Garotinho reza para vencer








Garotinho reza para vencer
A campanha de Anthony Garotinho cada vez se restringe mais ao universo evangélico. Em Brasília, em congresso da igreja Sara Nossa Terra, ele disse que sua candidatura foi ‘‘aviso de Deus’’

Na manhã do dia 1º de fevereiro deste ano, o então governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, do PSB, concedeu uma entrevista ao Correio, na qual fez a seguinte declaração: ‘‘Eu não faço aliança com igrejas. O PSB não é uma igreja, é uma agremiação política’’. O tema política versus religião o persegue. Ele é evangélico, ex-católico convertido ao presbitério. E, embora rechace qualquer ilação, costuma, na vida pública, andar com um pé no palanque e outro no templo.

Passaram-se mais de cinco meses desde a primeira entrevista. De lá para cá, Garotinho renunciou ao governo do Rio e tornou-se candidato à Presidência da República. Na noite do último sábado, ele foi ao ginásio Nilson Nelson, onde acontecia o 10º Congresso Anual da seita evangélica Sara Nossa Terra. Depois de ser apresentado pelo bispo Robson Rodovalho, líder espiritual, como ‘‘o meu presidente’’, ele conclamou os aproximadamente três mil fiéis a abraçarem sua candidatura. ‘‘Feliz a nação cujo Deus é o senhor’’, gritou, ao que ouviu como resposta: ‘‘Aleluia! Aleluia!’’.

Na saída do evento, Garotinho voltou a falar ao Correio sobre a mistura entre política e religião. ‘‘Não vejo contradição alguma’’, afirmou. ‘‘Os evangélicos têm o mesmo direito à cidadania que os sindicalistas, por exemplo’’, comparou. Estava se referindo à visita do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva ao ABC paulista, na semana passada.

Lula, ex-metalúrgico, pode procurar os antigos colegas da linha de montagem, argumenta o socialista, do mesmo jeito que Garotinho (ele usa a terceira pessoa do singular para falar de si mesmo) também pode recorrer aos irmãos de fé durante a campanha eleitoral.
Mesmo que a retórica do ex-governador fluminense faça sentido, sua imagem ante o eleitorado não é nada boa. Prova disso é a pesquisa exclusiva feita pelo instituto Vox Populi para o Correio Braziliense, cujo resultado está sendo publicado numa série de reportagens iniciada ontem e que se prolongará até a próxima quinta-feira (leia textos na página 7).

Na pesquisa, um pouco menos de três mil entrevistados de todo o Brasil responderam perguntas sobre as principais características dos presidenciáveis. A amostra, que reproduz a média do eleitorado nacional, reprovou Garotinho em três quesitos essenciais para um político: honestidade, sinceridade e confiabilidade.

Política sarada
No Ginásio Nilson Nelson, nada se viu quanto a essa reprovação. ‘‘Quantos aqui querem que Jesus reine sobre esse país?’’, perguntava aos seus fiéis, antes de convidar Garotinho ao palco do Nilson Nelson. ‘‘A política também precisa ser sarada. Diga amém se você crê nisso!’’, ordenava. E era obedecido por uma platéia de ternos e vestidos chiques — os evangélicos da Sara Nossa Terra costumam ser de classes mais abastadas.

Uma vez no palco, Anthony Garotinho provou que sabe se comunicar com o público evangélico. Acompanhado da filha Clarissa, de 21 anos, discursou por vinte minutos. ‘‘Quero dizer por que sou candidato.’’ E contou que um dia, cansado, ao chegar do trabalho no governo do Rio, orou a Deus pedindo uma orientação clara do caminho
a seguir.

Segundo ele, a resposta demorou. Veio semanas depois, quando ele, mais uma vez chegando cansado do trabalho, abriu a Bíblia aleatoriamente e se deparou com a parábola do espinheiro — o espinheiro aceitou reinar sobre as árvores, depois que a oliveira e a videira se negaram a fazê-lo. ‘‘O espinheiro não dá sombra. Então entendi. O que vivemos agora, senão o reino do espinheiro?’’, concluiu.

