Pesquisadores debatem conservação da ave Mutum-de-Alagoas
Pesquisadores de todo o País estiveram reunidos na ACADEBio nos dias 02 e 04 de outubro, com o objetivo de realizar a monitoria e avaliação final do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação do Mutum-de-Alagoas (Pauxi mitu), ave encontrada originalmente na Mata Atlântica brasileira.
Por mais de 300 anos, o mutum-de-alagoas era confundido e até considerado como sendo o mutum-cavalo (Pauxi tuberosa) ou até mesmo uma subespécie. Somente em 1951, foi reconhecido como uma nova espécie, sendo protagonista de uma história marcada por perseguições, caças e perda de habitat, com a devastação da Mata Atlântica do Nordeste, que abriu espaço para plantação de cana-de-açúcar. Apenas três indivíduos do mutum-de-alagoas sobreviveram, sendo um macho e duas fêmeas, em cativeiro, resgatados da natureza pelo criador de aves Pedro Nardelli, constituindo-se em um dos mais severos gargalos populacionais conhecidos no mundo. Desde então, a população aumentou graças ao empenho de mantenedores que se dedicam a reprodução destas aves (Fundação Crax, Criadouro Científico Poços de Caldas).
Um programa de monitoramento genético, capitaneado pela UFSCar, foi iniciado, visando identificar indivíduos geneticamente puros e com os menores níveis de similaridade genética para reprodução, assistido por um rigoroso controle sanitário realizado pelo setor de doença das aves da Escola de Medicina Veterinária da UFMG para prevenção de doenças. Estudos revelaram que da população existente em 2008 (121 indivíduos), 54 eram geneticamente puros.
Com isso, os melhores pareamentos foram recomendados na tentativa de obter maior sucesso reprodutivo. Os resultados foram surpreendentes. De uma população de 121 animais vivos (55 puros e 65 híbridos) em 2011, houve um salto para 186 em 2012, com um aumento de 55% numa única temporada. O próximo passo será distribuir esses animais para criadouros que irão participar do Programa de Cativeiro: CESP, Paraíso das Aves, Tropicus, Onça Pintada.
Com resultados animadores e para garantir a sobrevivência da espécie, está em andamento um trabalho desenvolvido pelo Instituto para Preservação da Mata Atlântica – IPMA, USP e Ministério Público de Alagoas para seleção e proteção das potenciais áreas para reintrodução da espécie no estado. O setor sucroalcooleiro, responsável pela maioria dos mais representativos remanescentes de mata nativa está motivado e colabora com o projeto "Vamos trazer esse alagoano de volta".
Antonio Eduardo Barbosa, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio) e coordenador do PAN explica que a constante degradação e a caça levaram à extinção da espécie na natureza. "O mutum-do-nordeste é uma espécie que só existe em cativeiro. O PAN tem seu encerramento previsto para dezembro deste ano, mas as ações não realizadas serão incorporadas dentro do PAN das Aves Ameaçadas da Mata Atlântica do Nordeste", destacou. Também foi pauta de discussão a consolidação do programa de cativeiro, que tem como objetivo ampliar a população, visando à reintrodução da espécie na sua área de distribuição original até 2016.
Entre os participantes da reunião estava o ator Victor Fasano, que há 30 anos possui o Criadouro Tropicus, de animais em extinção, o qual abriga principalmente a jacutinga, a harpia e algumas espécies de cracídeos, entre eles o mutum. Victor comenta que o trabalho com espécies em risco de extinção é imprescindível e que, se não fosse a preocupação e a criação em cativeiro de algumas espécies ameaçadas, elas já estariam extintas. "O mais importante é que o Estado dê o apoio que os criadores precisam, porque, muitas vezes eles realizam o trabalho sozinhos e sem nenhum tipo de recurso. O mutum-de-alagoas é um caso atípico, onde os criadores são amigos e a parte científica, o Estado e a educação ambiental funcionam como um todo. Este é um projeto que deveria ser copiado para todos os planos de manejo de outras espécies", afirma o ator.
Victor também frisou que a sociedade precisa entender a importância da conservação. "É preciso investir muito em educação, para que as pessoas entendam a importância das áreas preservadas. Não adianta a pessoa cuidar da espécie em cativeiro sem ter como devolver essa espécie para o hábitat natural".
Fonte:
Instituto de Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
16/10/2013 18:10
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