O desafio de construir a marca do PT







O desafio de construir a marca do PT
José Nivaldo, marqueteiro de João Paulo, diz que prefeito terá cara diferente dos que o antecederam

A cara do Governo João Paulo vai começar a definir-se nos próximos seis meses, e será diferente daquela dos prefeitos que o antecederam, como Jarbas Vasconcelos, Joaquim Francisco e Roberto Magalhães. A garantia é do publicitário José Nivaldo Júnior, encarregado - desde a semana passada - de cuidar do marketing da Prefeitura. José Nivaldo já vinha trabalhando para a Prefeitura, mas cuidando apenas dos filmes comerciais e spots para as rádios.

Seu trabalho, agora, terá outra dimensão: embora o discurso oficial não admita isso, ele terá a responsabilidade de tentar os índices de queda que o prefeito João Paulo vem obtendo nas últimas pesquisas. "Nossa intenção é conseguir uma melhoria dos índices de aprovação nos próximos seis meses", diz ele, em entrevista concedida em sua agência de publicidade, a Makplan. "Mas sem que isso seja uma obsessão. É um objetivo a ser perseguido, mas não pode ser a prioridade da gestão".

A Prefeitura do Recife, dada a importância da cidade, é uma das vitrines que o PT nacional pretende utilizar nas eleições deste ano - mas, no caso de a gestão sair-se mal, a oposição é que vai utilizar-se disso. Com perspectivas de lançar candidato a governador, é fundamental para o PT que João Paulo passa a imagem de que o "modo petista de governar" é eficiente. Nesse sentido, não basta fazer, mas mostrar - e bem, a ponto de convencer a população - o que se fez. É aí que entrará o marketing.

Neste primeiro semestre João Paulo deve dar início a uma série de obras (os números iniciais falam que são 55). Ao discurso de "prioridade para o social", que tem sido o principal mote da administração, se combinará também o de executor de obras (como o da duplicação da avenida Caxangá) e o de bom zelador da cidade (já está em curso um programa para deixar o centro "um brinco", conforme expressão de José Nivaldo). Para as administrações anteriores, as obras e o cuidado com a conservação da cidade eram o modelo de eficiência buscado; para a gestão petista,segundo explica José Nivaldo Júnior, apenas isso não basta. É preciso inverter as prioridades, diz o discurso petista. Entre os morros e a avenida Boa Viagem, a prioridade terá que ser dada aos primeiros. "Temos o desafio de quebrar os velhos paradigmas do que é uma gestão eficiente", defende o publicitário.

José Nivaldo não vê nenhuma necessidade de haver mudanças no estilo de João Paulo. "O prefeito é um marqueteiro nato. Tem uma percepção que faz com que nenhum marqueteiro seja mais ágil do que ele na filtragem dos fatos do dia-a-dia", considera. Mas e a imagem de que o prefeito, como de resto as administrações petistas em geral, gastam muito tempo com reuniões? "João Paulo passa grande parte da vida dele em reunião, digamos, mas mesmo assim fez mais casas no primeiro ano do que Roberto Magalhães", compara José Nivaldo.


A via ideológica de Jungmann
Ministro do Desenvolvimento Agrário se lança candidato a presidente em uma ação para evitar que o PFL assuma o comando da aliança governista e do País pelas mãos de Roseana Sarney

O mais novo presidenciável da campanha, Raul Jungmann (PMDB), ministro do Desenvolvimento Agrário, veio para desagradar o PFL, segurar o PMDB e bagunçar a aliança tácita que esses dois partidos estavam alinhavando em torno da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Para criar um espaço na opinião pública, Jungmann lançou um debate ideológico para impedir "as forças conservadoras" oriundas do regime militar de fazer o País retroceder nas reformas desenvolvidas em 8 anos de hegemonia de centro-esquerda, ou do centro democrático, como ele define o PMDB e o PSDB.

