FH recebe convite para trabalhar na ONU









FH recebe convite para trabalhar na ONU
Presidente teria sido cogitado para participar de missão sobre globalização e desenvolvimento

O bom trânsito do presidente Fernando Henrique Cardoso entre presidente e chefes de Estado pode credenciá-lo a trabalhar nas Nações Unidas quando deixar a Presidência.

Ele disse ontem, em Johannesburgo, que foi convidado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para participar de uma missão especial das Nações Unidas que trataria de temas como globalização e desenvolvimento de países pobres.

Fernando Henrique contou que Annan lhe perguntou se ele estaria disposto a trabalhar junto às Nações Unidas depois de deixar o governo. Cauteloso, ele disse que ficou honrado com o gesto de Kofi Annan, mas que pensaria antes de dar a resposta, pois precisava descansar um pouco depois de encerrar seu mandato.

Assessores de FH lembraram que participar de ações junto à ONU sempre foi uma das aspirações do presidente, que também montará um instituto em São Paulo em 2003. O local já está até escolhido para a sede da ONG: o hangar do antigo automóvel clube de São Paulo.

Fernando Henrique e Kofi Annan tiveram um encontro reservado no final da manhã. Os dois estavam participando da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10.

– Ele me perguntou se eu estaria disposto, quando terminar o mandato, a participar de algum trabalho, de alguma missão nas Nações Unidas. Ele me pediu que estivesse alerta para isso. Sinto-me muito honrado, mas, por enquanto, tomo isso simplesmente como gentileza. Kofi Annan disse que a liderança do Brasil foi importante para garantir os avanços obtidos nessa reunião – disse Fernando Henrique.

Fernando Henrique disse que Kofi Annan não detalhou a proposta. O presidente disse que não assumiria um cargo e sim um trabalho junto a grupo sobre globalização e outros temas da política internacional.

Kofi Annan contou que o ex-presidente do México Ernesto Zedillo já atua num grupo sobre esses temas e que a idéia era incorporar Fernando Henrique a esse tipo de atividade, desempenhada justamente por ex-presidentes que acabam se tornando autoridades internacionais sobre determinados temas da agenda mundial, como o português Mário Soares.

O presidente tem dito que quer voltar a dar aulas quando sair do Palácio do Planalto e que também se transformaria em “ongueiro”, seguindo os passos do amigo e ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton. Fernando Henrique já até conversou com Clinton sobre sua participação em uma ONG e sua atividade de dar palestras pelo mundo.

– Sinto-me muito honrado. Mas não quero nada institucional. Seria um trabalho do tipo intelectual. Não burocrático. Disse a ele que vou ver depois, porque preciso descansar – disse Fernando Henrique, visivelmente entusiasmado.

No futuro, Fernando Henrique deverá voltar a dar aulas na universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Ele negou, mas havia até rumores de que integraria ou presidiria uma ONG ambiental, que retomaria o modelo da Comissão Brundtland, iniciativa da norueguesa Gro Harlem Brundtland, em 1984. Na segunda-feira, em entrevista para a imprensa depois de ter discursado na Conferência Rio +10, o presidente sorriu quando foi indagado sobre esta possibilidade.

Afirmando estar cansado, Fernando Henrique também acertou que não viajará mais para o Exterior até o final das eleições. Na verdade, ele recebeu um pedido nesse sentido dos presidentes da Câmara, Aécio Neves, candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB, e do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), candidato à reeleição. Para não assumir a Presidência e se tornar inelegíveis, os dois sempre acompanham Fernando Henrique quando ele viaja ao Exterior.


Prefeito denunciado por peculato
O prefeito de Barão de Cotegipe, Luís Carlos Tomazelli (PT), e três servidores foram denunciados por peculato e falsidade ideológica.

Tomazelli, o secretário municipal de Agricultura, Raul Farina, e os funcionários da secretaria Marcos Beviláqua e Silvana Paiva são acusados de prestar informações falsas em documentos públicos a fim de aumentar o valor do índice de retorno do ICMS ao município.

O caso veio à tona quando agricultores foram notificados pela Receita Federal porque as notas fiscais tiradas não coincidiam com as declarações de Imposto de Renda. O relatório do desembargador Vladimir Giacomuzzi foi enviado à 4ª Câmara Criminal no dia 30 de agosto e dará início ao processo criminal. Farina e Beviláqua não quiseram se manifestar.

