Parceria da Unicamp com indústria resulta no primeiro radar brasileiro
Pesquisadores da Unicamp desenvolveram a antena do Saber M60
Grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) participou do desenvolvimento do primeiro radar genuinamente nacional, o Saber M60. O equipamento, projetado para proteger o espaço aéreo em um raio de 60 quilômetros e altitude de até 5 mil metros, foi testado nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e está sendo usado pelo Exército brasileiro.
Os pesquisadores que desenvolveram a antena, dispositivo complexo e fundamental do radar, constituem o grupo do professor Hugo Enrique Hernández Figueroa, do Departamento de Microondas e Óptica (DMO) da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp.
O Saber M60 é apenas o primeiro de uma família de radares nacionais. O Exército, parceiro e interessado principal no projeto, busca aumentar a sua capacidade operacional, por isso encomendou estudos e pesquisas para um novo equipamento com 200 quilômetros de alcance. A empresa fabricante, a Orbisat da Amazônia, também tem planos de produzir radares mais específicos para o controle de tráfego aéreo, com raio de ação de 450 quilômetros e altitude de até 14 mil metros.
“É difícil estabelecer parcerias entre o meio acadêmico e a indústria, mas esta tem sido bastante interessante e produtiva para ambas as partes”, avalia Hugo Figueroa. O professor credita boa parte do sucesso do projeto à formação intelectual dos dirigentes da Orbisat, os quais possuem doutorado e já estão habituados ao ritmo e aos entraves da pesquisa acadêmica.
A Orbisat tem sede em Manaus e dois centros de pesquisa e desenvolvimento: o de radares em Campinas e o de engenharia de eletrônica de consumo em São José dos Campos. “No final de 2005, diante da possibilidade deste contrato com o Exército, procurei o professor Hugo, que havia orientado um funcionário nosso no mestrado, para desenvolver a antena”, afirma o engenheiro eletrônico João Roberto Moreira Neto, sócio-diretor da empresa.Mercado promissor – O engenheiro considera um marco o desenvolvimento de um sistema totalmente brasileiro, já que apenas oito países detêm a tecnologia de radares. “O mercado no Brasil é promissor. O Exército necessita de 40 unidades do Saber M60 e, considerando as demandas da Marinha e da Aeronáutica, a quantidade pode dobrar”, prevê.
João Moreira revela que o preço deste primeiro radar é de aproximadamente R$ 3 milhões. O convênio com o DMO implica quase R$ 200 mil por ano. “Há outro grupo da FEEC, liderado pelos professores Rafael Santos Mendes e João Bosco do Val, responsável pelos projetos de rastreamento. Isso tornou a parceria economicamente viável, pois não tivemos de investir em laboratórios. A Unicamp foi um agente catalisador do projeto”, explica.
Uma das aplicações do Saber M60 está na proteção do espaço aéreo de baixa altitude, que é mal controlado no País. Os grandes radares monitoram o tráfego de aeronaves apenas acima dos 5 mil metros. Assim como foi utilizado no Pan do Rio, o radar pode auxiliar na proteção de chefes de Estado ou em qualquer grande evento que exija medidas adicionais de segurança. A segunda aplicação está na vigilância das fronteiras.Formação – Figueroa comemora o bom retorno da parceria para a formação de recursos humanos: “Ao trabalhar sob pressão para o cumprimento de prazos, os alunos passam a entender como funciona a empresa. E a Orbisat, dirigida por quem já fez pesquisa acadêmica, teve muita tolerância, interpretando nossas dificuldades iniciais como uma situação temporária. Outra empresa, provavelmente, teria desfeito o contrato”.
De acordo com o docente, os problemas foram superados e o projeto progrediu de forma exponencial. “A tolerância valeu a pena, pois passamos inclusive a inovar. Melhoramos o desempenho dessas antenas e chegamos a novos modelos. Tanto que já existe uma patente e vamos depositar outra”.
Professor aposta em empresas nacionais
O grupo de pesquisa do professor Hugo Figueroa é um dos maiores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), com mais de 20 alunos de pós-graduação. Doze deles participam no projeto da Orbisat e alguns foram ou serão contratados pela empresa. “Temos outros projetos com a iniciativa privada e também nos associamos a um centro de excelência em pesquisa com aplicações em fotônica, o CePOF, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)”, diz Figueroa.
O docente considera que a formação de recursos humanos precisa estar fortemente vinculada à indústria e, nos últimos anos, empenha-se em estabelecer parcerias com empresas nacionais. “Essas empresas, quando buscam a universidade, estão realmente interessadas na inovação, que para elas é uma questão de sobrevivência. As multinacionais, que mantêm seus centros de pesquisa e desenvolvimento distantes, não dependem do resultado dos investimentos em tecnologia que fazem aqui”, compara.
Do Jornal da Unicamp
05/31/2008
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