Luta contra as drogas depende de 'ocupação de espaços', dizem debatedores



No enfrentamento às drogas, o país precisa ocupar espaços físicos, e também simbólicos, surgidos com a ausência de serviços e políticas públicas, inclusive ações específicas para a juventude. Em síntese, esse foi o recado deixado por Manoel Soares, coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) no Rio Grande do Sul, em audiência pública realizada nesta quinta-feira (7).

A audiência foi realizada por subcomissão temporária subordinada à Comissão de Assuntos Sociais (CAS), criada com a finalidade de analisar políticas sociais para dependentes químicos de álcool, crack e outras drogas. Outro convidado do campo das entidades sociais foi Célio Luiz Barbosa, da Fazenda da Paz, comunidade terapêutica que funciona há onze anos no Piauí.

Os dois expositores exibiram na audiência vídeos sobre atividades das entidades de que participam. O documentário da Cufa mostrou um dia de atividades esportivas e culturais realizadas nos últimos tempos sob viaduto em Porto Alegre (RS). O local foi por anos espaço de tráfico e uso de drogas e também de prostituição.

Manoel Soares disse que a Cufa atua com "obsessão" para ocupar aqueles "espaços vazios". Sem alternativas de atividades nesses locais, conforme explicou, os jovens se tornam alvos fáceis do tráfico, como usuários ou agentes do comércio. Também disse que a entidade trabalha com tecnologias, expressões de arte e linguagens que facilitam a aproximação com os jovens. Outro diferencial seria a agilidade em mudar as abordagens diante das rápidas alterações nos ambientes das drogas.

- Enquanto estamos aqui discutindo o crack, Brasília agora enfrenta a 'Oxi' - comentou Soares, citando novo tipo de droga disseminada na capital do país.

Do vício à ação

De Belo Horizonte, Célio Barbosa abriu seu depoimento relatando como deixou o vício e a condição de um dos maiores traficantes de maconha da capital mineira nos anos 80, quando conhecido como "Celinho Caixão". Embora nascido em família acolhedora, ele reconheceu que lhe faltou exatamente oportunidade de inserção em espaços sociais que lhe permitissem dar vazão às inquietações da juventude.

Depois de traumas e dores familiares, disse que conseguiu se livrar da dependência. Já no Piauí, participou da estruturação da Fazenda da Paz, que já atendeu 10 mil pessoas desde 1996. Segundo ele, a taxa de êxito na reinserção é superior a 40%.

Célio Barbosa lembrou que 10% de toda a população são de dependentes de algum tipo de droga. Para ele, não haverá saída para o problema sem um esforço conjugado de governo, organizações sociais e outras segmentos. O expositor destacou a importância das comunidades terapêuticas e criticou a falta de reconhecimento de seus serviços por parte dos órgãos de governo.

- O trabalho nesse campo é desafiador. O governo não vai fazer sozinho, a sociedade civil e as igrejas também não. Se não houver união de todos, vamos fracassar - afirmou.

Quanto aos fundamentos do trabalho na Fazenda da Paz, o expositor esclareceu que envolve conscientização, disciplina, trabalho profissionalizante e a espiritualização. Para Célio Barbosa, o aspecto espiritual é importante para a reestruturação do indivíduo. No entanto, disse existir preconceitos quanto a isso por parte dos médicos psiquiatras.



07/04/2011

Agência Senado


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