O prefeito diz que o problema ocorria desde 1995, e que em 2000 o levantamento foi refeito, mas o funcionário responsável pelas fraudes se aposentou. Silvana disse que a única relação que tem com o setor que trata de notas e do censo de produtores foi ter participado da sindicância interna que apurou as irregularidades.


Ajuda para aviação civil sai até sexta-feira
O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá assinar até o fim desta semana medida provisória de reestruturação do setor de aviação civil. A informação foi dada ontem pela presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, depois de audiência com o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e confirmada, em seguida, pela assessoria do ministro.

Segundo Graziela, a MP englobaria medidas para aliviar as dificuldades econômicas das companhias aéreas, como a diminuição do PIS e da Cofins e a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado no seguro de aviões.

A MP não contemplaria, no entanto, recursos financeiros para serem investidos diretamente nas empresas. Esses recursos estão previstos em um programa ainda em discussão no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que vem sendo conhecido pelo nome de Proar.

A idéia, de acordo com fontes do Ministério, é permitir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financie a capitalização das empresas que, em troca, teriam de cumprir programas de reestruturação.


Vox Populi divulga nova pesquisa eleitoral
Ciro e Serra estão empatados tecnicamente

A nova pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi sobre a eleição para presidente da República mostra empate técnico entre os candidatos Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB). Ciro caiu de 25% para 20%, permanecendo no segundo posto. Serra subiu 4 pontos e agora está com 19%. Como a margem de erro é de 2% para mais ou para menos, os dois estão em empate técnico.

A preferência pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva aumentou, subindo de 34% para 36%. Outro candidato que melhorou seu desempenho na pesquisa foi Anthony Garotinho (PSB). Ele continua no quarto lugar, mas passou de 8% para 9%. A sondagem foi encomendada pelo jornal Correio Braziliense. Durante os dias 1º e 2 deste mês, 2.459 pessoas foram ouvidas em 125 municípios do país.


Lula é recebido calorosamente na Capital
Antes de chegar em Porto Alegre, presidenciável passou por Passo Fundo e Caxias do Sul

Com mais de duas horas de atraso e saudado por uma chuva de papel picado prateado, o candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou às 22h15min desta terça-feira, 3 de setembro, ao Largo Glênio Peres, na Capital, para o comício do partido. Lula estava acompanhado do governador Olívio Dutra e do candidato do PT ao Palácio Piratini, Tarso Genro.

Recebido calorosamente com gritos de "ucho, ucho, ucho / o Lula é gaúcho" o presidenciável não escondeu a emoção:
– A primeira vez que vocês me fizeram isso foi em 1998. Vocês me fizeram chorar. E chorar é para quem tem sentimento. O Brasil precisa ser governado por quem tem sentimento – disse o presidenciável s obre coro de "ucho, ucho, ucho / o Lula é gaúcho" com o qual foi calorosamente recebido.

Em seu discurso, concluído às 23h45min, Lula afirmou que foi positivo o fato de não haver vencido a eleição presidencial em 1989, devido à falta de experiência do partido na época:
– Fico imaginando se não foi Deus quem quis que a gente não ganhasse.

O candidato diz ter amadurecido com as três derrotas nas disputas pela Presidência (as outras duas foram em 1994 e em 1998). Salientando que "um petista nunca desiste", Lula relembrou um antigo episódio no Rio para ilustrar como percebeu a necessidade de mudar de comportamento:
– O tempo ensina a gente. Fiz um discurso sobre a reforma agrária com tanta raiva que cheguei a babar. Na saída, uma senhora me perguntou por que eu não falava aquilo sem assustar as pessoas.

Lula prometeu reunir-se com os governadores a cada dois meses, caso seja eleito. O petista, que deverá retornar ao Estado no dia 27 para o encerramento da campanha de Tarso, também assegurou que dará prioridade ao crédito educativo:
– Um país que teve dinheiro para financiar a Ford e a GM tem que ter vergonha e financiar seus estudantes.

No final de sua fala, Lula disse que pretende "provar que um torneiro mecânico pode fazer pelo Brasil o que um sociólogo não conseguiu fazer em oito anos".

Em Passo Fundo, desde as 11h, milhares de pessoas aguardavam Lula, na Praça Marechal Floriano, no centro. Enquanto ele não chegava, em razão de pane no avião, que obrigou candidato e comitiva a voltarem a São Paulo, shows e discursos do governador Olívio Dutra e do candidato ao governo do Estado Tarso Genro (PT) seguravam o público.