"Eu não sou anti-PFL", pondera. Em seguida, complementa: "Minhas razões são de ordem política. O centro democrático estava caindo numa armadilha, a de mudar o rumo da aliança. Me lancei para me contrapor e disputar esse espaço de debate". Segundo o ministro, ninguém falou claramente sobre o retrocesso que significa a candidatura Roseana Sarney. Nem mesmo o presidenciável do PT, Luis Inácio Lula da Silva. Jungmann diz que o conjunto de apoios quepressupõe uma candidatura presidencial é questão de tempo para ele.

Afirma contar com o do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), reconhecendo que ele tem limites por administrar uma aliança ampla e complicada com a Frente Liberal. Muito próximo da elite do PSDB, leia-se do presidente Fernando Henrique Cardoso e do candidato dele, José Serra (ministro da Saúde), Jungmann insiste em negar que está exercendo um papel numa jogada combinada com o Palácio do Planalto. "Minha candidatura é para valer", salienta, assegurando não ter interesse nenhum em se compor como vice de Serra mais na frente.

INTERESSES - Para alguns observadores, o sonho de Jungmann é cravar essa candidatura. "Se o conjunto do centro democrático escolher um candidato, seja ele quem for, eu terei atingido meu objetivo", observa o próprio Jungmann. De acordo com fontes governistas, Jungmann só sai candidato a deputado federal se não der para realizar o sonho de ser vice. De uma maneira ou de outra, todos concordam que vai sobrar no mínimo muitamídia para o ministro, uma das coisas que ele mais gosta e sabe fazer.

Na semana passada, Jungmann ganhou destaque nacional e local, principalmente em Brasília, com o conturbado anúncio de que vai disputar as prévias do PMDB. Também chamou atenção fazendo um balanço da sua performance no Ministério do Desenvolvimento Agrário em cadeia nacional de rádio e televisão. Mas tudo pode acontecer até 26 de março, dia marcado para as prévias do PMDB. De antemão, Jungmann avisa: for vetado no PMDB, percorrerá o País como o anti-candidato, seguindo o exemplo do deputado federal Ulisses Guimarães (falecido).

Em Pernambuco, a atitude do ministro causou irritação. Alguns chegam a ridicularizá-lo. Para o deputado estadual Pedro Eurico (PSDB), "Raul Jungmann está como Pilatos no credo. Ninguém consegue descobrir suas razões. É E.T. Está mais para filme ficção de Steven Spibelrg", observa.

Roseana Sarney

A governadora do Maranhão é uma pessoa bastante admirada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, conforme ele faz questão de assegurar. "Não sou anti-PFL e muito menos anti-Roseana. Eu tenho uma boa relação com ela, muito respeito e um carinho pessoal", destaca Jungmann, citando o ex-ministro Gustavo Krause e o vice-presidente Marco Maciel como pessoas quer "muito bem".

José Serra

Jungmann nega estar jogando a favor de o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), candidato preferencial de FHC. Salienta que se for preciso, está pronto para disputar com ele ou com qualquer outro. "Agora, se o conjunto do centro democrático escolher um candidato, seja ele quem for, eu terei atingido o meu objetivo", ressalva o ministro do Desenvolvimento Agrário.

Lula

O lançamento da candidatura de Raul Jungmann também estaria ligado ao fato de que o PT se interessa neste momento pelo crescimento de Roseana Sarney, "porque acham que no final ganham dela". O ministro do Desenvolvimento Agrário estaria ocupando esse vácuo para impedir que o País retroceda nas reformas feitas em 8 anos de uma hegemonia de centro-esquerda.


Aliança governista está ameaçada de extinção
Integrantes prevêem o fim da parceria entre PMDB/PSDB/PFL

Assunto antes tratado com reserva e apenas nos bastidores, o fim da aliança governista estadual já está sendo abordado às claras pelos seus principais integrantes. "A existência da aliança não é a razão de ser da política pernambucana", afirma o deputado federal Joaquim Francisco (PFL). "Ela é uma obra de engenharia muito bem feit a, sólida, que não se desmancha em função de alguns percalços, mas também o mundo não se acaba se ela não persistir", completa.

