Fapesp: Carbono pode ter evitado Terra ser gelada como Marte
A pesquisa foi conduzida por cientistas dos Estados Unidos e da França
O dióxido de carbono, um dos grandes vilões da sociedade moderna, já teve seus dias de herói. Alguns dias após a divulgação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que destaca o papel da poluição promovida pelo homem no aquecimento global, um novo estudo vai na contramão e afirma a importância do dióxido de carbono na vida do planeta.
A pesquisa, conduzida por cientistas dos Estados Unidos e da França, consistiu na análise em laboratório de rochas sedimentares encontradas na baía de Hudson, na província de Quebec, no Canadá. Descobertas em 2001, as rochas são, ao lado de outras encontradas na Groenlândia, as mais antigas de que se tem notícia na história do planeta.
Há anos suspeita-se que altas concentrações de gases estufa podem ter evitado o congelamento da Terra em sua infância, quando se estima que o Sol fosse 25% mais fraco do que hoje, ao fazer com que o planeta retivesse mais calor do que o perdido.
“O estudo destaca que o gás responsável por manter as temperaturas na superfície acima do ponto de congelamento há cerca de 3,75 bilhões de anos pode ter sido o dióxido de carbono”, disse Nicolas Dauphas, professor de ciências geofísicas da Universidade de Chicago, em comunicado da instituição. Os resultados do trabalho estão publicados na nova edição da revista Earth and Planetary Science Letters.
Estudos anteriores destacaram que água em forma líquida existia na superfície terrestre ainda que o Sol mais fraco não fosse capaz de aquecer o planeta além das condições de congelamento. E é aí que entra a importância das concentrações de gases para manter a água líquida.
Os pesquisadores basearam as análises em rochas que se suspeitava contivessem sedimentos químicos sedimentados. “São amostras que foram cozidas e deformadas durante centenas de milhões de anos, o que torna muito difícil identificar sua natureza”, explicou Dauphas.
Após dissolverem as amostras, foi feita a separação dos óxidos e carbonatos de ferro. Em seguida, os cientistas usaram um espectrômetro de massa para medir a composição isotópica do ferro. Todos os átomos do elemento apresentaram 26 prótons em seu núcleo, mas acompanhados por um número variado de nêutrons.
“O ferro tem diversos isótopos. Sedimentos formados pela precipitação da água do mar têm uma assinatura diferente e descobrimos o registro típico de algo formado pela precipitação em um ambiente marinho”, disse Dauphas.
Estudos feitos com as rochas antigas da Groenlândia haviam indicado a existência de água do mar. Agora, a análise das rochas canadenses mostra que na fase inicial da história terrestre os oceanos também continham carbonatos de ferro.
Carbonatos de ferro se formam apenas em uma atmosfera com elevados níveis de dióxido de carbono, muito maiores do que os verificados atualmente. E é essa grande quantidade de CO2 que os cientistas sugerem que possa ter tido um papel importante para que a Terra não se tornasse um planeta com temperaturas geladas como Marte. Para Dauphas, o dióxido de carbono funcionou como uma espécie de termostato planetário.
O artigo Identification of chemical sedimentary protoliths using iron isotopes in the > 3750 Ma Nuvvuagittuq supracrustal belt, Canada, de Nicolas Dauphas e outros, pode ser lido por assinantes da Earth and Planetary Science Let
02/07/2007
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