Representantes de movimentos de agricultura familiar entregaram a Lula uma cesta de produtos coloniais e uma carta de reivindicações para o setor. O candidato – que detém 34% das intenções de voto no Rio Grande do Sul, de acordo com as últimas pesquisas – disse não saber se ele reforçava a campanha de Tarso Genro vindo ao Estado ou vice-versa.

O candidato à Presidência não quis comentar o debate da segunda-feira à noite anterior na TV Record. Disse que debates não devem servir para discutir pendengas mal-resolvidas.

Lula e comitiva, partidários e candidatos a deputado e senador, almoçaram às 16h numa churrascaria, antes de embarcar para Caxias do Sul, onde chegaram às 17h20min. Às 19h30min seguiram para a praça Dante Alighieri.


Porto Alegre volta a ter cesta básica mais cara
Dos 13 produtos, sete subiram de preço

Porto Alegre tem a cesta básica mais cara entre as 16 capitais onde o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) realiza mensalmente pesquisa nacional.

Os 13 produtos que compõem a cesta básica custavam em agosto na Capital R$ 139,14, com alta de 1,24% ante julho.

Apenas em Natal foi registrada queda no mês passado: -2,32%. A maior elevação ocorreu em Aracaju, com 6,96%.

Com base no maior valor da cesta e levando em conta o preceito constitucional que estabelece que o salário mínimo deveria ser suficiente para a manutenção de um trabalhador e de sua família, o Dieese estima, todos os meses, o valor do salário mínimo necessário. Em agosto, o piso deveria ter sido de R$ 1.168,92, ou seja, 5,8 vezes o mínimo nacional (R$ 200).

Na variação acumulada no ano, somente duas cidades registram variação negativa: Curitiba (0,70%) e Brasília (1,66%). As maiores altas estão em Fortaleza (15,49%), Aracaju (14,08%), Natal (13,71%), Salvador (12,55%) e Recife (11,04%).

Em Porto Alegre, o acumulado nos oito primeiros meses do ano está em 6,12%. Nos últimos 12 meses do ano, a capital gaúcha registra variação de 9,20%. A variação no período do real (a partir de julho de 1994) ficou em 108,76%.

Dos 13 produtos cujos preços são acompanhados, sete apresentaram alta. Entre os maiores reajustes estão farinha (10,53%), banana (9,50%), feijão (8,75%) e óleo (8,74%). Os produtos que tiveram seus preços rebaixados foram batata (-21,23%), tomate (-5%) e arroz (-2,86%). Leite e a manteiga mantiveram seus preços inalterados em relação ao mês anterior.


Artigos

Faz-de-conta
Cândido Norberto

Tudo bem, o senhor é um homem honrado e bem-intencionado. E agora está eleito presidente da República. Em sua vida pregressa, que já é de bom tamanho, nada existe em desabono à sua honestidade. Ao contrário, até sobram exemplos de sua inteireza de caráter. Tem mais: todo seu passado demonstra que jamais foi ambicioso, seja por dinheiro, seja por honrarias. O contrário é que é verdadeiro: abundam as provas de que sempre se revelou pessoa desapegada aos bens materiais e discreta. Outros atributos que lhes são justamente conferidos: inteligente, dono de invejáveis conhecimentos sobre economia, direito, sociologia e outras áreas culturais. Quanto ao seu temperamento, o menos que se reconhece é que o senhor é afável, conciliador, alegre, trabalhador incansável e chefe de família exemplar. Ídem um grande patriota, sempre preocupado com os superiores interesses da pátria, e muito sensível aos problemas sociais.

Enfim, o senhor é o símbolo do ser superior com o qual Deus deve ter sonhado ao criar a humanidade. Apesar de todas essas virtudes, a escolha de seu nome para presidente da República foi um consenso quase absoluto.

