Moradores das zonas norte e sul ganham córregos limpos e mais qualidade de vida



Comunidades passam a conservar e a cuidar melhor dos espaços públicos

Fazer com que os paulistanos resgatem o gosto pelo lugar onde moram e passem a aproveitar o retorno da natureza, por meio da recuperação do meio ambiente urbano, desfrutando assim de melhor qualidade de vida. Esse é o objetivo do Programa Córrego Limpo, desenvolvido pelo Governo do Estado, por meio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e em parceria com a prefeitura paulista, que há um ano trabalha pela limpeza dos córregos degradados da cidade.

O processo de despoluição altera para melhor o dia-a-dia das pessoas, que passam a conservar e a cuidar dos espaços públicos, ao perceberem que peixes retornam aos córregos e até garças começam a fazer parte do cenário da região. Em Santana, onde se localiza o córrego Tenente Rocha – último entregue completamente limpo à comunidade –, moradores que costumavam utilizar a pista de caminhada da Avenida Braz Leme passaram a fazê-lo ao redor do córrego.

Para o presidente da associação de moradores do bairro, o administrador Rinaldo Félix, o mais impressionante é observar o retorno da vida ao riacho. A água voltou a seu estado líquido e passou a ser “freqüentada” por peixes, pássaros e teiús (espécie de lagarto), animais que se alimentam de mosquitos e pernilongos, contribuindo para o equilíbrio ecológico da região. “Antes, ratos caminhavam sobre a água sem afundar, e o mau cheiro, principalmente em dias quentes, podia ser sentido por moradores do 10º andar”, recorda. Na entrada do córrego, uma moradora fixou plaquinhas de orientação aos vizinhos que costumam caminhar com seus cães, para que continuem a recolher as fezes de seus animais em saquinhos plásticos, mas que não os joguem no riacho.

Redistribuição de renda

O diretor metropolitano Sabesp, Paulo Massato, acredita que, além de proporcionar bem-estar e melhorar a qualidade de vida, o programa promove verdadeira redistribuição de renda, porque os imóveis recuperam seus valores originais, já que a proximidade de um rio ou córrego poluído e malcheiroso costuma derrubar os preços e a procura por residências. De acordo com Félix, de Santana, nos últimos anos, muitos moradores antigos acabaram se mudando para regiões onde pudessem respirar um ar menos poluído.

Massato explica que a contaminação de um córrego se dá, entre outros fatores, pela ligação incorreta da rede de esgotos à saída de água das chuvas, ocasionando refluxos e inundações internas. “No passado, e até mesmo nos dias de hoje”, afirma, “quando havia um rompimento numa galeria, era comum a manutenção ser feita de forma incorreta e nem sempre a Sabesp era informada de que a rede de esgoto havia sido rompida”. Isso, porque, segundo Massato, no subsolo existe uma verdadeira “disputa pelo espaço”, entre tubulações de água e de esgoto, cabos das redes elétricas e de TV por assinatura, fibras ópticas para Internet de banda larga, etc.

De pneus a móveis usados

Mas não é só isso que provoca a contaminação de um córrego. Nos serviços de desobstrução das tubulações domésticas de esgotos são encontrados absorventes, fraldas descartáveis, papel higiênico, pontas de cigarro e restos de alimentos. Quando chove, são levados para os cursos d’água areia, poeira, material resultante do desgaste dos pneus no asfalto, o lixo jogado na rua e até um simples chiclete ou papel de bala.

Os córregos são afluentes dos grandes rios metropolitanos – Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Em São Paulo, nesses locais são encontrados desde garrafas Pet e pneus até colchões e móveis usados. A poluição dessas áreas normalmente afeta outros cursos d' água, bem como a bacia hidrográfica inteira. A sujeira acumulada provoca mau cheiro, atrai ratos, baratas, transmite doenças, e ainda causa inundações em época de chuvas.

A despoluição do córrego Tenente Rocha – de dois quilômetros de extensão – ocorreu por meio da execução de 330 metros de redes, pelo redimensionamento da estação elevatória de esgotos, pela projeção de dois mil metros de coletores-tronco e interceptores e, ainda, por meio de 15 interligações de redes, que serviram para eliminar extravasamentos em galerias de águas pluviais. A subprefeitura de Santana limpou o leito e as margens, além de notificar 135 imóveis que estavam com as ligações de esgotos irregulares.

Trabalho conjunto

“A parceria com as prefeituras e subprefeituras é muito importante porque boa parte das ligações erradas acontece em ocupações irregulares”, afirma Massato. Durante o processo de despoluição de um riacho, a Sabesp detecta os locais onde há irregularidades no esgoto, e a prefeitura se encarrega da limpeza dos córregos, transferindo moradores em caso de ocupação irregular. “O trabalho é grande: detectar onde estão as irregularidades, quebrar o asfalto, localizar o estrago e corrigir”, acrescenta Massato.

A participação da população, segundo o analista de serviços da Sabesp, Gilmar Massone, é indispensável, já que quando um córrego é entregue limpo à comunidade, inicia-se um processo de monitoramento e manutenção da despoluição. “Fazemos acompanhamento quinzenal por meio da coleta de amostras da água enviadas à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) para avaliação do nível de poluentes”.

Massone, que atuou no processo de limpeza dos córregos Carandiru, Carajás, Tenente Rocha, Fiat Lux, entre outros, acredita na eficácia de uma ação conjunta entre o governo do Estado e a prefeitura em campanhas de educação ambiental dirigidas ao esclarecimento da comunidade quanto à manutenção dos fundos de vale. “Muitas pessoas ainda não sabem que o lixo depositado no meio-fio ou um líquido jogado na boca-de-lobo vão direto para os cursos d’agua”, conclui.

Em um ano, seis córregos despoluídos

O Programa Córrego Limpo foi criado em março de 2007 com o objetivo de combater a degradação de córregos na cidade de São Paulo. Resultado de parceria entre o Governo do Estado, Sabesp e a prefeitura de São Paulo, prevê investimentos de R$ 200 milhões em 42 córregos, beneficiando 2,4 milhões de pessoas numa área de aproximadamente 204 quilômetros quadrados. Presume-se que as águas de 300 córregos da cidade estejam limpas num período de dez anos.

Em um ano, foram despoluídos, além do Tenente Rocha, outros cinco córregos: Ciclovia, Toronto, Charles de Gaulle, na zona norte, e Parque do Cordeiro e Invernada, na zona sul, beneficiando 70 mil pessoas. Outros, como Caxingui, José Araújo Ribeiro, Ipesp, Jaraguá/Vermelho e Pedra Branca, estão com os trabalhos praticamente finalizados e devem ser entregues despoluídos à população ainda no primeiro semestre deste ano. Também estão parcialmente concluídas as intervenções nos córregos Carandiru/Carajás e Sapateiro.

Roseane Barreiros
Agência Imprensa Oficial



04/06/2008


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