Jovem descoberto pelo Navega São Paulo vai disputar as Olimpíadas
Atleta revelado embarca hoje para a China para competir na modalidade canoa olímpica
Na época das Olimpíadas de Atenas, o garoto Nivalter Santos ainda fazia malabarismos nos semáforos da cidade de São Vicente, na Baixada Santista. Adolescente pobre da periferia, então com 16 anos, nem passava pela sua cabeça tornar-se um grande esportista. Quatro anos depois, o agora canoísta embarca hoje para Pequim. É um dos dois atletas da Seleção Brasileira de Canoagem a disputar os Jogos Olímpicos 2008. “As Olimpíadas são um sonho antigo. Desde que entrei na canoagem percebi que poderia ir mais longe e logo comecei a treinar”, lembra o esportista.
A mudança no rumo de sua vida ocorreu depois dos Jogos Olímpicos de 2004 e contou com a contribuição decisiva do Projeto Navega São Paulo, da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo. Pedro Sena, treinador da Seleção Brasileira de Canoa Olímpica, destaca que a instalação de um núcleo do Navega São Paulo em São Vicente foi determinante para o sucesso de Nivalter, pois possibilitou que ele tivesse barco e remo de competição para se desenvolver. Isso porque na Associação dos Funcionários da Cosipa (AFC), local em que o jovem deu os primeiros passos no esporte, só havia equipamentos de recreação.
O garoto conheceu a canoagem a convite de um amigo. Na época, morava num conjunto da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) ao lado da AFC. Participou do primeiro mês de aulas e desapareceu. Não tinha dinheiro para bancar as mensalidades, que custavam 20 reais. Voltou pouco tempo depois, por insistência e com a ajuda financeira do treinador Sena, que enxergava nele um talento promissor. Na ocasião, o Navega São Paulo também iniciava suas atividades em São Vicente, isentando os participantes do pagamento de mensalidades.
Medalhas e sonhos– “Não fosse o Navega São Paulo, com os novos equipamentos, Nivalter nem poderia ter participado da seletiva nacional para formação da Seleção Brasileira de Canoagem permanente”, recorda Sena. Essa triagem ocorreu três meses depois de o garoto retornar às aulas de canoagem na AFC e garantiu uma vaga na Seleção. A partir daí, começou a treinar em São Bernardo do Campo, conquistando títulos e marcas importantes.
Em 2005, venceu o Sul-Americano de Canoagem, categoria júnior, classe C1 (prova individual) 1.000 metros. No mesmo ano, participou do Mundial Júnior, na Hungria, onde obteve a 23ª colocação. Em 2006, competiu em dupla no Mundial Sênior, também na Hungria. Nos Jogos Sul-Americanos, realizados nesse mesmo ano, na Argentina, conquistou quatro medalhas: uma de ouro (no C1 500 metros), duas de prata e uma de bronze (as três últimas em dupla). Nos Jogos Panamericanos, em 2007, ganhou medalha de bronze.
Neste ano, Nivalter foi ouro na classe C1 200 metros, no Campeonato Pan-Americano de Canoagem Velocidade, em Montreal, Canadá. A de prata, na mesma competição, obtida no C1 500 metros, garantiu ao atleta a participação nos Jogos Olímpicos de Pequim. Além disso, numa das etapas da Copa do Mundo, na Polônia, alcançou o 8º lugar no C1 500 metros. Em outra etapa, na Alemanha, chegou em 5º lugar no C1 500 e C1 200 metros.
Sua especialidae é a canoa olímpica, classe C1, em que o atleta permanece com um dos joelhos num apoio. O treinador Pedro Sena explica que, por ter iniciado no esporte com quase 17 anos, não teve todos os fundamentos de base de um canoísta (que nessa modalidade, começa geralmente aos 12 anos. Nempor isso ele esconde que o sonho é se tornar um campeão olímpico. Agora, em Pequim, Nivalter colocou como meta estar entre of finalistas. E, com a experiência que espera ganhar nestes jogos, poder birgar por uma medalha nas Olimíadas de 20012.