Seus únicos compromissos são com o povo e não com as esdrúxulas coligações partidárias que o fizeram candidato

Tudo ótimo. Agora chegou o momento em que, já devida e festivamente empossado, tem necessidade dever de formar seu governo; de escolher seus colaboradores – ministros e demais integrantes do primeiro, do segundo, terceiro e demais escalões da administração. Diante de tal responsabilidade, recolhe-se a seu gabinete, examina a relação e o número desses cargos e começa a fazer sua seleção. Dá tratos à sua memória e vai anotando os nomes das pessoas de sua confiança que preencham os requisitos que lhe parecem indispensáveis para ocupar os cargos de confiança. A tarefa está ficando um pouco árdua, não é mesmo? Não desista, porém. Não é nada fácil relacionar tantos nomes para preencher tantos cargos em tantos e tão remotos pontos do país – no norte, no sul, no leste, no oeste e no nordeste do país. Do Oiapoque ao Chuí, enfim... Continue pensando e lembrando. Cabeça e memória foram feitas para isso.

Está ficando cansado de tanto esforço? Não desanime, porém. E não capitule diante do receio de que, por informações de terceiros, venha a indicar pessoas erradas para funções tão exigentes e de tamanho interesse público. Ainda assim, não desista... Dê seguimento a seu esforço. E, se sentir exausto e mortificado pelas dúvidas, descanse um pouco. Crente em Deus como é, implore pela inspiração divina. Talvez por aí o senhor, meu caro presidente, consiga o quase milagre de selecionar os nomes certos para os lugares certos. Gente da qual se possa comprar um carro usado, pessoas que não se dediquem ao comércio de vender gatos por lebres. E trate de manter sua convicção de que, a partir de agora, tal como dizia em seus discursos, seus únicos compromissos são com o povo e não com as esdrúxulas coligações partidárias que o fizeram candidato, menos ainda com os mercadores oportunistas que financiaram sua campanha...

Boa sorte, presidente.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Anistia e indenização
Quase mil ex-presos políticos de Santa Catarina aguardam as indenizações previstas na Medida Provisória 2.151 editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com objetivo de encerrar o processo de indenizações devidas a milhares de brasileiros beneficiados com a lei de anistia. A categoria está mobilizada porque, até agora, no caso de Santa Catarina, nenhum ex-preso político foi ainda indenizado como prevê a MP. O ex-ministro José Gregori, que agora é o embaixador do Brasil em Portugal, deu atenção especial ao importante tema, limitando-se porém a honrar as indenizações de anistiados com renome nacional. Recentemente o presidente do PT, deputado José Dirceu, recebeu a indenização prevista em lei. Antes dele, outro deputado e ex-ministro Aloísio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também fez jus à indenização.

A mobilização dos ex-presos políticos catarinenses ganhou força com a criação da Associação Catarinense de Anistiados Políticos Acap, presidida por Carlos Fernando Priess. A diretoria da entidade já enviou à bancada catarinense no Congresso e à mídia nacional um apelo para que as indenizações sejam pagas e o processo de anistia concluído. Também estão enviando às assessorias dos candidatos à sucessão presidencial apelo para que essa questão seja incluída na pauta das prioridades de governo, para quem sair eleito das urnas, em outubro. No Ministério da Justiça, a comissão provisória encarregada de examinar os processos informa que até agora dos 9,9 mil processos em exame apenas 52 anistiados receberam indenização com pagamento único. Existem ainda mais de 3 mil processos que continuam no protocolo. A comissão, através de três câmaras, examina os casos de anistia na administração pública direta, indireta e militar.

As desconfianças dos anistiados políticos catarinenses e de outros Estados, de que está sendo dada prioridade às figuras proeminentes, em detrimento ao direito de outros até mais necessitados, é contestada pelo Ministério da Justiça que alega estar examinando os processos pela ordem do protocolo. Com as limitações orçamentárias, os anistiados com direito a indenização já sabem que terão que se manter mobilizados por muito mais tempo.


JOSÉ BARRIONUEVO

Lula consolida favoritismo
Enquanto Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) se engalfinham numa disputa insana, trocam acusações, se descredenciam para o cargo que ambicionam, Lula consolida seu favoritismo caminhando célere, sem obstáculos, rumo à Presidência da República. Em meio ao bate-boca, aflora um homem sensível, terno, convincente. Um homem generoso, que conseguiu sublimar o sofrimento, as marcas da pobreza. A propaganda na TV está conseguindo repassar a imagem de grandeza, de equilíbrio, de experiência de vida, de confiança, com um toque meigo, de alguém que se emociona com a homenagem que recebe dos artistas, como ocorreu no programa de ontem. Cenas com Chico Buarque, Marieta Severo, depoimentos de Evandro Lins e Silva, de Celso Furtado, de Antônio Cândido tocam o mais empedernido direitista.

