Painéis de grafite revigoram muros da CPTM
Idéia surgiu da necessidade de combater o vandalismo e a depredação nas estações ferroviárias
Quem passa pela Rua Guaicurus, em frente ao Mercado da Lapa – entre as estações ferroviárias da Lapa A e B – não deixa de notar, ao longo dos 600 metros de extensão do muro da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), os painéis de grafite pintados no dia 28 de outubro. Durante todo o dia, 86 artistas de diversos países deixaram lá suas assinaturas, transformando a rua num estúdio ao ar livre. Com o apoio da CPTM, da subprefeitura da Lapa e da empresa alemã de tintas Montana-Cans, o evento foi a versão nacional do projeto Just Writing my Name, que percorreu Londres, Pequim, Nova York, Moscou e a cidade de Oslo, na Noruega.
De acordo com José Alcalay, assessor da presidência da CPTM, a idéia de humanizar os espaços públicos e transformá-los em galerias de arte moderna surgiu da necessidade de combater o vandalismo e a depredação nas estações de trem. “É muito mais eficiente colocar um integrante da comunidade para falar sobre a importância de conservar o patrimônio público, por exemplo, do que uma autoridade ter de fazê-lo”. A resposta, segundo ele, é imediata.
Todas as manhãs, Adilson Fernando Souza, 25 anos, trabalha na banca de jornais ao lado da estação, quase em frente ao mercado e observa o movimento dos pedestres a caminho do trabalho. “Depois que o muro foi grafitado, os passageiros dos ônibus ficam invariavelmente torcendo o pescoço para observar as imagens”. Por aquele trecho da Guaicurus, transitam ônibus das linhas Cohab – Raposo Tavares, Sol Nascente, Lapa e Morro Grande.
Canal de comunicação
Esta não é a primeira vez que a CPTM investe nessa forma de inclusão social e de reaproximação do jovem com a comunidade. Em 2001, o departamento de comunicação e marketing da empresa idealizou o Projeto Grafite, por meio do qual oferece espaço para a manifestação artística, dando apoio e buscando parcerias para o fornecimento de tintas e instrução sobre as técnicas de pintura.
Toda última quinta-feira de cada mês, a CPTM promove o Fala aí, Comunidade – evento que promove para o público atividades culturais e artísticas. O intuito é estabelecer contato entre a comunidade e a companhia, abrindo espaço para novos artistas. Reúne apresentações de grafiteiros, bandas de rap, hip-hop, música popular, mostra de vídeos comunitários, sempre no Espaço Cultural da CPTM, na estação Brás.
Alcalay destaca que de 2001 para cá as ocorrências de vandalismo nas estações de trem diminuíram 46%.
Grafite
Para o grafiteiro e artista plástico Ise, curador do “Just Writing my Name” em São Paulo, o grafite é um elemento muito forte na arte contemporânea, presente nas ruas, na música e até na moda. A arte brasileira, segundo ele, tem adquirido prestígio no cenário mundial por ainda manter-se pura e por buscar inspiração em suas próprias influências. “Enquanto no resto do mundo os artistas utilizam basicamente a tinta em spray, no Brasil usa-se também o látex, produto tipicamente nacional”.
Ise acredita que o momento vivido pelo grafite no País é o mesmo que possivelmente os Estados Unidos vivenciaram nos anos 80. Naquela época, muitos grafiteiros europeus e norte-americanos – que desenvolviam sua arte em espaços alternativos, como muros e estações de Metrô – conseguiram levar suas obras além das fronteiras de seus países. Jean- Michel Basquiat e Keith Haring são apenas dois exemplos famosos desse movimento.
Roseane Barreiros
Da Agência Imprensa Oficial
(I.P.)
11/21/2007
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