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Pessoas de todas as idades aprendem a produzir bonecões de três metros para o Carnaval

Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar? Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão! O que vou fazer? Bebendo até cair? Me dá, me dá, me dá (oi)! Me dá um dinheiro aí!”. “Me dá um dinheiro aí” é uma das diversas marchinhas de carnaval que inspiram pessoas de todas as idades a produzir artesanalmente bonecos de rua, coloridos, de três metros de altura, semelhantes aos de Olinda, em Pernambuco. Parece até a descrição do folclore nordestino, porém a tradicional manifestação da cultura popular daquela região, presente em muitas cidades paulistas, chega agora à capital, São Paulo.

No carnaval deste ano haverá desfile de bonecões com seus criadores, nas imediações do Museu da Língua Portuguesa, na Estação Luz do Metrô, dia 2 de fevereiro, sábado. O público paulistano conhecerá um pouco do tradicional folclore brasileiro, quase desconhecido nos grandes centros urbanos.

As aulas do curso Bonecos de rua para o Carnaval 2008 começaram dia 8 de janeiro e seguem até o dia 29, terça-feira. A princípio eram 20 vagas. A procura foi tanta que a artista plástica Regina Rodrigues e sua parceira, a professora Neide Rodrigues Gomes, experiente folclorista (há 53 anos na área), precisaram oferecer mais 15 lugares.

A maranhense Iracelia Carvalho Ribeiro é técnica em Nutrição e mora na cidade há sete anos. “Fiquei louca quando soube da abertura de inscrições para esse curso”, diz a mulher para enfatizar sua paixão pelo folclore brasileiro.  

Coco e fita – Iracelia, também formada em Turismo, conta que em sua terra natal residia no bairro Madre de Deus, onde fervilham manifestações culturais: bumba-meu-boi, dança do coco, da fita, quadrilha e outras. “Eu participava de tudo. Mas aqui, como não conheço muita gente, quase não saio de casa e é tudo longe, não me animava para pular carnaval”, conta.

Ela tinha curiosidade para saber como são feitos os bonecos de rua: “É muito interessante! Não imaginava que a base levasse arame e bambu”. Com tela de pinteiro, bambu e arames, diz que aprendeu a moldar a estrutura do boneco. “Essa parte é chatinha. Se não tiver cuidado, machuca a pele”, alerta.

A próxima etapa assegura que “tira de letra”: “É só colar recortes de jornal sobre o suporte utilizando cola branca dissolvida na água, para o adesivo ficar mais resistente”.

Iracelia só lamenta o tempo curto do curso, 16 horas. Seu sonho é voltar à sua cidade natal (ainda não sabe quando) e ensinar essa técnica às crianças. 

Na primeira aula, a professora Neide, presidente da Comissão Paulista de Folclore, fez uma breve explanação sobre a história do carnaval brasileiro, que nasceu por influência do carnaval urbano do século 11, da Idade Média, na Europa. Nos demais dias, Neide e Regina ensinam as técnicas para se produzir um bonecão. 

Boi-bumbá – No treinamento do dia 22, terça-feira, os alunos tinham terminado a base. Agora, usavam a tesoura, espuma, tinta e outros materiais para criar as feições do boneco. As primas Karoline dos Santos e Ana Beatriz dos Santos Heleno Felix , ambas de 12 anos e estudantes da 7ª série, moram na Freguesia do Ó, zona oeste da cidade, e escolheram a estampa do tecido para a roupa da Nega Maluca.

“Estou ansiosa para terminar logo e desfilar com a boneca, porque nunca pulei carnaval de rua”, diz Karoline. “Antes só via essa brincadeira pela televisão. É muito legal estar aqui e poder modelar a cara da Nega Maluca. Também gostei de colar a base. É divertido!”, opina Ana Beatriz.

No curso, a artista plástica Regina Rodrigues faz de tudo um pouco: ensina a modelar os bonecos, costura as roupas e orienta os alunos. Há seis anos promove cursos de capacitação para professores e diretores de escolas, adolescentes e crianças dispostos a aprender como se faz o brinquedo que tanto agrada as pessoas.

A idéia de iniciar os treinamentos surgiu a partir de uma apresentação do Revelando São Paulo – programa da Secretaria de Estado da Cultura que incentiva manifestações culturais e folclóricas de São Paulo e que exibiu bonecos de rua. “Como já sabia fazer boi-bumbá, fantoche e teatro de bonecos, não foi difícil dominar as técnicas da produção dos bonecões”, revela.

“O povo perdeu a identidade e não sabe mais o que é carnaval, aquele das marchinhas. Quando desfilo na rua com os bonecos sinto uma felicidade enorme! Dá até vontade de chorar!”, conta Regina, que tenta inspirar o mesmo sentimento nos alunos.

Naaula de 22 de janeiro, quarta-feira, a presença inusitada da carnavalesca Maria Apparecida Urbano, comentarista da Rádio Jovem Pan, estimulou ainda mais os alunos a fazerem o melhor. Entre os participantes, ela sorteou um exemplar do seu livro mais recente: Carnaval & Samba em evolução na cidade de São Paulo (Editora Plêiade). “Está muito bonito!”, avalia Maria Apparecida, 70 anos, folclorista e atuante no carnaval há 34 anos. 

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial 



01/25/2008


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