Imagem apaga temor
Com a assessoria de Duda Mendonça, Lula constrói em cima de sua trajetória de vida uma imagem carismática que dificilmente os dois candidatos que se engalfinham na disputa por uma vaga no segundo turno conseguirão derrubar.

É provável que as próximas pesquisas mostrem um aumento de aprovação popular. Restando 31 dias de propaganda, o candidato do PT superou a resistência que impediu a sua eleição em três pleitos consecutivos.

A imagem criada por Duda não transmite mais o temor de que eventual opção pela esquerda seja uma aventura que leve o país ao caos. Lula superou seu maior obstáculo.

Rejeição no RS não compromete
O roteiro cumprido por Lula em Passo Fundo, Caxias e Porto Alegre ontem reforçou o favoritismo do candidato, embora perdure no Estado um clima de cautela em decorrência dos movimentos totalitários que marcam a passagem do PT pelo governo. É possível identificar no RS hoje uma forte rejeição ao PT e uma tendência ao rodízio no Palácio Piratini. Hoje.

Há uma certa lógica neste sentimento apontado nas pesquisas. O mesmo eleitor deu o governo a Olívio e maioria na Assembléia à oposição. Não será surpresa se a Frente Popular eleger uma representação parlamentar superior à votação de Tarso, como ocorreu com Britto em 1998. Não se pode desconhecer que o bom desempenho de Lula acaba ajudando Tarso, que parou de cair.

Secretário Luiz Marques contesta críticas de filósofo
Escalado pelo PT nacional para responder a artigo de Denis Rosenfield na Folha de S. Paulo, o secretário de Cultura, Luiz Marques, da DS, analisa as críticas do filósofo aos movimentos totalitários do PT gaúcho. A íntegra do texto: “Denis Rosenfield tornou-se o filósofo de uma nota só e, o que é pior, desafinada. No vale-tudo para desqualificar o PT e a candidatura de Tarso, chega a negar o princípio da responsabilidade intelectual ao intervir na esfera pública, manipulando conceitos fora do seu contexto. A única associação do PT com a experiência política européia nos anos 30 remete a uma identidade com a social-democracia clássica. Na história das mentalidades, o paralelo possível com o totalitarismo envolveria antes o slogan Rio Grande em Primeiro Lugar, que reivindica uma identidade dos indivíduos com o Estado acima dos laços de família e amizade, grupos e classes sociais. A noção ultranacionalista de comunidade, defendida por Hitler na Alemanha e Stalin na URSS, apontava o mesmo sentimento fascista. Não creio, porém, que o Estado Democrático se enriqueça com a substituição do cotejamento de projetos para a sociedade atual pela troca de idiossincrasias teóricas extemporâneas”.

Simon ajuda Tarso
Pedro Simon, que andou cortejando o PT quando o PMDB optou por Rita Camata para vice de Serra, continua sendo uma arma muito forte utilizada nos programas de Tarso Genro. Firmado na credibilidade do senador, declaração forte de Simon contra Britto é a peça mais utilizada pelo partido de Olívio no rádio e na televisão.

O senador não demonstrou preocupação com o uso de sua imagem, deixando solto o boato que circula pelo Estado de que apoiará Tarso no primeiro turno se Rigotto não romper a polarização. Na prática, está sendo mais valioso para a campanha de Tarso e de Olívio do que para Rigotto.
A propósito: a sentença do juiz, ontem, em relação à propaganda do PT que refere o Opportunity cassou também a participação de Simon.

Contribuição ao serviço público
Documento que começou a ser entregue ontem aos candidatos é a mais importante contribuição àquele que governará o Estado a partir de 1º de janeiro. A iniciativa partiu de uma entidade de classe das mais importantes no serviço público, o Sindicato dos Auditores de Finanças Públicas (Sindaf), que apresenta uma visão estratégica da política fiscal do Rio Grande do Sul sem o tempero partidário que marca os planos de governo, normalmente peças destinadas a não serem cumpridas.

O documento reúne o conhecimento de profissionais experientes na área financeira, conscientes de sua responsabilidade histórica num momento de uma crise sem precedentes, dispostos a dar o suporte técnico ao governador que for ungido pelas urnas, seja ele de que partido for.

