Morre, aos 95 anos, Nelson Mandela, o homem que derrotou o apartheid
Morreu nesta quinta-feira (5), em Johanesburgo, aos 95 anos, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela. O Senado deve aprovar nesta sexta-feira (6) voto de pesar e solidariedade ao povo sul-africano. Um dos maiores estadistas do século 20, Nelson Rolihlahla Mandela, nasceu na província de Mvezo, a 18 de julho de 1918. O pai, Henry Gadla, descendia de Thembu, chefe de um clã do povo Xhosa. O filho formou-se seguindo o respeito às tradições numa região agropastoril. “Sou do tempo que a criança era educada ouvindo as conversas dos mais velhos”, lembrou Mandela a um de seus entrevistadores.
Sua mãe, Nosekeni Fanny, era a terceira esposa de Gadla. Mandela, o quarto dos treze filhos. Aos 12 anos de idade, perdeu o pai. Seguindo os passos de sua mãe, estudou em uma escola missionária metodista.
Em 1939, ele foi um dos 50 negros da Universidade de Fort Hare, outra instituição cristã. Revoltou-se contra a segregação racial, envolveu-se na política estudantil e mudou-se para Johanesburgo. Como jovem estudante de Direito, Mandela aderiu decididamente aos movimentos pelo fim do Apartheid, o regime político sul-africano que privilegiava a minoria branca e negava direitos políticos, sociais e econômicos aos negros.
Em 1942, uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA). Comprometidos de início apenas com atos não violentos, Mandela e seus companheiros passaram a recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, em 21 de Março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros desarmados, matando 69 pessoas e ferindo 180. A subsequente ilegalidade do CNA e de outros grupos anti-apartheid também contribuiu decisivamente para a mudança do movimento contra a segregação racial.
Em 1961, Mandela passou a comandar o Umkhonto we Sizwe, braço armado do CNA, tendo coordenado uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo. Em agosto de 1962, foi preso e sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 12 de junho de 1964 foi sentenciado novamente, dessa vez a prisão perpétua, por planejar ações armadas e também conspiração para ajudar outros países a invadir a África do Sul - o que ele negou ter feito.
Na prisão, Mandela tornou-se o principal símbolo da luta contra o regime racista. Manifestações e cânticos pela sua libertação corriam o mundo. Mas o líder sul-africano só foi libertado em 1990, depois de 27 anos preso, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk. A libertação aconteceu no auge de uma grande campanha internacional nesse sentido. O CNA também foi tirado da ilegalidade.
Em 1990, já com a decadência do regime e a queda do violento presidente Pieter Botha, Mandela, então com 73 anos, assumiu a liderança da reconstrução da África do Sul. Ele governou o país de 1994 a 1999. Em 1993, com De Klerk, Mandela recebeu o Nobel da Paz, pelos esforços desenvolvidos no sentido de acabar com a segregação racial.
“Tenho lutado contra a dominação branca, mas não pela dominação negra. Tenho acolhido o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas vivam juntas, em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se necessário, é o ideal pelo qual estou preparado para morrer”, disse, ao ser liberto, discursando para uma multidão na Cidade do Cabo.
O homem de modos elegantes que ficou quase três décadas preso, sob dura vigilância, não foi quebrado pelo regime racista. Mandela não perdeu a mente nem a alma. Saiu para a liberdade não com o rancor que seria esperado, mas com a consciência de que era preciso evitar um banho de sangue e a fragmentação do país. Para surpresa de muitos, ele estava preparado para governar a África do Sul como uma voz sábia, pela liberdade e pela justiça. Mandela se ergueu então como um dos grandes personagens do século 20. E do mesmo modo como começou, pregando a não violência, Mandela foi capaz de liderar a África do Sul no difícil caminho para fora da segregação racial.
Em seu governo, para unir o país, instituiu as comissões da verdade e da reconciliação, que investigaram as atrocidades cometidas não só pelo regime do Apartheid, mas também pelos grupos que lutavam contra o governo. A condição para alguém ter os crimes anistiados era a de confessá-los às comissões, que tinham audiências públicas. Assim, revelando a verdade, o país ia se curando de muitos anos de profunda injustiça e violência.
Apesar da popularidade, do respeito internacional e da boa condição de saúde, o líder sul-africano não quis perpetuar-se no poder, novamente dando um exemplo ao mundo. Mandela governou por apenas quatro anos, traçando o rumo para o país, que ainda hoje enfrenta enormes desafios socioeconômicos, com alto índice de desigualdade.
Mandela esteve no Brasil em 1991 e em 1998, quando visitou o Senado Federal. Em Junho de 2004, aos 85 anos, Mandela anunciou que se retiraria da vida pública. Fez uma exceção, no entanto, por seu compromisso em lutar contra a Aids. Desde então tem recebido sucessivas e importantes homenagens.
Mandela casou-se três vezes. A primeira esposa de Mandela foi Evelyn Ntoko Mase, da qual se divorciou em 1957 após 13 anos de casamento. Depois casou-se com Winnie Madikizela, e com ela ficou 38 anos, divorciando-se em 1996. No seu 80º aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano e aliado do CNA.
05/12/2013
Agência Senado
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