IPT faz check-up em árvores do Palácio dos Bandeirantes



Objetivo é manter saudáveis as diversas espécies do jardim, algumas nobres e antigas

Poucos sabem, mas os jardins do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, no Morumbi, formam uma reserva florestal, com árvores nativas e exóticas (estrangeiras), algumas plantadas por autoridades e visitantes ilustres, do Brasil e de outros países. Para manter esse espaço verde e saudável é necessário combate incessante contra as pragas, principalmente cupins e fungos.

Quem conduz esse importante trabalho de prevenção é o Departamento de Infra-estrutura do palácio que contratou equipe do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Os especialistas elaboram diagnóstico de saúde de cada uma das 2.050 árvores do local. O check-up começou no ano passado e deverá estar concluído até dezembro.

Nesta primeira fase, os técnicos farão análises para futuramente estabelecer eventuais níveis de risco de morte ou queda. Sérgio Brazolin, biólogo do Centro de Tecnologia Florestal do IPT (CT-Floresta), explica que nessa etapa será estudada a presença de pragas da madeira, especificamente cupins e fungos.

Os técnicos introduzem pequena broca fina, parecida com arame, de um milímetro de diâmetro, no colo da árvore (parte do tronco próximo à terra) para medir a dureza da madeira. “Uma árvore sadia oferece maior resistência, enquanto outra infectada por pragas torna-se mais mole”, conta Brazolin. Ele e sua equipe mensuram ainda altura e diâmetros da planta e de sua copa.

Todos esses dados, adianta Brazolin, serão aplicados num modelo matemático do IPT de modo a obter o estado de saúde da árvore. São três os níveis de alerta revelados pela fórmula de probabilidade: mínimo, médio e máximo. O nível máximo, considerado crítico, exige providências rápidas que não precisam incluir a remoção da árvore. “Podem ser controle maior das pragas ou trabalho de poda. O corte definitivo só é feito em último caso”, previne o biólogo.

Ele estima que a maioria das árvores da sede do governo paulista encontra-se saudável. A explicação de Brazolin é que as espécies estão plantadas num jardim com vasta área para crescimento das raízes e das copas, o que torna menos suscetíveis às pragas. “Mas isso não dispensa os check-ups”, ressalva o biólogo. 

Caça-cupins

Além das análises e do futuro cálculo de risco, o IPT entregará um software para a área de infra-estrutura do palácio. Nesse programa, cada árvore terá sua ficha documental, com determinação da espécie, quando foi plantada (se a data for conhecida), estado de saúde, cuidados no manejo e poda, localização física e até curiosidades históricas sobre a cerimônia e a pessoa que plantou.

Nos jardins do prédio do Executivo paulista existem, por exemplo, mais de cem cerejeiras trazidas do Japão e fincadas no solo por representantes da família imperial daquele país, por ocasião de visita a São Paulo nos anos 90.

Há mais de 30 anos o IPT pesquisa fungos e cupins em edificações, mas é de oito anos para cá que estendeu sua atuação para as árvores. O CT-Floresta é formado por sete técnicos, entre biólogos, agrônomos, engenheiros civil e florestal e ecólogos. No palácio, Brazolin costuma trabalhar com mais duas pessoas, entre elas a bióloga Cyntia Tagliatelli de Oliveira e o estagiário Mário Albino de Oliveira.

Outras equipes de especialistas do IPT trabalham na análise de móveis antigos, molduras de quadros e estruturas de edificação, locais em que os cupins também atacam. Esses insetos costumam construir caminhos subterrâneos, de até 100 metros de comprimento, para chegar às madeiras. Há colônias deles em até três metros abaixo do solo.

Para evitar a proliferação, o IPT instalou ao redor do prédio armadilhas com veneno. O produto é capaz de eliminar colônias inteiras pelo chamado efeito de quitino: os cupins não conseguem mudar de exoesqueleto (espécie de troca de “pele” comum nos insetos) e morrem. 

Pioneirismo

Em 2003, após a queda de uma velha tipuana numa rua do Ibirapuera, acidente que matou uma pessoa, a prefeitura paulistana pediu ajuda do IPT. A equipe do CT-Floresta diagnosticou sete mil árvores na capital. Por meio do modelo matemático, constatou-se que 18% delas se encontravam no nível máximo de risco, 4,7% no médio e o restante (nível mínimo) em boas condições de saúde.

A equipe de Brazolin trabalhou até 2005 nos bairros de Vila Nova Conceição, Cerqueira César, Alto da Boa Vista, Alto da Lapa, Paraíso, Pacaembu, Sumaré e Alto de Pinheiros. Além das tipuanas, as espécies que mais apresentaram deterioração foram as sibipirunas e os alfeneiros.

RG florestal 

O diretor do Departamento de Infra-estrutura do Palácio dos Bandeirantes, Nelson Essaki, explica que a idéia de chamar o IPT deveu-se à preocupação em manter a saúde das plantas em virtude da enorme presença de cupins na região do Morumbi. “Precisamos preservar nosso acervo de árvores, pois temos aqui várias espécies nobres, nacionais e estrangeiras”, ressalta Essaki.

O funcionário encarregado de colocar as chapinhas numeradas nas árvores é Arthur Belém Filho, que trabalha com Essaki. Arthur pretende colocar a última chapa ainda este mês. “A de número 2 mil instalei na semana passada e pretendo acabar o serviço ainda este mês”, promete. A numeração será uma espécie de documento (RG) das árvores. 

Otávio Nunes

Da Agência Imprensa Oficial 

(J.N.)