Um caminho para retomar o desenvolvimento
Com o documento, chega à terceira etapa o projeto Repensando o RS, iniciado há um ano pelo Sindaf, que instituiu um fórum suprapartidário destinado a discutir com os mais diversos segmentos políticos e sociais a crise das finanças estaduais e as alternativas para o desenvolvimento do Estado.

Uma postura profissional exemplar, que credencia o tão sofrido e desprezado servidor público do Estado, que é permanente e até por isso conhece melhor as soluções para os problemas do RS do que aqueles que por um período assumem a chefia do governo. O documento “Visão Estratégica da Política Fiscal do Estado” ao mesmo tempo mostra que o Rio Grande é maior do que seus problemas.

A governabilidade em meio à crise dependerá da capacidade de o novo governador encarar de forma objetiva o que está neste documento, o mais consistente apresentado sobre a realidade do Estado, abordando qu estões que vão da Previdência do servidor público, maior desafio do próximo governador, até o novo papel que deve ter a Secretaria da Fazenda no limiar de um novo século.
O documento contém propostas objetivas para reequilibrar as finanças públicas como precondição para a retomada do desenvolvimento.

Tiro no pé
O programa de José Serra utilizou ontem imagens do candidato no debate da TV Record, apresentando uma edição que não traduziu a realidade. Chegou ao primor de recolher opiniões nas ruas, mostrando que o tucano foi o melhor de todos. Diferentemente do confronto na Bandeirantes, Serra foi o que mais perdeu no debate coordenado por Boris Casoy. Ciro partiu para o confronto direto diante da tendência de queda de seu nome, que aparece nas pesquisas cedendo a segunda posição para o tucano.

Atração – Anthony Garotinho fez sucesso no debate na Record. Foi firme, atirou para todos os lados, desconcertou especialmente o candidato do governo.
Deu um show.

Autoridade – Boris Casoy soube dar ritmo ao debate, sem burocracia, conduzindo com pulso firme e abrindo espaço para que o confronto entre Ciro e Serra prosperasse. Não precisou ser autoritário, como aquela entrevistadora, que tentou ser mais importante, mais sedutora, mais independente, mais imparcial, mais estrela do que os candidatos. Boris deixou o debate fluir, dividindo com o espectador até as dificuldades que sentia em colocar ordem na casa. Repassou credibilidade.

Novo desembargador
O colunista antecipou a escolha. O governador se fixou no nome do advogado Rogério Gesta Leal na lista tríplice de preenchimento da vaga de desembargador dentro do quinto constitucional da OAB. O mais votado no tribunal, Rogério Leal é natural de Rio Pardo, tem 39 anos, é professor com mestrado e doutorado, reconhecido como um humanista de esquerda. Tem uma dezena de livros editados. Diretor de pós-graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul, foi professor de mestrado em Buenos Aires.

Batendo em retirada
Com o debate promovido ontem no programa Polêmica, o Capitão Gay conseguiu o que queria. Se for eleito, soma-se a Leila Fetter, também do PPB, Bernardo de Souza (PPS) e Miriam Marrone (PT), todos de Pelotas. O município poderá ter quatro deputados estaduais.

Se continuar valorizando a galhofa, o MTG vai acabar elegendo alguém que não tinha a menor perspectiva de vitória.

A propósito, o candidato decidiu reavaliar a idéia de participar do desfile.
Não agüentou a cavalgada.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ataque como arma
No debate da Record, o mais quente dos três realizados até agora, Luiz Inácio Lula da Silva se fez de zangado quando os adversários José Serra e Ciro Gomes protagonizaram um bate-boca nos espaços obtidos a título de “direito de resposta”. Ele e Anthony Garotinho reclamaram que Serra e Ciro estavam sendo beneficiados por permanecerem mais tempo no ar. Na verdade, o beneficiado era ele, Lula, porque enquanto os dois disputavam uma espécie de campeonato para provar que o adversário era mais destemperado, sua imagem estava sendo preservada.

A pesquisa do Ibope divulgada ontem à noite sugere que a tática dos ataques virulentos pode estar à beira do esgotamento. Os quatro pontos que Ciro perdeu em relação à pesquisa anterior não foram para o seu algoz. Engrossaram o percentual de indecisos, o que, no mínimo, deve ser motivo de reflexão para os candidatos.