A discussão sobre o prazo de validade da aliança ganhou impulso a partir de declarações dadas pelo seu próprio comandante, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Na entrevista de final de ano ao DIARIO (publicada no dia 30 de dezembro passado), ele afirma que a aliança precisaria apenas de mais um mandato, "para cumprir o que prometeu". Ex-adversários, os hoje aliados elegeram o prefeito do Recife em 1996 (Roberto Magalhães) e o governador, dois anos depois. O sucesso eleitoral fez com que muitos dos seus integrantes previssem que a aliança duraria pelomenos 20 anos. Os fatos, porém, não ocorreram como os defensores desse prazo desejavam.

O principal revés aconteceu nas eleições municipais de 2000, com a inesperada vitória do petista João Paulo para a Prefeitura do Recife. Na estratégia aliancista, segundo alguns políticos governistas ouvidos pelo DIARIO, contava-se com a releição de Roberto Magalhães para que, dois anos depois, fosse ele o candidato a governador. O seu vice, Sérgio Guerra (PSDB), assumiria a prefeitura. Jarbas Vasconcelos, então, poderia disputar o mandato que seu coração deseja: o de senador.

Na impossibilidade dessa composição, Jarbas está sendo forçado a disputar a reeleição, para não colocar em risco a própria aliança. Na hipótese de ele não sair, os aliados teriam que escolher um outro candidato - e como não existe nenhum nome que obtenha o consenso de todas as forças governistas, a possibilidade de uma fragmentação seria grande. "Se ele não sair vamos ter problemas", reconhece o deputado federal José Múcio (PSDB), outro que vê para a aliança a necessidade de mais um mandato. Já há quem projete estes "problemas" para daqui a dois anos, quando se escolherá o candidato à sucessão de João Paulo. "Jarbas hoje é o candidato natural ao Governo, mas nós não temos um candidato natural para prefeito do Recife. Nas condições atuais, qualquer nome provoca restrições de outras forças", analisa um parlamentar governista.

"Mas, mesmo que a aliança se desmanche, já podemos dizer que valeu a pena tê-la construído", ressalta José Múcio. Ao imaginar um cenário pós-aliança, ele avalia que algumas forças podem afastar-se mas outras "podem rearrumar-se". Não menciona quais forças estariam "afastadas" ou "rearrumadas", mas um cenário hoje no centro das especulações no meio político pernambucano vê Jarbas e o PMDB aliados com o PSDB de Sérgio Guerra. Esse bloco tentaria ainda atrair Roberto Freire e o PPS, adquirindo assim uma feição de centro-esquerda - característica impossível de ser atingida com uma composição que, por exemplo, inclua o PFL. Sintomaticamente, Jarbas e Sérgio Guerra têm feito críticas não diretamente endereçadas a pessoas, mas que desabam no território pefelista.

A principal delas é contra os "grupos políticos", considerados "um atraso" pelo governador. Dos três principais partidos da aliança, só no PFL é que existem estes grupos: o macielista (dos seguidores de Marco Maciel), o mendoncista (comandado pelo deputado federal José Mendonça, pai do vice-governador, José Mendonça Filho) e, com muito menos poder de fogo, o da família Coelho, em Petrolina (liderado pelo deputado federal Oswaldo Coelho).


FHC vitalício
Congressistas se preparam para discutir e votar proposta de emenda constitucional do presidente nacional do PTB

BRASÍLIA - Depois de ter sido beneficiado com a aprovação da emenda da reeleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso poderá ganhar de presente mais uma mudança na Constituição. Em fevereiro, começa a tramitar no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que outorga aos ex-presidentes da República o cargo de senadores vitalícios. Se a emenda for aprovada, Fernando Henrique pode se tornar o primeiro senador vitalício da República, cargo extinto com o Império.

