Pesquisadores da USP utilizam lipase e etanol na produção de biodiesel
Eles usam etanol da cana, ingrediente renovável, mais a lipase, enzima que age na função do catalisador
O crescimento esperado da demanda de biodiesel no mercado nacional para os próximos anos passa por uma evolução no sistema de produção de forma a torná-lo mais eficiente e ambientalmente favorável. Entre os atuais entraves industriais estão o uso do metanol, um produto tóxico derivado do gás natural que ainda não tem similar comercial produzido de biomassa. Outro problema está em deficiências no processo de transesterificação, para transformar o óleo vegetal em biodiesel, que resultam em resíduos não aproveitáveis e de baixa qualidade no produto final, independentemente do grão oleaginoso utilizado. Um caminho para a evolução desse sistema está nos estudos realizados por pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da Universidade de São Paulo (USP). Eles trazem novas contribuições para a transformação do óleo vegetal em combustível. Em vez do metanol, eles usaram etanol da cana-de-açúcar, um ingrediente renovável, mais a lipase, uma enzima que age na função do catalisador da reação, quebrando e transformando as moléculas do óleo em biodiesel e glicerina.
Para funcionar bem nos motores, o óleo vegetal precisa passar por uma reação química alcoólica, a transesterificação, que resulta, como subproduto, na glicerina, substância usada na indústria química. O que os pesquisadores fizeram foi mudar os ingredientes desse processo sem alterar a essência dos produtos finais, o biodiesel e a glicerina, e conferindo-lhes maior qualidade. A enzima usada pelos pesquisadores da USP está presente naturalmente no pâncreas e no intestino humano, onde atua no processo da digestão de alimentos gordurosos. Mas ela também é produzida por fungos, leveduras e bactérias, o que viabiliza o uso industrial da lipase a partir do cultivo desses microorganismos em substratos apropriados. Ela é usada em diferentes campos industriais como farmacêutico, química fina, cosméticos, oleoquímica, couros, polpa de celulose e papel e no tratamento de resíduos de fábricas. Na indústria alimentícia, por exemplo, ela pode ser usada na produção de margarinas e cremes vegetais isentos da chamada gordura trans, substância que provoca uma série de problemas à saúde, incluindo o aumento na quantidade de LDL, o colesterol ruim, e a redução na quantidade de HDL, o colesterol bom.
No caso do biodiesel, o uso do etanol e da lipase é uma relação atrativa ambientalmente, porque, além de utilizar um reagente e um catalisador renováveis, ela diminui os resíduos de todo o processo”, diz a professora Heizir Ferreira de Castro, coordenadora dos estudos. Ela trabalha há cerca de 15 anos com a chamada química verde em processos que minimizam o impacto ambiental de processos industriais químicos. “Nosso grupo trabalha principalmente com biocatálise em meios não convencionais, em estudos relacionados à aplicação de enzimas para o desenvolvimento de novas rotas de processos para obtenção de produtos inovadores ou já existentes a custos mais competitivos”, diz Heizir. Os trabalhos com biodiesel começaram em 2003 quando essa unidade da USP na cidade de Lorena era autônoma e pública, chamada de Faculdade de Engenharia Química de Lorena (Faenquil). Os resultados apontam para uma rota alternativa às técnicas atuais no sentido de prover a produção de biodiesel de procedimentos que tragam menos danos ao ambiente, com tecnologia limpa.
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