Como Ciro caiu a partir dos ataques de Serra, e hoje os dois estão tecnicamente empatados em todas as pesquisas, reforça-se a impressão de que esse é o único caminho. As curvas do Ibope e do Vox Populi mostram, porém, que se para Serra e Ciro o ataque é uma estratégia de sobrevivência para chegar ao segundo turno, para Lula a briga dos dois é o melhor dos mundos. No mínimo, porque vai para o segundo turno com a certeza de que Serra e Ciro queimaram as pontes para estar no mesmo palanque depois de 6 de outubro. Podem até ficar neutros, mas seus eleitores estarão divididos.

Na eleição para o governo do Estado essa mesma tática do ataque sem tréguas é adotada por Antônio Britto e Tarso Genro, que usam inclusive o espaço destinado aos deputados para se agredir. Ainda que sejam de locutores profissionais ou de deputados as vozes que acusam o adversário de mentir, o eleitor não tem como dissociar os ataques da figura do candidato.
O crescimento de Germano Rigotto, que faz uma campanha mais serena, não inibiu o espírito de guerra santa das campanhas de Britto e Tarso, que se acusam mutuamente de mentir. Sem medo de ficar fora do segundo turno, os dois preferem atingir a imagem do adversário, numa peleja que tende a se acirrar até 6 de outubro, apesar de os dois terem experimentado aumento da rejeição depois do início da propaganda eleitoral no rádio e na TV.


Editorial

A CAMPANHA E O DESEMPREGO

Presença mais constante, ao lado da violência, em todas as pesquisas de opinião pública acerca dos principais desafios deste país, o desemprego converteu-se igualmente em um dos temas predominantes da campanha ao Palácio do Planalto. A polêmica assumiu tal vulto que acabou envolvendo o próprio presidente da República, que reagiu, em Johannesburgo, onde participava da Rio + 10, às acusações de que seu governo seria responsável pelos elevados níveis de desocupação que se registram no país, chegando a orientar a Advocacia-Geral da União a solicitar direito de resposta no programa de Ciro Gomes, do PPS. Este último, como Anthony Garotinho, do PSB, vem criticando acerbamente também José Serra e Lula, por haver o primeiro prometido criar 8 milhões de postos de trabalho e o segundo apontado como meta a geração de 10 milhões de vagas.

Desde logo parece claro que não se pode atribuir a uma administração a inteira responsabilidade por um problema que não é próprio somente do Brasil, mas que preocupa tanto nações em desenvolvimento como integrantes do seleto clube do Primeiro Mundo. É certo contudo que especialmente os fatos que culminaram na séria crise cambial de 1999 contribuíram para ampliar as dimensões do desemprego entre nós. Tema dessa gravidade não deveria, por outro lado, se prestar a promessas que joguem com números milionários e aleatórios, posto que, em uma conjuntura extremamente adversa como a de nossos dias, em tal campo os presidenciáveis encontrarão gigantescas dificuldades para transitar da retórica de boas intenções à ação concreta.

Esse repto, ou será encarado com realismo e racionalidade, ou não será superado

Nem por isso o governo Fernando Henrique Cardoso e aquele que o sucederá estão eximidos de conferir a mais alta prioridade a políticas destinadas à absorção de mão-de-obra, com ênfase para a não-qualificada. Ninguém desconhece que o redirecionamento de linhas de crédito do BNDES para as pequenas e médias empresas e a redução da carga fiscal sobre o setor produtivo, como prega um dos postulantes à primeira magistratura, contribuirão para que seja alcançado aquele propósito. Da mesma sorte, como preconiza outro, o apoio à agricultura, à construção civil, ao turismo e às exportações concorrerá igualmente para que se atinja tal objetivo. Não podem ceder, no entanto, os que estão na disputa, à tentação de disseminar falsas esperanças.

O próprio nível dos debates que vêm sendo transmitidos por redes nacionais de televisão em muito ganharia se os concorrentes deixassem de lado os agravos e as retaliações e se concentrassem na proposição de alternativas para a superação da crise em que imergiu a nação. Diante do déficit de credibilidade que o Brasil enfrenta, da retração dos investimentos, do peso da dívida interna e externa e da baixa expansão da economia, será tarefa árdua recolocar o país no rumo do crescimento, passo indispensável para que consiga arrostar eficazmente o desemprego. Mas es se repto, ou será encarado com realismo e racionalidade, ou não será superado.


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09/04/2002


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