Integração com o Qualis diferencia hospital do Itaim Paulista
Unidade também mantém programas de parto humanizado e ressocialização de pacientes psiquiátricos
Unidade também mantém programas de parto humanizado e ressocialização de pacientes psiquiátricos A integração do Hospital Geral do Itaim Paulista com o Projeto Qualis está fazendo a diferença no relacionamento médico-paciente e também na dinâmica do atendimento oferecido pela unidade. Inaugurado em agosto de 1998 pelo governador Mário Covas, o hospital era um dos quatorze esqueletos que tiveram suas obras abandonadas por governos anteriores e que foram retomadas pela administração Covas. Das quatorze unidades, onze já estão funcionando e as outras três (Santo André, Vila Alpina e Sapopemba) tiveram suas obras retomadas no ano passado e devem ser inauguradas até 2002. Por estar situado numa região muito carente, o Hospital do Itaim Paulista atende emergências e um amplo leque de consultas. No meio médico é conhecido como ‘hospital de portas abertas’. Na ‘porta’ é feito 70% do atendimento básico. A unidade conta com 227 leitos, além de 39 complementares, destinados a pronto-socorro e UTI. O hospital era uma reivindicação da população que já durava 12 anos, provinda de uma região carente em assistência hospitalar. “Temos uma unidade da prefeitura há seis quilômetros daqui e outra, um pouco mais longe. Os pacientes iam até Itaquera (onde a Irmandade Santa Marcelina mantém um hospital próprio) para consultas e atendimento de urgência”, afirma a médica e diretora-técnica do hospital, irmã Monique Bourget. Segundo ela, desde que o hospital foi inaugurado, em agosto de 1998, o movimento nos dois hospitais municipais diminuiu muito. Trabalho integrado com o Projeto Qualis O Hospital Geral do Itaim Paulista é gerenciado pela Irmandade Santa Marcelina, que também administra o Hospital Geral de Itaquaquecetuba, inaugurado no ano passado, além de atuar na coordenação do Qualis na Zona Leste. O Projeto Qualis – Qualidade Integral à Saúde – garante, por meio de atendimento domiciliar ou nas Unidades de Saúde, atenção integral, permanente e de boa qualidade a todos os membros da família. A tarefa é executada por equipes de profissionais da área, formadas por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde. As equipes são ancoradas nas Unidades de Saúde, onde trabalham parte do tempo e de onde saem para visitar as casas de moradores indicadas pelos agentes comunitários. O Qualis atende comunidades carentes, promovendo ações de prevenção de doenças, diagnóstico precoce, recuperação e reabilitação. É a versão paulista do Programa de Saúde da Família (PSF), coordenado pela Secretaria Estadual da Saúde e apoiado pelo Ministério da Saúde. “O objetivo principal é o paciente e trabalhar num sistema integrado facilita bastante. Hoje, tanto esse hospital quanto a rede do Qualis servem de lugar de ensino. É um estímulo muito grande porque você acaba qualificando os profissionais de saúde”, afirma irmã Monique. “Temos duas escolas de enfermagem com estágios aqui”. Médicos da família fazem residência no hospital A segundanista de residência em medicina geral, Eny Cristina Diniz Canet, está se especializando no atendimento médico familiar. Ela já passou por quase todas as áreas do hospital e este ano passa a fazer parte de uma equipe do Qualis, na Zona Leste. “A parte mais difícil é a dos problemas sociais que enfrentamos. Temos que nos adaptar aos medicamentos que as pessoas podem comprar, conhecer a realidade deles”, conta Eny Canet. “O médico da família se especializa em patologias mais comuns, atendimento ambulatorial e domiciliar. Com alguns anos de prática, conseguimos resolver 95% dos problemas”. Segundo a residente, o objetivo é atender o máximo. Os casos mais graves são encaminhados para o Pronto Socorro e os específicos, para especialistas. A residência de medicina comunitária - parte da formação do médico da família - é feita no hospital e aplicada no Qualis. “Isso ajuda muito na formação do profissional que ganha uma excelência maior”, explica irmã Monique. “O vínculo profissional-paciente está sendo resgatado. E isso é importante, tanto quanto o respeito entre os colegas. O médico que faz o atendimento no Qualis está mantendo esse respeito porque tem que ser um bom generalista, não pode entender apenas de uma especialidade”. A integração do hospital com o Qualis está proporcionando alta precoce aos pacientes internados e às gestantes que recebem visitas de equipes. “Eles não precisam de home-care (acompanhamento em casa) porque