Evento na Fapesp discute seqüenciamento da cana
Participaram cientistas do Brasil, França e Estados Unidos
Atualizar os conhecimentos a respeito da genômica da cana-de-açúcar. Esse foi o principal objetivo do workshop realizado na semana passada, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com a participação de cientistas do Brasil, França e Estados Unidos.
“A proposta era trazer todos – tanto brasileiros como estrangeiros – para o nível do que temos hoje na genética e na genômica da cana-de-açúcar, com destaque para potenciais usos no melhoramento, na transformação e nos aspectos evolutivos”, diz a coordenadora do evento, Marie-Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Para Marie-Anne, a iniciativa, chamada Workshop do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia em Genômica de Cana-de-açúcar, representou um primeiro passo para construir a plataforma e fazer o seqüenciamento do genoma da cana-de-açúcar. “O Programa Bioen (pesquisa em bionergia) realizará essa tarefa, num primeiro momento, em pequena escala, seqüenciando mil pedaços lineares do genoma da cana que tenham regiões de interesse para o programa, nos próximos quatro anos”, informou.
“A partir das discussões apresentadas no workshop, ficou claro que o genoma é complexo, mas existem estratégias de diferentes lugares que vão nos ajudar a montar essa infra-estrutura”, afirma a pesquisadora. Ela explica que o projeto tem duas vertentes: uma vai montar a infra-estrutura de seqüenciamento e análise. A outra corresponde às descobertas científicas que o projeto deverá gerar.
“Ainda sabemos muito pouco sobre o que faz a cana ser diferente de espécies próximas, como sorgo e arroz, ainda que compartilhem muitos genes em comum. Conhecemos vários dos ingredientes, mas a combinação deles é o que faz a cana ser o que é”, explicou.
Produção sustentável – Na abertura dos debates, o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, explicou que o Programa Bioen, lançado em julho, tem por objetivo estimular e criar condições para que os cientistas do Estado de São Paulo desenvolvam projetos de pesquisas relevantes em temas relacionados à bioenergia.
Segundo Brito Cruz, o Brasil tem liderança expressiva não apenas na produção de etanol, mas também no conhecimento relativo ao melhoramento genético da cana-de-açúcar. “O Bioen foi, portanto, construído sobre bases relevantes de conhecimento”, assegurou.
O Bioen apóia pesquisa básica e aplicada sobre biocombustíveis, com o objetivo de acumular conhecimento para a produção sustentável e aplicações em áreas relacionadas à produção de bioenergia. A iniciativa conta com investimento inicial de R$ 73 milhões, envolvendo instituições acadêmicas ou em associação entre universidades e empresas.
Brasil, França e EUA no workshop
• Francis Quetier (França), responsável pelo Departamento de Ecossistemas e Desenvolvimento Sustentável da Agência Nacional de Pesquisa (ANR, na sigla em francês), falou sobre a evolução das tecnologias e estratégias para o seqüenciamento do genoma.
• Andrew Paterson (Estados Unidos), da Universidade da Geórgia, apresentou trabalho inédito com mapeamento genético do sorgo para auxiliar na identificação de regiões ricas em genes semelhantes aos da cana-de-açúcar.
• Gláucia Mendes de Souza, do Instituto de Química da USP, apresentou resultados do Projeto Sucest-FUN, também conhecido como Projeto Genoma da Cana, que estabeleceu condições para o conhecimento de variações de expressão gênica em diferentes variedades de cana-de-açúcar.
• Angelique D’Hont (França), do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre as comparações entre regiões ricas em genes de gramíneas e a estabilidade do genoma poliplóide da cana-de-açúcar.
Da Agência Fapesp
(M.C.)