O autor da proposta é o presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), que está otimista em relação à aprovação do seu projeto. "Consegui 300 assinaturas em dois dias. Acho que este projeto pode ser aprovado ainda neste ano", estimou. A proposição já está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) à espera da indicação de um relator.

Para Martinez, um presidente que ficou oito anos no cargo não pode depender de empregos na iniciativa privada ou viver de fazer palestras. "Ele tem conhecimento profundo do País e conhece o lobby do mundo", disse. O deputado alega ainda que a transferência imediata para o Senado também evitará que ex-presidentes sejam julgados em qualquer tribunal por juízes de primeira instância.

De acordo com a emenda apresentada por Martinez, o presidente que se tornar senador vitalício não terá direito a voto. Portanto, os Estados não perderiam espaço dentro do Senado e manteriam o número de cadeiras representativas na Casa. Mas a mudança constitucional não valerá, por exemplo, o para ex-presidente Fernando Collor de Melo.

O deputado disse que vai pedir que a CCJ faça uma modificação no texto da emenda para que apenas os presidentes que terminarem o mandato tenham direito a se tornar senadores vitalícios. Curiosamente, Martinez presidiu o PRN, partido pelo qual Collor foi eleito presidente em 1989.

OPOSIÇÃO - Os argumentos do Martinez de que a transformação de presidentes em senadores vitalícios são bons para a democracia não convencem o cientista político Walder de Góes. "Essa mudança é negativa. Não é bom para a democracia existir uma outra maneira de escolher representantes do povo que não seja o voto direto", argumentou.

Ele destacou que um nova mudança que beneficie diretamente FHC poderá colocar seus aliados em um dilema ético. "Seria uma espécie de terceiro mandato. Será que os candidatos à presidência concordam com isso?", questionou. O cientista político lembrou que o cargo de senador vitalício foi criado no Chile depois que o general Augusto Pinochet articulou pessoalmente a mudança na Constituição.

"Não se pode comparar FHC com Pinochet, mas esta mudança pode ser ruim para a imagem do presidente", analisou. Um arranjo parecido com o que foi feito no Chile seria "arcaico" e "inadequado" na avaliação de Walder de Góes. Para ele, o mais adequado seria que os ex-presidentes se candidatassem ao Senado.

"Não dá para gastar muito tempo com isso. Temos outras prioridades, como a reforma política. Não dá para fazer picadinho de reforma como foi feito no caso da reeleição", criticou o deputado José Genoíno (PT-SP). Para Genoíno, não há risco desta emenda vingar no Congresso porque a Constituição veda a existência de cargos vitalícios. "A Constituição é bem clara ao dizer que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. Como não tem efeito retroativo, os ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney não serão beneficiados.

O relator da Comissão Especial da Reforma Política, João Almeida (PSDB-BA), concorda com a emenda. "É uma proposta interessante porque não temos, aqui no Brasil, uma forma de proteger o cidadão que foi primeiro mandatário do País. O cargo de senador vitalício poderia, além disso, dar a oportunidade de ele continuar contribuindo para o País".


Código ainda gera polêmicas
Relação conjugal é uma delas

BRASÍLIA - Sancionado recentemente pelo presidente da República, após uma longa temporada para aprovação no Congresso, o novo Código Civil vai voltar à Câmara dos Deputados com a finalidade de ser atualizado.

O código está sendo revisto por uma comissão de juristas e professores universitários. As sugestões serão apresentadas pela relatoria da Câmara, este ano, na forma de lei e, se aprovadas, atualizarão o novo código.

Mas uma da s mudanças já provoca polêmica. É a que trata de punições para o marido ou a mulher que não cumprir com seus deveres conjugais. Um deles, é o de manter relações sexuais com o parceiro.