já recebem essa assistência pelo pessoal do Posto do Qualis”, explica irmã Monique. O hospital também reservou alguns ambulatórios, onde a marcação de consultas é feita por telefone, aos pacientes do Qualis. E realiza os exames solicitados pelas equipes. A diretora informa que a proporção de pessoas atendidas nos ambulatórios reservados é muito pequena. “Como o Qualis resolve 95% dos problemas, são muito poucos os encaminhamentos”, disse. Atenção especial à gestante “A ´exportação` de gestantes era muito grande na região”, conta irmã Monique, referindo-se ao fato de que muitas mulheres procuravam outros hospitais da cidade para o trabalho de parto. A falta de leitos de maternidade era estimada em cerca de 80 leitos antes da inauguração do hospital, hoje com 42 leitos de maternidade. Atualmente, o hospital realiza cerca de 500 partos por mês. “Existe um fenômeno que você tem de considerar: quando você melhora as condições: todo mundo quer mais. Eu já escutei muita gente falando: ‘vai dar a luz lá porque é ótimo’”, orgulha-se o administrador da unidade, Carlos Alberto Ferreira. Desde que iniciou suas atividades, o hospital vem desenvolvendo programas especiais, como o de humanização do parto. As mulheres têm seus filhos em quartos comuns, onde podem ficar sozinhas ou acompanhadas de familiares. Além disso, a administração do hospital incentivou a formação de um grupo de mulheres da comunidade que acompanham a parturiente no momento do parto. Essas acompanhantes são conhecidas como Doulas. “São voluntárias que ficam com a gestante nesse momento delicado, fazendo massagens e oferecendo conforto, apoio e uma presença amiga”, conta irmã Monique. Por seus programas de humanização do parto, que também incluem o Mãe Canguru, Mãe Acompanhante e incentivo ao parto normal, o hospital foi um dos dez escolhidos em todo o País pelo Ministério para concorrer ao prêmio Galba Araújo. O hospital também está construindo uma Casa de Parto. É um projeto alternativo onde as mulheres têm alguns pré-requisitos para poderem realizar seus partos, como ter feito pré-natal, que será restrito às mulheres acompanhadas pelo pessoal do Qualis. Os partos devem ser, obrigatoriamente, de baixo risco. A mulher não pode ter histórico de problemas em gravidez anterior, hipertensão ou diabetes. “A mulher ganha o neném, fica algumas horas e vai embora para casa. O acompanhamento nas primeiras 24 e 48 horas será feito pelo pessoal do Qualis”, conta Monique. Futuramente, prevê a diretora, os profissionais da rede do Qualis que fazem o pré-natal vão poder realizar o parto no hospital. Pacientes da psiquiatria têm ateliê ”Desde o início, tentamos fazer da psiquiatria um espaço mais humano”, explica irmã Monique. A idéia era desenvolver alternativas que ajudassem na recuperação. “Queríamos fazer coisas alternativas para ajudar. Começamos com os pacientes mais jovens, em primeira internação, e que pudéssemos trabalhar também com a família. Para isso, temos uma terapeuta ocupacional, uma psicóloga”, contou. O primeiro projeto a ser implantado foi uma horta, onde os pacientes puderam cultivar legumes e verduras. “Os pacientes iam lá pela manhã. Isso ajudou muito na recuperação”, atesta a diretora. “A horta foi suspensa temporariamente porque está mudando de lugar”, conta Carlos Ferreira. Em seguida, os barracões da construção do hospital foram reaproveitados como ateliês. “Os pacientes fazem, junto com alguns voluntários da comunidade, trabalhos manuais, como crochê, tricô, biscuit, pintura e aulas de relaxamento, entre outros”, explica irmã Monique. O hospital procura sempre incentivar a participação da comunidade. “Fizemos uma parceria com uma escola estadual que fica ao lado do hospital e nas horas vagas os professores vêm aqui para ajudar”, conta a diretora. Agora, a proposta é levar também os alunos, fazendo o entrosamento da comunidade com os pacientes. “O problema clássico da psiquiatria é o preconceito das demais clínicas. O ateliê integra e desmistifica. E está ajudando muito na conquista da confiança dos outros profissionais”, atesta a enfermeira da psiquiatria, Adriana Casarin. “Além disso, conseguimos oferecer um trabalho mais humanizado aos pacientes. Não de reclusão, mas de integração com a comunidade”. O ateliê deve ser estendido para outros pacientes, como as mães que ficam na pediatria o dia todo com as crianças e as mães-canguru. Assistência espiritual e home care O Hospital do Itaim Paulista também oferece assistência espiritual opcional aos pacientes internados, por meio da Pastoral da Saúde. Esse