Garotinho disse que, recebida a orientação, perguntou a Deus como poderia ele aceitar tamanha missão se pertence a uma partido pequeno, com pouco tempo de TV e sem dinheiro para a campanha. Como resposta, obteve outra pergunta do Senhor: ‘‘Qual o tamanho do Deus que você quer?’’ Foi aplaudido e terminou a noite de joelhos, cercado pelo conselho de bispos da Sara Nossa Terra. Em tempo: conseguiu a promessa de que no próximo domingo todos os 400 templos da seita guardarão cinco minutos dos cultos para orar pela candidatura do PSB.


Um sucesso de audiência
A corrida pela vaga do presidente Fernando Henrique Cardoso começou cedo demais, ali pelo final do ano passado, quando despontou o nome de Roseana Sarney. E poderá terminar cedo demais, pelo menos para o candidato José Serra.

Tem um monte de pesquisas de intenção de voto já registradas no Tribunal Superior Eleitoral. Isso significa que a opinião pública será bombardeada nas próximas semanas com prognósticos de todos os institutos.

Se eles registrarem que Ciro Gomes continua ampliando sua vantagem em relação a Serra, adeus às chances do candidato do governo se recuperar mais tarde. Salvo um imprevisto de grande magnitude, restarão na corrida Ciro e Lula.

Ou a ascensão de Ciro emperra já, ou Serra se recupera já. Caso contrário, a eleição presidencial estará de fato polarizada entre Ciro e Lula. Terá ido para o brejo o sonho compartilhado até aqui por Serra e Lula de passarem juntos para o segundo turno.

No momento, Ciro é o inimigo número um dos dois candidatos que desejavam duelar pela vaga de Fernando Henrique. Apesar disso, o comportamento dos dois diante de Ciro será diferente.

Serra terá de se empenhar para deter Ciro ou puxá-lo para baixo. Concentrará nele suas críticas e munição eventualmente estocada. Lula dará algumas estocadas em Ciro, mas evitará atingi-lo com força.

Porque Lula calcula que Serra ainda não está morto. E para enfrentá-lo no segundo turno, ainda poderá vir a precisar da ajuda de Ciro. De fato, fora do segundo turno, Ciro subirá no palanque de Lula.

É prudente aguardar as próximas pesquisas para se poder apostar
todas as fichas na dobradinha Ciro-Lula no segundo turno. Mas o clima que se espalha no país parece ser amplamente favorável a Ciro e contrário a Serra.

Não me arrisco a dizer ainda que estamos diante da irrupção da mesma espécie de febre que em 1989, e mais ou menos por essa altura do ano, deu origem ao fenômeno Fernando Collor de Mello. Não se descarte isso, contudo.

Há sintomas de febre. Na semana passada, em Brasília, por exemplo, a cantora Rita Lee perguntou ao público que lotou seu show quem venceria a eleição presidencial. Um coro retumbante e quase unânime respondeu ‘‘Ciro, Ciro, Ciro!’’.

Sem demérito para o candidato, Rita Lee poderia ter ouvido a multidão gritar ‘‘Patrícia, Patrícia, Patrícia!’’. Porque Patrícia Pilar está fazendo uma diferença enorme a favor de Ciro. O assédio a ela é até maior do que ao marido.

Aos olhos das pessoas mais simples, e elas são a maioria dos eleitores, desenrola-se um enredo digno de novela. E de novela do SBT, não da TV Globo. Patrícia é a mocinha que todos amam e que luta contra uma grave doença, cujo efeito mais visível está ali exposto e não dá para escondê-lo: a perda de cabelos por conta do tratamento a que se submete. Como não se comover diante de sua figura? E ainda mais de uma figura linda e simpática?

Ciro é o amante que a certa altura interrompeu sua campanha para ficar ao lado da mulher que tanto ama. Sempre a trata com carinho. E ela retribui acompanhando-o quando deveria poupar suas energias.
Conseguirá Patrícia vencer a doença? Todos desejam que sim. Torcem, rezam por ela e fazem promessas. Aquele bom homem que põe o amor pela mulher acima dos seus interesses mais imediatos conseguirá, mesmo assim, se ele ger presidente? Por que não? Quem é capaz de amar, respeitar uma mulher e, no caso de Ciro, ainda manter relações harmoniosas com a ex-mulher e com os filhos do casamento anterior, é um bom homem. Merece alcançar o que deseja.