O psiquiatra Márcio Bernick, da Universidade de São Paulo, acha difícil que alguém seja punido. "Não acredito em punição por isso".

Ele desta que as principais queixas das mulheres são a falta de desejo e a dificuldade de orgasmo. E, dos homens, são a ejaculação precoce e a dificuldade de ereção. O psiquiatra indaga: "como a lei vai punir o marido ou a mulher por isso?".

Mas Bernick considera a decisão positiva, uma vez que vai permitir a discussão do assunto, hoje cada vez mais difundido entre os jovens.

Outra medida de atualização do novo código diz respeito à paternidade. Atualmente, o exame de DNA não é obrigatório e por isso muitos homens se negam a fazê-lo, o que prolonga as ações. A nova proposta permitirá ao juiz determinar a paternidade mesmo sem a confirmação genética. Basta ele apurar que a mãe tinha um relacionamento com o acusado na época da concepção e determinar a responsabilidade paternal.


Jarbas e Arraes discordam da vitaliciedade no Senado
Lideranças políticas do Estado rejeitam proposta de Martinez

As principais lideranças políticas de Pernambuco discordam da emenda constitucional que torna ex-presidente da República senador vitalício. Quem primeiro se manifestou contrário foi o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Procurado pelo Diario, antes das férias de 20 dias, Jarbas resumiu numa curta frase sua discordância: "Este é um tipo de idéia que não me entusisma".

Também se manifestaram contrários o presidente nacional do PSB, ex-governador Miguel Arraes, o ex-prefeito Roberto Magalhães (PSDB) e os senadores Roberto Freire (PPS) e Carlos Wilson Campos (PTB). O ex-governador Gustavo Krause (PFL), "em tese" se manifestou simpático à idéia. "Precisamos superar nosso complexo de inferioridade democrática e tratarmos desse assunto no bojo de uma ampla reforma política", afirmou. Mas ele fez um alerta: sendo aprovada, a emenda só valeria para o sucessor de FHC.

Arraes, através de fax, ironiza a proposta do presidente nacional do PTB, afirmando que ela "restabeleceria a figura do senador biônico em voga nostempos da ditatura". E lembra a conjuntura vivida pelo Chile no regime militar. Segundo ele, "sabe-se que foi proposta idêntica que resolveu a situação do general Pinochet". No final, o ex-governador apela para o Congresso Nacional não aprovar a emenda: "É claro que não se devia seguir tais exemplos".

O senador Carlos Wilson disse que a emenda "é casuística e inoportuna. Este problema da vitaliciedade para o Senado deveria ser incluído numa ampla reforma política e não numa emenda que pretende beneficiar diretamente Fernando Henrique". E complementando, desabafou: "Discordo desta iniciativa. Não vejo nenhum sentido em se querer presentear o atual presidente com mandato vitalício".

O ex-governador Gustavo Krause insistiu que a questão do senador vitalício não deve ser objeto de um projeto individual, mas fruto de uma ampla discussão. "Este senador não pode votar em plenário. Tem apenas a voz. Não se trata de nenhuma novidade, porque existe na Itália e na França, que, ao meu ver, são exemplos clássicos de democracia. Como nossa sociedade sofre de um complexo de inferioridade democrática, certos temas são encarados com reserva", concluiu.

BAJULAÇÃO - O senador Roberto Freire, não acredita que o deputado José Carlos Martinez pretenda bajular o presidente FHC com sua emenda. "Ele (Martinez) é uma pessoa bem intencionada". Apesar deste elogio explícito ao presidente nacional do PTB, Freire bateu firme na proposta: "Inoportuna, inócua e natimorta".

Na sua avaliação, depois da aprovação do fim da imunidade parlamentar para crimes comuns, deputados e senadores podem ser processados sem o prévio aval do Congresso Nacional. Basta disposição por parte do Supremo Tribunal Federal. "Se porventura FHC quiser ser mesmo senador, que se mude a lei de domicílio eleitoral, permitindo que ele possa se candidatar por qualquer Estado. A emenda é natimorta, porque não acredito em sua aprovação", fulminou.