programa conta com um capelão e mais de cinquenta voluntários da comunidade que visitam os doentes, sempre no período da tarde, para orações e leituras da Bíblia. Outro programa especial que está sendo implantado é a assistência domiciliar, chamado Home Care, que conta com uma equipe pequena e quase vinte pacientes cadastrados. “Estamos tentando encurtar a permanência do doente no hospital e oferecendo apoio para isso”, disse Carlos Alberto Ferreira. “Isso evita infecções hospitalares, além de ajudar na recuperação, já que é comprovado o fato de o paciente se recuperar melhor em casa, ao lado da família”. Nesse caso, a equipe leva medicamentos do hospital para o paciente. União com o Hospital de Itaquaquecetuba Embora em municípios diferentes, os hospitais do Itaim Paulista e de Itaquaquecetuba são muito próximos. Além disso, ambos são administrados pela Irmandade Santa Marcelina. Esses fatores proporcionaram a união das duas unidades, gerando, de acordo com Ferreira, ganho administrativo. Atualmente, diversos setores dos dois hospitais contam com apenas uma equipe, como acontece com recursos humanos e compras. “A gerência de informática também é uma só e caminha para a união dos dois sistemas. Desenvolvemos um software para que os dois possam conversar”, explica o administrador. Com isso, será possível verificar por computador quem está internado no outro hospital. “O médico poderá ver daqui as condições de seu paciente lá”, explica Ferreira. Hospital público ganha ressonância magnética A idéia é unir ainda mais os hospitais de forma que um complemente o outro. “Essa união deve começar na ressonância magnética, que é um bem comum para todos. Trata-se de um instrumento muito caro e extremamente especializado”, sentencia Ferreira. A Casa de Saúde Santa Marcelina recebeu a doação de um equipamento de ressonância magnética do Hospital Albert Einsten. “É usado, mas está em bom estado de conservação”, afirma o administrador. A Irmandade Santa Marcelina decidiu, então, instalar o equipamento hospital do Itaim Paulista. “Fizemos mudanças, temos a liberdade de fazê-las com toda responsabilidade. Sempre no intuito de melhorar o atendimento a essa população tão carente”, ressaltou irmã Monique. Hospital é gerenciado por uma Organização Social de Saúde “A Secretaria da Saúde procurou a parceria do Santa Marcelina porque temos 40 anos de trabalho na Zona Leste”, garante irmã Monique. A instituição já trabalhava com o Qualis há dois anos e estava apresentando bons resultados. “Nós vimos nesse hospital uma possibilidade de fechar uma referência na região. Tendo a rede básica e um hospital secundário podemos responder mais diretamente às necessidades da população”, ressalta a diretora. Entregar o gerenciamento das novas unidades a entidades filantrópicas com comprovada experiência e compromisso com a população foi a maneira que o Governo paulista encontrou para a questão da contratação de funcionários para os hospitais inaugurados. Ao todo, seria necessário contratar 15 mil pessoas e, de acordo com a Lei Camata, o Estado não pode gastar mais de 60% de seu orçamento com folha de pagamento. “O que procuramos então – e para isso foi preciso aprovar uma lei complementar à Constituição estadual – foi criar mecanismos que permitissem ao Governo do Estado qualificar entidades de caráter filantrópico, não lucrativo, com comprovada experiência de trabalho e compromisso com a população. A idéia era que elas pudessem receber um prédio público e bem equipado para gerenciar, recebendo dinheiro público,” explica o secretário estadual da Saúde, José da Silva Guedes. As entidades recebem repasse do Governo Federal, pela tabela do SUS, e complemento de recursos estaduais. A partir daí, surgiram as Organizações Sociais de Saúde, que são entidades sem fins lucrativos, com experiência em serviços de saúde, das quais se exige que operem na área há pelo menos cinco anos, demonstrando assim, na avaliação da Secretaria Estadual da Saúde, que tenham competência, lisura e comprovado compromisso com a população. Assim, a Santa Casa de São Paulo administra o Hospital Geral de Guarulhos02/27/2001
Artigos Relacionados
Amanhã é dia de música na Fábrica de Cultura do Itaim Paulista
Fábrica de Cultura Itaim Paulista: 1200 aprendizes
Sabesp e Subprefeitura do Itaim Paulista juntas na conscientização ambiental
Fábrica de Cultura Itaim Paulista terá festival de rock e aulas de capoeira
CPTM: Campanha Contra Álcool e outras drogas na Estação Itaim Paulista
CPTM: Campanha Contra Álcool e outras drogas na Estação Itaim Paulista