De resto, o que ele pretende se virar presidente? Ele combate o governo que aí está — e quase 70% dos eleitores querem um governo diferente do que temos. Ele diz que fará um governo mais preocupado com as pessoas — e é tudo que elas querem.

Ele nem precisa dizer, mas as pessoas acreditam que sua eleição não significará uma mudança abrupta capaz de fazer do Brasil a Argentina de amanhã. Porque é experiente. E terá, mais do que Lula, apoio no Congresso.

Esse é, em resumo, o sentimento de quem hoje se diz eleitor de Ciro e de quem amanhã poderá optar por ele. Esperemos os próximos capítulos da novela. Eles dependerão menos dos atores em cena — Ciro, Lula e Serra — e mais dos que estão de olhos pregados na telinha.

Novela costuma reservar surpresas para manter a audiência cativa. Mas no fim, ela sempre acaba como o público quer que acabe.


Em busca de emprego
Para o eleitor Ciro Gomes é o mais capacitado para enfrentar os problemas econômicos do país. O brasileiro está preocupado com o desemprego, e até admite a volta da inflação para resolvê-lo

Na semana passada, o comando da campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, resolveu que era hora de parar de falar de economia. A turma que trabalha para o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, deu pulos de alegria. Ambos estavam certos. Se alguém lucrava com esse rumo dado à campanha presidencial, era o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes. ‘‘Ciro tem usado termos técnicos e transmite segurança na hora de falar. Serra também é economista, como Ciro. Mas boa parte da população pensa que ele é médico, por ter sido ministro da Saúde’’, analisa o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. A pesquisa encomendada pelo Correio ao Vox Populi para entender as razões e motivações do votos dos eleitores mostra por que Ciro Gomes começou a subir no momento em que Serra resolveu acusar Lula de provocar oscilações no mercado financeiro e trazer para o país o risco de um caos econômico semelhante ao da Argentina.

Um primeiro dado importante demonstrado pela pesquisa é que havia uma distorção de foco no tema eleito pelos estrategistas da campanha de José Serra. A estabilidade econômica garantiu ao atual governo duas vitórias eleitorais. Não garante uma terceira. O Vox Populi preparou uma lista com 13 problemas que o país enfrenta. E pediu aos entrevistados que escolhessem dali os três mais graves. A saúde pública foi apontada como a principal questão a ser resolvida. Em segundo lugar, ficou o desemprego. A inflação aparece apenas em nono lugar na lista. Além disso, se fosse necessário optar entre uma coisa ou outra, a maior parte dos entrevistados admitiria a volta da inflação se fosse esse o único caminho para diminuir o desemprego.

A pesquisa relacionou em uma pergunta os temas inflação e desemprego. Perguntou-se aos entrevistados, o que eles preferiam. A manutenção das baixas taxas atuais de inflação com os mesmos índices de desemprego de hoje recebeu a preferência de apenas 10%. A melhoria dos níveis de oferta de emprego com a mesma inflação foi a opção de 35%. O maior percentual de respostas foi mais realista: 37% responderam que a inflação podia aumentar para diminuir o desemprego (leia quadro ao lado).

Assim como se viu na reportagem publicada ontem pelo Correio quanto às qualidades necessárias para presidir o país, novamente é Ciro Gomes o candidato que o eleitor enxerga como mais capacitado para lidar com os temas relacionados à economia. Apenas em um dos problemas listados que têm relação com a política econômica, Lula apareceu na frente de Ciro. Serra sempre está atrás do candidato do PPS. E vence Lula na confiança quanto à manutenção da inflação baixa, na possibilidade de trazer para o país novas indústrias e na preocupação quanto à situação do empresariado


