"Filme Repare Bem" será exibido no Festival de Cinema de Havana
O documentário Repare Bem, apoiado pela Comissão de Anistia, será exibido no 35º Festival Internacional de Nuevo Cine Latinoamericano, em Havana neste domingo (8).
O projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (MJ), ajudou a contar em filme a história de Denise Crispim e de sua filha, Eduarda Crispim Leite, que foram declaradas anistiadas políticas em 2009. Elas foram perseguidas e sofreram com os regimes ditatoriais no Brasil e no Chile, nos anos 1970.
O roteiro foi escolhido para integrar o Marcas da Memória em 2011. De acordo com o secretário Nacional de Justiça do MJ e presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, o projeto reúne depoimentos, sistematiza informações e fomenta iniciativas culturais que permitem à sociedade conhecer o passado e dele extrair lições para o futuro.
"O projeto seleciona anualmente propostas de preservação, divulgação e formação da memória da anistia política e do processo de Justiça de Transição no Brasil. O Repare Bem foi uma proposta selecionada em 2010 e realizada ao longo de 2011", explico Abrão.
Ao todo, já são 13 projetos de filmes produzidos ou em produção desde 2011, com apoio do Marcas da Memória. Podem participar das seleções quaisquer Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e entidades privadas sem fins lucrativos. Os interessados devem se cadastrar no Portal dos Convênios (Siconv) e encaminhar propostas para a realização de projetos ligados a perseguições políticas ocorridas no Brasil no período da ditadura militar (1946 a 1988).
"A iniciativa visa preservar a memória do período ditatorial, levar ao conhecimento público o que aconteceu naquele momento de exceção, para se criar um legado positivo com relação ao aprendizado desse período", acrescenta o presidente da Comissão de Anistia.
Os projetos são analisados por um comitê de seleção composto por integrantes do Ministério da Justiça, da Comissão de Anistia e representante da sociedade civil, sem vínculo de qualquer natureza com quaisquer das entidades proponentes.
Repare Bem
Em seu documentário, Maria de Medeiros tratou de postar as câmaras diante de Denise Crispim e de sua filha, Eduarda Ditta Crispim Leite, e de receber com enorme emoção os seus extraordinários testemunhos. Em Roma, na Itália, e em Joure, no norte da Holanda, as palavras, que falam de exílio e de memória, levam-nos a um mergulho profundo na história do Brasil dos anos 70 até à atualidade.
Denise Crispim já nasce clandestina em 1949. Seus pais, extremamente politizados, toda a vida lutaram por uma sociedade mais justa e são por isso perseguidos por sucessivas ditaduras.
Aos 20 anos, Denise conhece o jovem guerrilheiro Eduardo Leite, famoso por sua valentia e audácia, “Bacuri”, e com ele entra numa militância mais arriscada. Denise está grávida de seis meses quando cai nas mãos do aparelho repressivo. Seu irmão Joelson acaba de ser assassinado aos 22 anos pela polícia. Sua mãe, Encarnación, está presa.
Pouco antes do nascimento da pequena Eduarda num hospital militar, rodeada de polícias, Eduardo Leite, seu pai, é também preso, torturado barbaramente durante 109 dias, e assassinado.
Com a sua bebê recém nascida nos braços, Denise consegue asilo político na embaixada chilena. De lá viaja para Santiago, onde reencontra seus pais, ambos exilados nesse momento. A família é de novo apanhada por um golpe de Estado militar, o de Augusto Pinochet. Cada um se refugia como pode em diversas embaixadas, e Denise e Eduarda acabam por fugir para a Itália.
Denise, sobrepondo-se a muito sofrimento, reconstrói sua vida em Roma, onde Eduarda cresce como uma jovem italiana.
Hoje, ambas foram anistiadas pela Comissão de Anistia e Reparação no Brasil. Eduarda, mãe de duas meninas e residente na Holanda, recebe o valor simbólico desta “reparação” como o dom de uma nova vida.
O relato de suas vidas convida-nos a uma reflexão sobre os movimentos ideológicos e a luta pela justiça entre a “Velha Europa” e as Américas.
Fonte:
06/12/2013 14:40
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