Roberto Freite antecipou que na primeira oportunidade que tiver vai sugerir ao deputado paranaense que suspenda a tramitaçãoda emenda no Congresso Nacional. Ele admite que existe uma preocupação de poupar FHC quando ele deixar o poder, por causa de eventuais "denúncias de ilícitos".

Por sua vez, o ex-prefeito Roberto Magalhães (PSDB) confessou que não conhece "nenhum argumento de ordem jurídica e política" que o convença da "necessidade e oportunidade de criação do senador vitalício". Com voz pausada e bem entonada, Magalhães duvida que a emenda seja aprovada. "Acredito, inclusive, que haverá dificuldades constitucionais incontornáveis, como, por exemplo, a ausência de voto para a outorga do mandato", complementou.


Artigos

2001: vitória do fracasso
Cristovam Buarque

Como Hitler, que ficará como um dos nomes do Século XX, Osama bin Laden ficará como o nome que marcou o primeiro ano do Século XXI. Mas, diferentemente de Hitler, que fracassou derrotado pela democracia, Bin Laden fracassou aleijando definitivamente a democracia.
Seu ato louco tirou a vida de alguns milhares de inocentes e destruiu uma parte simbolicamente importante do patrimônio, sem nem ao menos arranhar o poder norte-americano. Na verdade, ele fracassou fragorosamente ao fazer os EUA ainda mais fortes do que antes. E ainda fracassou ao provar a destruição de sua milícia e do regime Talibã, que lhe dava abrigo e apoio.

Por trás deste seu rotundo fracasso, sem ele querer, pode terminar sendo um vitorioso pelo lado negativo. As pessoas no World Trade Center foram as suas primeiras vítimas, trabalhadores que nada tinham a ver com a guerra que ele declarou, mas suas maiores vítimas ainda estão por aparecer.
Sem procurar por isso, ele conseguiu chamuscar ou mesmo reduzir as liberdades individuais que serviam como o símbolo dos Estados Unidos e justificavam até mesmo atos cometidos contra outras democracias, em nome de defendê-las. Depois de Bin Laden, os EUA sentem-se no direito e até com a necessidade de abandonar os direitos individuais para poderem se defender contra o terrorismo traiçoeiro. O novo comportamento dos EUA é lógico e até moralmente justificável, mas é a prova do fracasso da democracia para enfrentar o mundo do terror com poder das técnicas modernas, que derrubam torres e em breve explodirão bombas atômicas.

Como conseqüência, Bin Laden atingiu as esquerdas democráticas, que tentam vencer eleições pelo voto. O Mundo assustado que surgiu depois dele levará os governos do EUA e da Europa a interferirem diretamente nas eleições no resto do mundo. Depois do fim da guerra fria e até 11 de setembro do ano passado, os EUA poderiam olhar com desdém para as eleições latino-americanas. Ninguém ameaçava mais a segurança americana, garantida pelo fim da URSS. Os interesses econômicos estavam assegurados pela realidade da globalização. Isso mudou.

Os EUA vão interferir para evitar que qualquer país tenha governos que possam, minimamente, parecer suspeitos de simpatias com possíveis aliados de terroristas. Ainda mais países emergentes, com potencial de produzirem armas atômicas ou biológicas. As eleições democráticas voltarão provavelmente aos tempos da guerra fria, onde o poder americano interferia por todos os meios, inclusive com golpes militares, para impedir que assumissem aquele que pareciam minimamente ameaçar seus interesses. Antes eram interesses econômicos ou militares, agora é menor suspeita de não estar na luta contra todas as formas de ameaças de terror.

