Falta de domínio tecnológico impede uso de pinhão manso na fabricação de biodiesel



A falta de domínio tecnológico do Brasil na produção de biodiesel a partir do cultivo de pinhão manso foi o principal assunto da audiência pública desta terça-feira (9), na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O chefe do setor de agroenergética da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Frederico Durães, foi enfático ao afirmar que um dos grandes gargalos do programa de biodiesel no Brasil não é a falta de matéria-prima, mas justamente a questão "técnico-científica".

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- Sempre que falamos em uma espécie potencial, temos que pensar em domínio tecnológico para ela. Não existem possibilidades sem isso - disse.

Durães explicou que o Brasil, em termos de biodiesel, tem o domínio tecnológico de seis espécies, entre elas a soja e a palmeira africana, mais conhecida como dendê. No entanto, elas produzem apenas entre 500 a 1000 quilos de óleo por hectare, quantidade que, segundo disse, é insuficiente quanto à sustentabilidade.

Já o pinhão manso, destacou, apresenta potencial em torno de três a quatro toneladas por hectare, além de uma outra grande vantagem, que é a de não competir na cadeia alimentar, por ser considerado tóxico para o consumo.

- Hoje, apesar do alto potencial genético, vemos o pinhão manso como um plantio que corre risco. O que estamos fazendo agora é o fortalecimento da pesquisa, com a ajuda de universidades e tentativas de parcerias internacionais estratégicas e público-privadas - explicou Frederico Durães, ao acrescentar ainda que são necessários pelo menos sete anos de pesquisa para se chegar a um resultado confiável e, assim, apto à obtenção do registro nacional para o cultivo.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM), Mike Lu, afirmou que a comunidade científica dará o embasamento necessário "que permitirá a adoção do pinhão manso como cultivo dentro da matriz energética brasileira". Atualmente, segundo Mike Lu, mesmo sem apoio do governo, há 18 estados e cerca de 200 municípios envolvidos no cultivo do pinhão manso.

- É lamentável que estejamos tão atrasados em pesquisa no Brasil- afirmou o presidente da ABPPM.

Investimentos

Entusiasmado com o cultivo desse novo tipo de óleo combustível, o diretor-presidente da Brasil Energia S.A, Laércio Nery, acredita o pinhão manso é a capacidade de elevar em muitas vezes a renda do agricultor familiar. A médio prazo, ele acredita que o preço do óleo combustível produzido a partir do pinhão manso será o mesmo do diesel. Por isso ele tem investido no cultivo do produto.

- Acreditamos que o Brasil será um grande exportador de óleo bruto feito a partir do pinhão manso. Pretendemos plantar 70 mil hectares e estamos oferecendo R$ 800 por hectare, gerando trabalho e renda. O agricultor, no caso do pinhão manso, não vai ter problema, pois vamos correr o risco para ele, oferecendo também assistência técnica gratuita - ressaltou o empresário.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ainda depende das pesquisas da comunidade científica para apoiar projetos de cultivo do pinhão manso no Brasil, disse o coordenador-geral de combustíveis do órgão, Marco Antônio Viana Leite.

Segundo explicou, por enquanto a tendência do governo é continuarapoiando projetos já consolidados, como a soja e a mamona.

- A idéia hoje é que a gente possa avançar nesse tipo de tecnologia [para a produção do pinhão manso]. Se conseguirmos aumentar a competitividade, vamos ter sim condição para pensar em incluí-lo na matriz energética brasileira - explicou.

Valéria Castanho / Agência Senado



09/06/2009

Agência Senado


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