Especial do D.O.: Estação Pinacoteca expõe arquivo do Deops coletado durante 59 anos



Material revela ao público fichas, fotos, cartões postais e até atestados de óbito recolhidos pela polícia política

A Estação Pinacoteca exibe a mostra Vozes Silenciadas - Fragmentos de Memória - Acervo DEOPS/SP até o dia 2 de setembro. A exposição traz uma síntese de toda a documentação coletada e montada pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP). Destacam-se as fotografias (de frente e de perfil das pessoas presas), fotos históricas (missa ecumênica na Praça da Sé e passeatas), fotografias particulares (casamento, aniversário) cartões postais e documentos de pessoas fichadas.

Haverá ainda um ciclo de seminários relacionados à temática com presença de ex-diretores do Arquivo do Estado e estudiosos da Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas e História da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e lançamento de três coleções que tratam da documentação do arquivo do Deops.

A curadora da exposição, a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, diz se tratar de uma amostragem síntese da documentação acumulada durante os 59 anos de atuação do Deops/SP. "Usamos os documentos mais relevantes para que o público pudesse ter uma visão de como a polícia política atuava nesse período e conhecer essa parte da história brasileira que estava ocultada pelo silêncio".

Memória roubada e silenciada

O procedimento usual do Deops era invadir a casa do suspeito, confiscar fotografias, jornais, livros, agendas e todo tipo de objeto que indicasse o comprometimento do acusado de crime político com "idéias subversivas", explica Maria Luiza. "A polícia invadiu a residência, abriu gavetas, mexeu em álbuns de fotografias e confiscou tudo o que encontrou em busca de indícios de subversão".

Esse material recolhido e os resultantes das operações de vigilância iam parar numa pasta pessoal de processo, prontuário e colocado nos arquivos.

Entre os intelectuais e políticos famosos fichados pelo Deops, estão Caio Prado, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Lasar Segall, Pagu (Patrícia Galvão), Tarsila do Amaral, Vladimir Herzog, Carlos Heitor Cony, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. Só da USP há pelo menos 11 volumes de material montado ou confiscado.

*          No texto de abertura da exposição, escrevem Maria Luiza e o também curador, Boris Kossoy, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP): "Memória perversa que guarda sussurros, gemidos. Memória até então intocada, silenciada , guardada a sete chaves, em nome da ordem e da segurança nacional. Agora, em um outro contexto, os textos respiram o ar da liberdade. Outrora, indícios de crime político; agora, cicatrizes da História".

A exposição está dividida em seis painéis: Controle do cidadão (vigília do cidadão considerado "perigoso"), Provas da Subversão (livros, panfletos, cartas de amor, cartões postais), Memória Roubada (invasão da privacidade em busca de provas subversivas, como álbum de fotografia, agenda, postais), Sociedade Vigiada (quase todos os segmentos da sociedade foram espionados), Vozes Silenciadas (fotos de pessoas mortas, atestado de óbito e imagens históricas) e Espaços da exclusão: celas.

Seminários e lançamentos

No dia 26, às 10h30, diretores de outros arquivos irão debater a situação atual de seus documentos e discutir o acesso às informações. Jaime Antunes, do Arquivo Nacional do Rio, Maria Luiza Tucci Carneiro, do Projeto Integrado Arquivo do Estado (Proin/ USP), e Maria Cristina Costa, do Arquivo Miroel Silveira, participarão do debate Arquivos de Repressão e da Resistência: História e Memória.

O encerramento será no dia 2 de setembro, com depoimentos de pessoas fichadas pelo Deops e lançamento de livros escritos a partir das pesquisas no arquivo em São Paulo. Serão lançadas as coleções Histórias da Repressão e da Resistência e Inventário Deops, da Associação Editorial Humanitas, Imprensa Oficial, Proin/ USP e da Fapesp e Intolerância Política - 1, da Editora Lazuli.

O último debate, Memórias da Repressão, começa às 10h30, com coordenação do jornalista e professor Júlio Lerner. O jornalista Flávio Tavares é um dos que darão seu testemunho como preso político. Seu caso tornou-se conhecido nos tempos de ditadura militar, quando sua soltura foi trocada pela do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, seqüestrado por organizações políticas. Prestarão testemunho as educadoras Criméia Alice Schmidt de Almeida e Lilian Celiberti e o juiz de direito Márcio José de Moraes.

No primeiro dia do evento, intitulado Arquivos da Repressão e da Resistência, ocorreram palestras sobre a legislação de acesso a arquivos e mesa de abertura, com presença de ex-diretores do Arquivo do Estado, intelectuais e representantes dos Direitos Huma

08/28/2006


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