Jovens da Fundação Casa dão show na Bienal



Atividades artísticas ajudam a mudar os estereótipos sobre os internos e sobre os centros de socialização

Quem for à Bienal Internacional do Livro de São Paulo, poderá conhecer, até o dia 24, mais do que os últimos lançamentos do mercado editorial. No estande Fundação Casa no Pavilhão da Bienal, no Anhembi, aproximadamente 400 jovens internos apresentam diariamente atividades esportivas e culturais, como música, dança, teatro, skate, xadrez, poesia, bem como exposições de fotografia e pintura e até palestras sobre doenças sexualmente transmissíveis, elaboradas pelos próprios adolescentes. Além de mostrar o que têm aprendido durante o período de internação, os garotos expõem em todas as atividades suas reflexões sobre o cotidiano, ao abordar temas como família, amizade, violência e solidariedade. Algumas atividades acontecem também no espaço Ler é a Minha Praia.

A peça Insensibilidade, apresentada pelos adolescentes da Unidade de Internação (UI) Cerqueira César, por exemplo, aborda os desafios da convivência e a solidariedade. Um homem sente-se mal e cai na rua, mas não é ocorrido, embora muitas pessoas passem por ele e olhem apenas para satisfazer a curiosidade. “Está sendo muito bom para nós, podermos mostrar o nosso trabalho aqui fora. É uma sensação muito boa e está ajudando bastante na nossa vida”, conta V.F.A., 15 anos, um dos atores. Para a agente educacional e diretora do grupo teatral da UI, Marta Vilela, a atividade teatral na Fundação objetiva trabalhar os valores dos adolescentes e abrir-lhes uma nova visão do mundo. O ator Eduardo Carriel, que também atua na peça, diz que o convívio com os internos oferece grandes oportunidades de aprendizado. No encerramento da dramatização, todos cantam: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender...”, trecho da canção Sol de Primavera, de Beto Guedes.

Já na encenação mímica O Bem e o Mal, interpretada pelos rapazes da UI de Franca, um garoto é atormentado pelas sugestões do Mal, um misterioso homem vestido de preto. Até que um dia, ele conhece o Bem e finalmente consegue substituir, no baú do seu passado, as palavras medo, violência e crime por amor, alegria e paz. Na vida real, todos os quatro atores da peça afirmam ter “limpado” seu baú de sentimentos negativos.

J.W.S., da UI de Itapetininga, que cantou músicas de sua autoria, diz que é muito importante poder contar com a colaboração dos funcionários. Ele interpretou suas canções acompanhado ao violão pelo psicólogo da unidade, Fernando Ribeiro, e pelo agente de segurança Salomão Gabriel Sanches. Diz que para compor, pensa na família e nas coisas que hoje consegue entender e que antes não entendia. Ribeiro acredita que mostrar ao público as atividades dos internos é uma maneira de apresentar esses jovens à sociedade de uma maneira mais positiva, livre dos estereótipos pelos quais já chegam marcados à fundação. “Acho importante essa interação entre segurança e interno, facilita o trabalho da gente, você cria um vínculo, evidentemente positivo com eles, que vai nos ajudar a atendê-los em suas necessidades”, completa Sanches.

Antes da apresentação na qual tocaria violão em dupla com um colega, W., 18 anos, se dizia nervoso. Há um ano na UI de Ribeirão Preto, toca violão e diz que aprendeu a técnica lá mesmo. Toca também no Projeto Guri, onde aprendeu percussão. “Sou tímido e estou nervoso por tocar aqui, gosto mesmo é de fazer o ritmo e pôr as letras. Mas vou ter que enfrentar, no final o resultado vai valer a pena.”

Guilherme Astolfi, gerente de Arte e Cultura da Fundação Casa, avalia que as atividades relacionadas à arte e ao esporte são as que produzem resultados mais imediatos entre os internos e cita como exemplo o sucesso do Projeto Guri. “É preciso levar os garotos a descobrir a própria aptidão e dar um choque cultural neles. No esporte, por exemplo, ele percebe que tem o dom quando vê os resultados... é superação.”. Astolfi explica que a Fundação tenta traçar o perfil de cada adolescente, por meio do Plano Individual de Atendimento (PIA), que identifica, por exemplo, em que grau de alfabetização se encontra cada um. Nesse estudo, são identificadas quais as habilidades do garoto, sua dificuldades, e diante disso, quais as ações a serem propostas para sanar as dificuldades e potencializar as habilidades.”

Retorno positivo – Astolfi lembra que a inclusão desses jovens em atividades culturais, entre outras medidas, tem reduzido as taxas de rebeliões e reincidências na Fundação. Conta que, recentemente, numa seleção de ONGs pra prestar atendimento de arte e cultura por meio de convênios, a Fundação recebeu como representante da ONG Religare o ex-interno Peterson Xavier. “Foi um momento muito gratificante para nós e que servirá de exemplo para os outros garotos”.

Programação

Esta é a terceira edição da Bienal Internacional do Livro que conta com a presença de funcionários e adolescentes da Fundação. O estande da Casa está localizado na rua N, entre as avenidas 3 e 4 do Anhembi. A programação cultural segue até o final da Bienal. Confira:Terça-feira – 19/8

11h30 – Capoeira Maculelê

14h00 – Xadrez/SkateQuarta-feira – 20/8

11h30 – Canto Coral

12h00 – Teatro – Nunca deixe de Sonhar

14h00 – Xadrez/Skate

15h30 – Street com Teatro

16h – Canto CoralQuinta-feira - 21-8

11h30 – Danças Circulares

14 horas – Xadrez/Skate

15h30 – Dança AfroSexta-feira – 22

11h30 – Oficina de Máscaras africanas

14 horas – Xadrez/Skate

15h30 – Oficina DST/AIDSSábado – 23-8

11h30 – Poesias e relatos autobiográficos

14 horas – Xadrez/Skate

15h30 – Projeto Guri – violão e cavacoDomingo - 24/8

11h30 – Projeto Guri – Percussão

12 horas – Teatro – Cem anos de Machado de Assis

14 horas – Jogo de xadrez

15h30 – Teatro – Ontem hoje e sempre

Roseane Barreiros, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



08/19/2008


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