equipes das unidades do Guarujá e de Sorocaba. Mas esse não foi o primeiro contato entre Montanaro e os adolescentes da Fundação para o Bem-estar do Menor (Febem). Há alguns meses, o jogador, que é gerente do time do Banespa-Santander, levou sua equipe para promover uma clínica de vôlei na unidade de Araraquara. Na cerimônia de abertura da olimpíada, o atleta ganhou a placa Amigo da Febem, das mãos da presidente da instituição, Berenice Giannella.
“O esporte é ótima ferramenta educacional. Seus valores como respeito, disciplina, determinação e saúde são algo que estes jovens levarão para o resto da vida”, ressaltou o atleta, antes de explicar o que é a clínica de vôlei. A iniciativa consiste em esclarecer dúvidas sobre o esporte, dar dicas de alimentação e preparo físico, reforçar a importância do professor nas atividades esportivas, proporcionar o contato dos menores com jogadores de alto rendimento e promover, entre eles, um jogo para colocar em prática os conceitos aprendidos com os craques do vôlei. No encontro em Araraquara, Montanaro fez palestra intitulada Sonhos e Oportunidades, em que contou sua trajetória – como um garoto da periferia de São Paulo transformou-se em medalhista olímpico. “Estes meninos percebem a origem humilde da maioria dos esportistas e vêem uma possibilidade para suas próprias vidas”, diz.
Desfile de craques – Depois do desfile das delegações de 22 unidades da Febem, na cerimônia de abertura, os garotos presenciaram um desfile de craques do passado do futebol brasileiro, entre os quais o tricampeão mundial Zé Maria, que atuou no Corinthians nas décadas de 60 e 70. Leivinha e Dudu (Palmeiras), que vestiram a camisa da seleção canarinho nos anos 70, Coutinho (Santos) e Basílio (Corinthians) também prestigiaram o evento. Leivinha acredita que iniciativas como essa são uma oportunidade para que os jovens vejam que há um mundo diferente. “O esporte pode dar a eles a perspectiva de um futuro melhor”, afirma. Para incentivar os internos a praticar esportes, há seis anos a fundação contratou Zé Maria como supervisor técnico de futebol. O ex-jogador percorre todas as unidades no Estado levando seu conhecimento.
Para ele, o esporte é uma porta que pode marcar o início da volta dos adolescentes à sociedade. O atleta acompanhou os jogos desde a fase classificatória, que selecionou os melhores competidores para participarem das olimpíadas nas modalidades de atletismo, basquetebol, dama, futebol de salão, futebol de campo, handebol, natação, pebolim, tênis de mesa, xadrez e voleibol. Cerca de 3,2 mil competidores de 40 unidades – 15 do interior e 25 da capital – participaram das eliminatórias, realizadas nos meses de abril e maio, nas cidades de Araçatuba, Lins, São Paulo e Ribeirão Preto. Algumas das condições fundamentais definidas para a participação do jovem foram a integração em todas as atividades da unidade em que está interno e a ausência de problemas de comportamento.
Disciplina e cooperação – Para a diretora da unidade de Araraquara, Eliete Nogueira, a prática esportiva trabalha questões de fundamental importância para os jovens, como disciplina, cooperação e a integração entre eles e os funcionários da instituição: “A Olimpíada, em particular, foi um grande estímulo para os meninos, aparato de motivação para superarem as próprias limitações”. A professora de Educação Física da Febem do Brás, Marili Ângelo, que acompanhava a equipe de basquete que representaria a unidade no desfile de abertura, concorda. “Eles receberam a notícia com muito entusiasmo”, revela. Segundo Marili, apesar da paixão pelo futebol, preferência geral dos internos, também se interessaram por outras modalidades esportivas.
Exemplo é o jovem Aníbal, 17 anos. Apesar de ter o futebol como grande paixão, quando chegou à Febem, há sete meses, tomou conhecimento de novos esportes. Até então, não conhecia nada de basquete. “Não sabia nem arremessar a bola”, lembra. Acabou destacando-se no esporte e foi o cestinha da seletiva da capital. O apaixonado por futebol também faz incursões pelo tênis de mesa, fruto do contato que fez com esse jogo dentro da Febem. A prática esportiva é rotina para os internos. Cada unidade assegura duas aulas semanais de Educação Física e três de atividades esportivas, ministradas por professores da própria instituição e por profissionais da Secretaria de Educação. Tomando o caso do cestinha Aníbal como exemplo, a professora Marili constata que a maioria dos internos tem pouca ou nenhuma noção sobre outros esportes além do futebol: “Antes da prática propriamente dita, ensinamos as regras, os conceitos básicos e, principalmente a questão da disciplina no esporte”.
Ver a rua – Com o objetivo de estimular o menor a aderir à pratica esportiva, a Febem realiza regularmente campeonatos estaduais, que o leva a outras cidades para participar de competições. A perspectiva de ver a rua, na palavra dos próprios internos, é alentadora para quem fica encerrado dentro dos muros da instituição, cumprindo medida socioeducativa. A idéia de criar uma competição maior que os campeonatos por modalidade surgiu no final do ano passado, com o intuito de fortalecer o trabalho de ressocialização realizado pela Febem. No discurso de abertura da olimpíada, a presidente da instituição saudou os atletas, afirmando que todos ali já eram grandes vencedores, independentemente de quem ganhasse.
Lembrou que a competição teve adesão de quase todas as unidades (só não participaram as que tiveram problemas disciplinares) e contou com o apoio da Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer, que cedeu o Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, transformado-o numa minivila olímpica durantes os quatro dias do evento. Ela própria, num esforço extra para integrar-se aos meninos, prometeu que participaria da prova de encerramento – a corrida dos 5 mil metros rasos, no domingo. Promessa cumprida! Quem venceu foi Kleiton. O jovem, que já correu os 10 mil na maratona de S
06/20/2006
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