De la Rúa é o segundo nome do ano 2001, pelo menos para os latino-americano s. Ele também venceu com sua derrota. Ao sair destroçado por uma rebelião popular, fracassado por tentativas de fazer sobreviver sua economia, ele conseguiu, sem querer, mostrar o fracasso do neoliberalismo. Mas também mostrou a falta de alternativas. Todos os presidentes do neoliberalismo no continente, preferidos pelo FMI, terminaram denunciados por corrupção, presos, exilados ou impedidos de saírem de seus países: Collor, Menem, Salinas, Fujimori. Mas nenhum saiu demonstrando tão enfaticamente o fracasso de suas políticas e a falta de alternativas claras.

Como Bin Laden, De la Rúa foi vitorioso pelo próprio fracasso. Ele mostrou que o neolibelarismo acabou antes do surgimento de alguma alternativa nítida: não mais o neoliberalismo, mas também não mais o passado anterior a ele, e ainda não uma proposta de reorientação social. Depois de De la Rúa os governos vão continuar tentando: suspenderão o pagamento da dívidas, desvalorizarão o peso, implantarão medidas populistas, suspenderão privatizações, e nada vai mudar se não reorientarem os seus modelos sociais, mais do que seus rumos econômicos. E isso, eles não estão sabendo como fazer na Argentina.
Triste 2001, onde os vitoriosos são os fracassados.


Colunistas

DIARIO Político

Das amarras do PFL
Com o crescimento do PSDB de Sérgio Guerra, o PFL de Marco Maciel cada dia fica mais imprensado na aliança que elegeu Jarbas Vasconcelos governador e se prepara para repetir o feito na eleição de outubro. Principalmente depois que o governador criticou os grupos na política, que muita gente entendeu como um recado direto para os Mendonça e os macielistas, os dois maiores do Estado. É verdade que quando suas declarações foram publicadas nos jornais ele apressou-se em ligar para o vice, Mendonça Filho, dizendo que não havia se referido especificamente ao grupo liderado por Mendonção.

Uma explicação que não convence ninguém, claro, apesar de, aparentemente, tudo ter ficado esclarecido e nada mais se falou sobre o assunto. De qualquer forma, as interpretações são muitas e correm a cidade inteira. Uma delas, que está sendo bastante discutida entre os pefelistas, é bem interessante. Diz que ao condenar os que fazem política em grupo, Jarbas Vasconcelos estaria se preparando para se libertar das amarras do PFL para,através do PSDB, se reaproximar das forças mais à esquerda, como o PPS e o próprio PT.

Um caminho um tanto quanto tortuoso para reagrupar no PMDB seus antigos companheiros do MDB e, assim, formar um palanque de centro-esquerda. Onde, naturalmente, o PFL ficaria muito pouco à vontade. Uma interpretação mirabolante, é verdade, mas como em política tudo é possível, não custa nada ficar observando o que vai acontecer.

Raul Jungmann tem pressa. O pré-candidato do PMDB à Presidência da República se reúne, nesse domingo, com a equipe que vai elaborar seu programa de governo. Às 10h, no Recife Palace, Boa Viagem

Eleição

Ninguém deve se assustar se Roberto Freire (PPS-PE) disputar a reeleição na chapa de Jarbas Vasconcelos, ao lado de Marco Maciel (PFL-PE) que deve ser o candidato da outra vaga do Senado. Um bom exemplo para mostrar que, em política, o impossível realmente acontece.

Indenização

Sílvio Pessoa diz que a Procuradoria Geral reconhece a importância política e histórica do Padre Henrique, mas se manifesta contrária ao pagamento da indenização pelo Estado porque a família já recebeu R$ 110 mil da União. E a lei proíbe a duplicidade de pagamento quando o fato é o mesmo.

Hábito

Mendonça Filho assumiu o Governo do Estado, nas férias de Jarbas Vasconcelos, mas não perdeu o hábito de almoçar no Shopping Center Tacaruna. Quinta-feira ele estava lá com alguns secretários e foi bastante cumprimentado pelos freqüentadores da Praça de Alimentação.