Candidato do PPS não aceita o PFL no palanque
Carlos Alberto Torres, do PPS, faz carreata e diz que o apoio do PFL só será bem-vindo se o partido romper com o governador Roriz. Rodrigo Rollemberg dedica a tarde a encontros com a terceira idade

A disposição demonstrada pelo PFL de se aproximar do PPS em escala nacional para fortalecer a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República encontrou um obstáculo no Distrito Federal. Durante a concentração para uma carreata, no estacionamento do estádio Serejão, em Taguatinga Norte, o candidato do PPS ao governo do DF, Carlos Alberto Torres, condenou o namoro dos pefelistas com seu partido. ‘‘Não há legitimidade ideológica nisso. É puro jogo de interesses’’, disparou.

Para Carlos Alberto, a possível aliança entre as duas legendas é uma tentativa de seqüestro da candidatura de Ciro Gomes. ‘‘Historicamente, o PFL sempre adorou o poder. Essa aproximação indica que o partido percebeu que Ciro tem chances reais de ser o novo presidente do Brasil. É apenas um apoio isolado’’, disse ele, antes da carreata, que saiu às 11h, com duas horas de atraso. Mais de 50 veículos percorreram as principais ruas de Ceilândia.

Na quinta-feira, a executiva regional do PFL discutirá se o partido mantém apoio à candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência ou se adere à campanha de Ciro. A reunião foi marcada pelo deputado federal Paulo Octávio, presidente do PFL-DF, atendendo a pedido do presidente nacional do partido, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), que defende apoio a Ciro. Segundo Paulo Octávio, o argumento usado por Bornhausen para que o PFL troque Serra por Ciro foi o indício de que o candidato do PPS terá muitos votos no DF.

Carlos Alberto reconhece que a união dos dois partidos seria benéfica para ambos, sobretudo do ponto de vista do resultado eleitoral. ‘‘Mas o apoio só será bem-vindo se o PFL romper com o governador Joaquim Roriz. Isso vale para qualquer partido que apóia esse governo.’’

O candidato do PPS considera que o bom desempenho de Ciro nas últimas pesquisas, saltando do quarto para o segundo lugar nas intenções de voto, servirá para impulsionar sua candidatura ao Buriti. ‘‘Arrisco uma correlação entre a ascensão dele e um breve crescimento da nossa candidatura. Estamos otimistas, mas cautelosos.’’

Aliança
Paulo Octávio não se intimidou com as críticas à possível aliança entre os dois partidos. Ele disse ter recebido ligações de membros do PPS local interessados na união e destacou que o assunto ainda está em discussão. ‘‘Há divergências internas no PFL e no PPS. Não decidiremos nada na próxima quinta. É preciso tempo para avaliar essa questão.’’

Carlos Alberto descartou a hipótese de dividir a campanha com o pefelista. ‘‘Ele não subirá no meu palanque. Só tem lugar para mim e para os candidatos da coligação PDT-PPS’’. À tarde, ele se reuniu com correligionários, em Samambaia. À noite, inaugurou comitê de campanha no Setor O de Ceilândia.

O candidatos do PT ao GDF, Geraldo Magela, e ao Senado, Cristovam Buarque, fizeram campanha no Parque da Cidade, na manhã de ontem. À tarde, Magela desmarcou a visita ao lançamento da candidatura de Antônio Leitão (PL) a distrital, na feira de Ceilândia Centro. Também desmarcou uma visita a líderes comunitários da cidade. Magela acabou indo ao encontro de um grupo de mulheres no Núcleo Rural Lago Oeste, no fim da tarde.


Reunião com evangélicos
O candidato do PPB ao governo do Distrito Federal, Benedito Domingos, promete esquentar a campanha política no próximo dia 18 de agosto, quando começa a propaganda eleitoral gratuita na televisão. Benedito, e m encontro com lideranças evangélicas, na Igreja Missão da Fé, em Ceilândia, afirmou que recebeu ofertas em dinheiro para desistir da disputa pelo Buriti.