Caminhão de mudança – Para o Navega São Paulo, Nivalter é uma referência – mas não pelo fato simplesmente de ter se tornado um atleta de ponta. O foco do projeto não é formar campeões. O objetivo, segundo a gerente do Navega São Paulo, Mônica Doll Costa, é, por meio do incentivo aos esportes náuticos (canoagem, remo e vela), propiciar o resgate social a jovens de famílias de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social. E esse propósito, pelo menos no caso do Nivalter, o projeto tem alcançado segundo a gerente do
O atleta nasceu em Sergipe. Filho de pescador, cedo teve contato com água e canoas. “Tinha vez que não dava para ele ir pescar e eu ia sozinho, com a canoinha” lembra. A separação dos pais atrapalhou seus estudos. E, hoje, ele cursa a primeira série do ensino médio. A vinda para a Baixada Santista foi aos 14 anos. A mãe chegou primeiro, em busca de trabalho. Depois, mandou buscar os filhos. “Vim sozinho, junto com o caminhão da mudança”, recorda-se o atleta. Hoje, todos moram juntos: a avó, a mãe, Nivalter, duas irmãs e dois sobrinhos (nascidos em São Vicente).
Nesses quase quatro anos de dedicação ao esporte, o canoísta conta que não chegou a realizar outro tipo de atividade para se manter. A mãe, que trabalha como doméstica, “sempre me ajudou para eu conseguir realizar o meu sonho. E também o dela, que é comprar uma casa”. Por enquanto, uma das aquisições do rapaz é um Gol 1999, comprado em 48 prestações. “Parece uma Bíblia”, diz aos risos sobre o carnê grosso, “as prestações não acabam nunca”.
A maior dificuldade para atletas de esportes não tão conhecidos, como a canoagem, é a falta de patrocínio, afirma Nivalter. “Quando tem uma competição importante, sempre aparece apoio. Mas, depois que acabam esses campeonatos, as pessoas que estavam do seu lado desaparecem, e você fica sozinho”. Atualmente, Nivalter recebe apoio da Confederação Brasileira de Canoagem, Porsani Embalagens e Universidade Metropolitana de Santos (Unimes).
Projeto tem oito núcleos no Estado
Iniciado em 2003, o Projeto Navega São Paulo, da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo, tem oito núcleos conveniados no Estado de São Paulo: Santos, Praia Grande, Mairiporã, Piraju, Barra Bonita, Ilha Comprida, Fartura e Rubinéia. Mesmo sem a parceria do Estado, núcleos outrora conveniados ainda funcionam e se destacam pela sua atuação, como o Navega de São Vicente.
Além de prática esportiva, o projeto busca proporcionar integração social, noções de cidadania, consciência ecológica, espírito de equipe, conhecimentos básicos de marinharia, navegação e primeiros socorros. Anualmente, atende mais de 2,5 mil jovens de 12 a 15 anos.
Para participar, é preciso comprovar matrícula e freqüência na rede pública escolar, pertencer a família de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social, e estar apto à prática esportiva, mediante apresentação de atestado. As inscrições são abertas nas prefeituras, parceiras no projeto.
Em termos de Baixada Santista, por exemplo, a intenção é levar a canoagem para outros municípios, afirma Pedro Sena. “Mas para isso precisamos de apoio. Interessados em contribuir com a iniciativa podem ligar para (13) 9129-8491.
Novos talentos – Ronilson Matias, 18 anos, e Iuris do Nascimento, 16, são outros exemplos de talentos que despontaram recentemente no núcleo de São Vicente. O primeiro venceu o Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade, classe C1, categoria Júnior, distâncias de 500 e 1.000 metros. O segundo foi prata na mesma especialidade. Os dois, juntos, venceram ainda na classe C2, categoria Júnior, também nas distâncias de 500 e 1.000 metros. Além disso, Ronilson participou do Campeonato Mundial, realizado em 2007, na República Tcheca.
Na vela, segundo Paulo Medeiros, coordenador do núcleo de Santos, nome de destaque é Ronion Silva, descoberto pelo antigo núcleo de São Sebastião. Campeão brasileiro da classe Optimist, já disputou o Sul-Americano e campeonatos mundiais.
Da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
08/08/2008
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