Candidata 1

O programa do PFL que será veiculado nacionalmente na TV, dia 31, mais uma vez só terá Roseana Sarney (PFL-MA). Mas apesar de manter o mesmo formato dos anteriores, o conteúdo será diferente, pois os marqueteiros acham que chegou a hora de começar a mostrar o que ela já fez.

Candidata 2

Assim, em vez de a pré-candidata encarnar a Roseana mulher, mãe ou avó, o programa vai mostrar o trabalho que ela vem realizando no Maranhão, tudo muito bem produzido, com a dose certa de emoção que é pra manter e empatia entre a pré-candidata e os telespectadores.

Tempo

A inconstância do desempenho de Luís Inácio Lula da Silva (PT) está deixando o PPS animado com um possível fortalecimento de Ciro Gomes: "Está melhor do que imaginávamos", diz o senador, preocupado com o pouco tempo que o partido terá no guia eleitoral - apenas dois minutos.

Campanha

José Serra vem a Pernambuco dia 28. Como ainda será ministro da Saúde, o pré-candidato tucano a presidente, certamente, não falará de política. Talvez de remédios. Isso se ninguém irritá-lo questionando os preços dos genéricos.

Fernando Bezerra Coelho, do PPS, se encontra com o governador em exercício, Mendonça Filho, segunda-feira, às 10h, no Palácio do Campo das Princesas. O prefeito de Petrolina assinará com o Governo do Estado autorização para instalação de uma temelétrica no município.


Editorial

Setor elétrico

As 18 medidas divulgadas para o setor elétrico põem ponto final num modelo esgotado e esboçam as linhas do novo a ser aplicado. O antigo, que vigorou por quase meio século, baseava-se no controle estatal da geração e comercialização de eletricidade. A crise fiscal por que passou o país, aliada à má avaliação da extensão da demanda, contribuiu para que não houvesse investimento no setor.
Em meados dos anos 90, o governo abriu o mercado à iniciativa privada. Privatizou, sobretudo a distribuição. Esperava que os novos empresários aportassem recursos e diversificassem a matriz energética, centrada quase totalmente em fontes hídricas. Não deu certo. O resultado é de todos conhecido. Em meados do ano passado, chegou a notícia do colapso. A seca no Nordeste e no Sudeste esvaziou os reservatórios. A abundância de água de outras regiões de nada adiantou. Faltavam linhas de transmissão. A Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, criada para administrar o quase caos, agiu com competência. A patriótica colaboração da população, somada à política de tarifas elevadas, conseguiu evitar os apagões.

Mas os prejuízos não se fizeram esperar. Empresas fecharam as portas, perderam-se postos de trabalho e adiaram-se investimentos, sempre feitos com olhos no futuro. A indústria, que engatara a marcha depois de longa recessão, teve de pisar no freio. O produto interno bruto (PIB), previsto para crescer 4%, fechou o ano nos vegetativos 2,1%.
Agora, o governo anuncia novo modelo. À primeira vista, as 18 medidas acenam mudanças consistentes. Entre elas, recomposição do planejamento estratégico; responsabilidade quase total do poder público pela geração de energia e formação dos preços; correção nos chamados subsídios cruzados; manutenção da energia térmica como reserva por causa do seu preço elevado (caso haja necessidade de recorrer a ela, o combustível receberá subsídio). Por enquanto, é uma lista de boas intenções. Os itens arrolados põem o dedo na ferida.

Mas falta a parte mais importante. É imprescindível definir a política nacional de energia, que estabeleça parâmetros para a ação do Poder Executivo, dos órgãos reguladores e das empresas participantes do mercado (públicas e privadas).
Sem a implementação competente das medidas preconizadas, a oferta de energia elétrica continuará limitando o crescimento econômico. Além disso, o país continuará correndo risco de novo racionamento nos próximos anos. É perspectiva que a ninguém interessa.


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01/13/2002


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