‘‘Eles tentaram me cooptar com ofertas milionárias’’, declarou o vice-governador. Ao ser questionado sobre quem teria lhe oferecido dinheiro, o vice-governador desconversou: ‘‘Vocês sabem’’. Ele não disse qual teria sido o valor da oferta. Benedito promete esclarecer toda a história pela televisão: ‘‘Aguarde. Contarei tudo no meu programa.’’

O governador Joaquim Roriz (PMDB) também participou de encontros com evangélicos. Em Taguatinga Norte, subiu no palanque com os candidatos ao Senado, Jofran Frejat (PPB) e Paulo Octávio (PFL), além dos peemedebistas Ivelise Longhi e José Edmar, e do petebista Edimar Pireneus, que concorrem a uma vaga na Câmara Legislativa.

Paulo Octávio reafirmou seu apoio a Roriz. No sábado, ele havia discursado ao lado de Benedito Domingos. ‘‘Sou 100% Roriz. Meu encontro com Benedito foi casual. Somos evangélicos. Estávamos no mesmo lugar porque fomos convidados pelo mesmo pastor, mas meu palanque é com Roriz.’’

Já o candidato do PSB, Rodrigo Rollemberg, optou por uma agenda dedicada à terceira idade. Ontem à tarde, ele esteve no Guará e em Ceilândia participando de encontros com a turma acima de 60 anos. Recebeu beijos, abraços e dançou com as idosas. O deputado distrital prometeu políticas públicas específicas para a parcela da população na terceira idade, como a criação de centros de convivência em todas as cidades do DF.


Agenda dos candidatos para presidente

Para presidente Ciro Gomes
Frente Trabalhista
Encontra-se, no Rio de Janeiro, com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Garotinho
PTB
Passa o dia em São Paulo. Grava entrevista para o Globonews e conversa ao vivo com Boris Casoy no Jornal da Record.

José Serra
PSDB
Passa o dia em São Paulo e também se encontra com o representante da União Européia, Pascal Lamy. À noite, grava entrevista para a Rede TV.

Lula
PT/PL
Toma café da manhã em São Paulo com o representante da União Européia, Pascal Lamy, em missão especial no Brasil. Tem o resto do dia livre


Agenda dos candidatos para governador

Benedito Domingos
PPB
Passa o dia na vice-governadoria. À noite tem reunião com a comunidade do Novo Gama.

Carlos Alberto
PPS
Passa o dia em reuniões internas. Às 19h30, vai a um debate no Café com Letras, 203 Sul.

Geraldo Magela
PT
Passa o dia em reuniões internas de campanha.

Joaquim Roriz
PMDB
A agenda do candidato não foi divulgada.

Rodrigo Rollemberg
PSB
Panfleta na Rodoviária do Plano Piloto. Às 12h, faz um minicomício no Pátio Brasil. À noite, se reúne com representantes da segurança pública.

Orlando Cariello
PSTU
Passa o dia em compromissos internos de campanha.

Expedito Mendonça
PCO
À tarde, estará em Taguatinga, na banca do partido.

Guilherme Trota
PRTB
Fica em casa pela manhã. À tarde, conversa com a comunidade negra de Planaltina.


Artigos

Que vença o povo brasileiro
Luiz Martins

Quem quer que saia vitorioso nas urnas no atual processo eleitoral, o importante é que a grande vitória seja da sociedade brasileira, sob pena de virmos a ter, não o fortalecimento da vida institucional e democrática, mas a afirmação de lideranças salvacionistas, risco que não deixa de estar presente, à medida que o debate eleitoral insinua que o país pode descambar para o caos se este ou aquele candidato se sair vitorioso.

A complexidade do mundo moderno e dos processos administrativos por vezes produz a ilusão de que somente uma tecnoburocracia de grande competência racional estará habilitada a conduzir os destinos de uma nação, já que as esferas do Estado e da economia seriam instâncias por demais complicadas para ficar à mercê do império de categorias ‘amadoras’ e até emocionais, tais como: povo, vontade coletiva e soberania popular.

O medo, somado às instabilidades sintomáticas, mas por vezes artificiais, de uma certa economia de cassino podem, neste momento, turvar a lucidez do processo democrático que ainda é assegurado pela democracia representativa, de tal forma que o cidadão seja levado a escolher entre as suas aspirações políticas e um certo utilitarismo emergencial, traduzido na seguinte equação: deve-se votar em determinado candidato para que o Brasil não resvale para a situação a que chegou a Argentina.

