Naruhito é recebido pelo governador no Palácio dos Bandeirantes



Evento é parte das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

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Neste sábado, 21, o governador José Serra recebeu o príncipe Naruhito, do Japão, em jantar na sede do Governo do Estado. Na ocasião, o governador presenteou o herdeiro do trono japonês com uma viola fabricada no interior paulista. Para cuidar de cada detalhe do encontro, que é parte das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, o cerimonial do Palácio dos Bandeirantes começou a trabalhar há seis meses.

“Foram 781 os imigrantes do Kasato Maru em 1908. Este número hoje chega a 1,5 milhão de pessoas” observou o governador José Serra referindo-se à comunidade japonesa no Brasil. “O trabalho, a inteligência e a persistência dos japoneses”, completou Serra, “acrescentaram à sociedade brasileira um inestimável patrimônio artístico, científico, econômico e esportivo”. O governador lembrou que o judô, ensinado pelos japoneses, rendeu ao país 12 medalhas olímpicas, sendo duas de ouro.

O governador disse que o Brasil é o sétimo maior parceiro comercial do Japão no mundo e é também o destino de quase 50% de seus investimentos na América Latina. “Um elo econômico importante entre o Japão e São Paulo é o papel do Banco de Desenvolvimento e Cooperação Japonês. O banco está desempenhando um importante papel em financiamento de obras, trens, sistemas de metrô e de transporte ferroviário na região da Grande São Paulo”, destacou Serra.

Para o governador, o JBIC, como é conhecido o banco, tem sido um parceiro fundamental em obras para o desenvolvimento do Estado, como a despoluição e o aprofundamento da calha do rio Tietê e o programa de recuperação ambiental da Baixada Santista. Ao encerrar seu discurso, o governador propôs um brinde em homenagem ao príncipe.

Naruhito disse que “São Paulo é o memorável estado onde a relação amistosa entre o Japão e o Brasil teve início” há 100 anos e que o Estado vem desempenhando um importante papel de ponte entre os dois países até hoje.

Ao comentar que esta era sua última noite na capital paulista, Naruhito citou algumas das passagens memoráveis pela cidade, como a apresentação da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), o encontro com estudantes da Faculdade de Direito da USP, e a visita à escola estadual Cidade de Hiroshima, onde conheceu o Projeto Viva Japão.

“Sem esquecer da gratidão pelos paulistas que acolheram calorosamente os imigrantes japoneses, desejo sinceramente que as relações intrínsecas entre o Japão e o Brasil se ampliem cada vez mais no futuro”, concluiu o príncipe.

Logo após o jantar, os cerca de 300 convidados foram presenteados com obras de Mozart e Villa Lobos executadas pelo Quarteto de Música Camargo Guarnieri com Elisa Fukuda. Surpreendendo os presentes, o príncipe quebrou o protocolo e tocou com uma viola do quarteto o primeiro movimento da Serenata Noturna de Mozart.

Protocolo rígido

O cuidado para receber a autoridade japonesa é percebido em cada detalhe: a mesa, o cardápio, os enfeites, o presente que será entregue e o preparo e a vestimenta da equipe do cerimonial.

“A cultura japonesa já é muito diferente da nossa e, nesse caso, trata-se do príncipe herdeiro, da família imperial. A Casa Imperial tem um protocolo muito específico dentro da etiqueta japonesa. Isso, para nós, é um universo muito diferente”, destacou a chefe do cerimonial do Governo do Estado, Claudia Mattarazzo.

A assessora do cerimonial Christine Starr lembrou que o jantar vem sendo planejado desde janeiro. “Não pudemos fazer nada sem consultar a Casa Imperial”, disse. De acordo com o protocolo japonês, o príncipe não toca nos presentes, tanto os que oferece quanto aqueles que recebe. O cerimonial do Estado conseguiu, depois de muita negociação, que o presente oferecido pelo governador fique exposto. O príncipe recebeu uma viola construída por jovens que participam de curso de luteria no Conservatório de Tatuí.

Além disso, o cerimonial teve de enviar à Casa Imperial currículos dos convidados que ficaram na mesa do príncipe e croquis de todo o percurso da visita. “Quando os responsáveis pelo preparo da vinda do príncipe, por parte da Casa Imperial, vinham ao Palácio, eles desenhavam tudo. Depois, pediam que mandássemos croquis”, contou Starr.