Ora, por que será que, neste momento, os próprios argentinos entrevêem as urnas como saída e até se apressam em convocar eleições? Certamente porque um pingo de juízo restante revela que o país vizinho vive muito mais uma crise de legitimidade do que uma crise econômica, ou pelo menos que esta segunda decorre da primeira. Lá, o perigo insinuado — como se houvesse algum perigo maior que o atual estado de coisas —, é o de que o desespero possa carimbar o passaporte do retorno do populismo. Pode até ser que isso venha acontecer e represente um retrocesso em termos de modernidade, mas mesmo regimes populistas ainda têm mais legitimidade do que dominações técnicas e suas racionalidades estruturalizantes, das quais não fazem parte sociedade, povo e vontade coletiva.

Cria-se, neste momento, no Brasil, um clima de seqüestro do voto, como se o cidadão brasileiro não pudesse optar sossegadamente e de acordo com as suas convicções, ou mesmo simpatias e intuições. Prega-se uma falsa premissa, a de que o mais importante é prevenir uma argentinização do Brasil. Ora, se o Brasil cair no ‘‘abismo’’ que em determinados momentos abalou Rússia, México e Argentina, será muito menos em função de um candidato democraticamente escolhido do que segundo os ditames de uma tecnoburocracia globalizada associada às suas congêneres nacionais.

Como se não bastasse a vida econômica brasileira estar colonizada pela racionalidade que emana do FMI, eis que o mesmo cacoete aponta em direção à vida política, como se o alinhamento fosse, de antemão, um procedimento recomendável e capaz de representar um seguro contra o caos econômico e financeiro. Não se pleiteia, aqui, um confronto em relação aos compromissos até agora assumidos em nome do Estado brasileiro, mas que das urnas saia uma força política capaz de negociar com o peso de sua legitimidade e não com a rendição já a tiracolo.

Governar um país parece ser, hoje, conseguir manter o equilíbrio entre as pressões internas e externas. Não há como ignorar as contingências exteriores, não existe tal possibilidade numa economia global. Sucumbir às mesmas, no entanto, pode significar uma traição aos compromissos para com uma terceira força, a sociedade, que está acima da economia e da política. E, por mais que governar seja uma tarefa tecnicamente complexa, o descolamento que possa vir a representar o elitismo político é o pior dos caminhos. Nunca existiu e provavelmente nunca existirá nação sem povo e democracia sem participação. E talvez seja justamente por isso que a democracia ainda existe e resiste como alternativa, atravessando os tempos. Trata-se da constatação, esta sim, bem moderna, de que a democracia é uma potência que não se deixa dominar inteiramente pelas categorias do poder e do dinheiro, ou seja, a política meramente estratégica e a economia meramente de resultados e ajustes.

O debate eleitoral, portanto, perderá a sua melhor qualidade se, em vez de legitimamente funcionar como esfera pública, servir ao amedrontamento, ceder a uma certa chantagem junto ao eleitor, na base do ’ou você vota em mim ou estaremos todos perdidos’. Por mais que o mundo esteja globalizado, ainda resta alguma au tonomia social. Caso contrário, seria melhor cancelar as eleições e render-se ao pragmatismo de algum consenso técnico. Durante as ditaduras, de fato os ditadores se auxiliam de príncipes-tecnocratas, os sabem-tudo de administração e racionalidade técnica, desde que sem nenhuma participação popular autêntica, pois isso supostamente atrapalha.