Foi preciso compor uma comissão para formar a lista dos convidados. Isso porque a comunidade japonesa em São Paulo é muito grande e os lugares para o jantar, limitados. A comissão foi formada por membros do cerimonial e da assessoria internacional do Governo do Estado, cerimonial da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil e consulado do Japão. “Até hoje, porém, recebemos telefonemas de pessoas interessadas em participar do jantar ou reclamando o não recebimento de convites”, disse Starr.

Curso de etiqueta

Para preparar a equipe, Mattarazzo decidiu contratar uma professora de etiqueta japonesa. “Não viramos especialistas em cultura japonesa, mas conseguimos entender o conceito, porque é tão diferente e o que esperar”, comentou a chefe do cerimonial.

Micaela Marcovici, assessora do cerimonial, estava entre os participantes. Apesar da origem romena e educação francesa, Micaela conhecia algumas particularidades da cultura japonesa. “Sempre me interessei, mas descobri muitas coisas sobre os costumes japoneses no curso”, afirmou. Entre eles, a assessora cita a questão da vestimenta. “Para os japoneses, vestir tudo preto ou tudo branco significa luto. Veja só, aqui, tudo branco é usado pelas noivas. Lá é sinônimo de luto”, comparou.

O curso, que reuniu mais de 30 participantes, teve a duração de dois dias e foi ministrado por Lumi Toyoda, que costuma treinar executivos e empresários que visitam o Japão em viagens de negócios, com o objetivo de facilitar o relacionamento.

Tal preparo evitou que pelo menos uma gafe fosse cometida. A equipe do cerimonial, que se vestirá de preto, teria uma camélia na lapela para quebrar a cor única. “A camélia é uma flor que, quando murcha, cai inteira do galho, em vez de cair pétala por pétala. Para os japoneses isso significa ‘cortar a cabeça’, por isso, eles não gostam de oferecer camélias como presente”, explicou Toyoda. Foi o suficiente para o cerimonial se decidir por uma flor de cerejeira, símbolo do Japão, que tem cor levemente rosada e foi confeccionada em tecido para enfeitar as lapelas da equipe.

Linguagem do gesto

No curso, além dos costumes e da estrutura da sociedade japonesa, Toyoda trabalhou aquilo que chama de linguagem de auto-contexto, uma forma de comunicação que não se utiliza da fala. “Se existem dois povos que usam muito a linguagem de auto-contexto são os brasileiros e os japoneses, porém, de formas opostas. Os japoneses são muito recatados, de gestos contidos. Já os brasileiros são espalhafatosos, gesticulam muito, falam alto e têm gesto corporal bastante expandido”, disse.

Essa diferença torna-se crítica quando o trabalho é receber um membro da Família Imperial. O rigoroso protocolo não permite, por exemplo, olhar nos olhos ou encarar um pouco mais demoradamente o príncipe. Tocar, ouvir a conversa, ou mesmo chegar perto de um integrante da família imperial também é proibido.

A pontualidade é outro ponto importante. “No Brasil, as pessoas se atrasam por excelência. No Japão, o atraso é considerado falha de caráter”, apontou Mattarazzo. Ela ressaltou que, por mais que a sociedade japonesa tenha se modernizado, é preciso se ater à tradição quando se trata de uma autoridade desse gabarito.

Até a mesa em que o príncipe se sentará no jantar precisou ser encomendada especialmente para a ocasião. Ela tem 6 metros de comprimento e dois de largura. Isso porque não é permitido ficar muito próximo da autoridade japonesa.

A decoração

A decoração também foi pensada em cada detalhe. A mesa do prí ncipe, com 20 lugares, terá toalha branca e guardanapos vermelhos, cores da bandeira japonesa. Já as outras 40 mesas, com oito lugares cada, terão toalhas vermelhas e brancas, com guardanapos em branco e preto, cores da bandeira do Estado de São Paulo.

Os guardanapos, confeccionados especialmente para o evento, foram decorados com fachadas famosas de São Paulo, como o Masp, o Edifício Copan e outros.

Também estará instalado no hall nobre um arranjo feito com 148 Tsurus (dobradura no formato de um grou, ave sagrada para o povo japonês, considerada símbolo de sorte, paz, felicida

06/21/2008


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