Até o momento, parece fazer parte da evolução do processo político brasileiro, o Brasil ainda não acreditou piamente na potencialidade da vida democrática, mesmo com os riscos e imperfeições intrínsecos. Seria, ainda, um trauma associado a 64? Desta vez, no entanto, sequer há ‘salvadores’ de plantão nos quartéis e, felizmente, há indicadores de que os militares não vêem mais a administração pública e a política entre as suas obrigações e vocações. Corre-se, no entanto, o risco da alternativa de um elitismo democrático, venha de onde vier, que seria as urnas ungirem, não um candidato e um programa, mas um embaixador encarregado de negociar um certo acordo, suposto antídoto do caos. Seria a perda do sentido das eleições, um desperdício cívico e um equívoco atroz, o mesmo do qual a Argentina começa a se ver livre, até mesmo por constatar na própria pele que perante as perversões do mercado financeiro internacional não há concessões ou acordos satisfatórios. E nem há desembolso monetário capaz de saciar a voracidade dos atores que vivem das oportunidades da economia de cassino.

O Brasil precisa atirar-se de vez nos braços da democracia, tentar ser feliz sem fantasmas e, pela primeira vez, apostar na capacidade de seu povo, ainda que por vezes este seja induzido a enganos, nada que a vida democrática não seja capaz de reparar. No Brasil ainda não aconteceu com relação à vida democrática o mesmo conto de fadas sucedido no futebol. Os candidatos, por sua vez, não podem cair na ilusão de que, por si só, são forças autônomas, acima do povo e da democracia, capazes de ganhar o jogo sozinhos. Podem, sim, uma vez eleitos, até autonomizar-se, descolar-se das bases e dos compromissos, mas isso pode ter um custo muito alto, inclusive, das suas cabeças


Editorial

BANCOS E PESQUISAS

Pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República são caras. Chega aos seis algarismos a conta de um levantamento confiável. E não poderia ser diferente em um país com as dimensões do Brasil. Eleitores de todas as regiões devem estar nas amostras, incluindo os que só podem ser alcançados por barco.

Apesar do alto custo, as pesquisas têm sido usadas intensamente. Tornaram-se um hábito. Para os candidatos, são imprescindível instrumento de avaliação. Para os meios de comunicação, uma das maneiras de informar o público.

A clientela dos institutos está ainda maior nesta eleição. No final do ano passado, um banco com sede nos Estados Unidos encomendou levantamento das intenções de voto para a Presidência do Brasil. Manteve em segredo os números. Neste ano fez novas pesquisas. Passou a registrar o pedido no Tribunal Superior Eleitoral e a divulgar os resultados.

Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), agência federal responsável por fiscalizar o mercado de capitais e o mercado financeiro, desconfia-se que esse banco não tinha por objetivo apenas guiar seus investimentos no Brasil, porque negócios nos mercados futuros de juros e câmbio se intensificaram nos dias anteriores à publicação das pesquisas. A CVM investiga se o banco norte-americano, outro banco estrangeiro e dois bancos brasileiros lucraram com a divulgação dos resultados de pesquisas eleitorais.

É louvável que, além de investigar, a CVM tenha se preocupado em estabelecer novas regras para evitar que a convivência entre finanças e política atente contra os interesses da sociedade. Desde a semana passada, instituições financeiras terão de comunicar as pesquisas não só ao TSE, mas também à própria CVM, que manterá especial vigilância.

A medida está longe, porém, de ser completa para seus objetivos.
Os especuladores ficarão livres de registrar pesquisas se mantiverem o resultado em sigilo. Nada os impede, portanto, de fazer pesquisa paralela a outra que será publicada e lucrar com o conhecimento antecipado do resultado.

Mas o principal problema está na escassez de meios da CVM para fiscalizar o mercado. O uso de pesquisas eleitorais para especular é novidade. Mas o uso de informação privilegiada, não. Desde 1976, quando foi criada, a CVM investiga casos em que se suspeitou de informação privilegiada. Nada conseguiu provar.

Em outubro do ano passado, a CVM deixou de ser um braço do Ministério da Fazenda e transformou-se em agência. Na semana passada, tomou posse o novo presidente, Luiz Leonardo Cantidiano, com mandato de cinco anos. Ele revelou que a instituição preencheu até agora apenas 14 das 24 vagas de advogados em seus quadros.
Em uma economia cada vez mais sofisticada, a CVM precisa ser dotada de todos os meios de punir os maus negociantes. É necessidade inadiável. Não pode depender de novo governo.


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07/22/2002


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